Ora bem, eis uma boa pergunta.
A resposta? A mais natural seria: as leis do mercado, como a procura e a oferta. Demasiado natural, não acham? Pois.
A resposta correcta chega da Deutsche Bank, o simpático banco alemão: quem decide o preço do ouro é um cartel, composto por bancos internacionais que deliberadamente manipulam o preço dos metais preciosos para obter vantagens económicos nas negociações.
Admitimos: não dá para ficar muito surpreendidos, não é?
Mas esta não é novidade nenhuma. Em 12 de Setembro de 1919, às 11:00 horas, cinco comerciantes de ouro (NM Rothschild & Sons, Mocatta & Goldsmid, Pixley & Abell, Samuel Montagu & Co. e Sharps Wilkins) realizaram a primeira fixação do preço do ouro em Londres e a prática manteve-se ao longo das décadas. Em Abril de 2004, a NM Rothschild & Sons anunciou que planeava retirar-se do grupo e a Barclays tomou o seu lugar, em Junho de 2004.
Pelo que, o facto do preço ser estabelecido por bancos privados era algo já conhecido e aceite. O problema surge na altura em que reflectimos: o preço dum bem é fixado por parte de quem lucra com a negociação do mesmo bem (e já esta seria uma anormalidade), mas quem controla os negociadores?
Em Junho de 2012 houve um incidente que envolveu um funcionário da Barclays (tinha manipulado o preço do ouro evitar que um produto derivativo anteriormente vendido a um cliente desse prejuízos). Mas agora o cenário é bem mais abrangente: os bancos teriam abusado da posição privilegiada, controlando o preço do ouro e da prata para obter um lucro ilegítimo da negociação e prejudicando os outros investidores.
Agora será interessante observar os acontecimentos das próximas semanas e meses, porque são possíveis variações do preço do ouro suba com repercussões sobre os mercados. Mas este é o futuro, para já espreitamos o presente.
No passado dia 15 de Abril, num julgamento que teve lugar no tribunal distrital de New York, a Deutsche Bank afirmou que tinha conseguido um acordo extra-judicial com um grupo de investidores. Este acordo é o que interessa, porque:
- o banco alemão admitiu ser parte dum cartel que manipula o preço de ouro e prata para obter lucros ilegítimos;
- porque Deutsche Bank também irá colaborar em processos semelhantes contra outros grandes bancos;
- porque sempre a Deutsche Bank irá fazer os nomes dos outros "manipuladores".
A Commodity Futures Trading Commission (CFTC), órgão do governo norte-americano que tem o mandato do Congresso para regulamentar bancos e negociação sobre os derivativos, começou as suas investigações em 2008. Após cinco anos, em 2013, a CFTC abandonou o caso: estava tudo bem. O presidente da CFTC na altura era Gary Gensler, por mero acaso ex-sócio da Goldman Sachs e, sempre por mero acaso, hoje responsável pelo financiamento da campanha presidencial de Hillary Clinton.
Como funciona a manipulação dos metais preciosos? Muito simples: o preço, como visto, é fixado por um grupo de bancos que diariamente reúnem-se em Londres, numa sala especial do banco Barclays, sob os auspícios dos membros da London Bullion Market Association (o mercado de ouro e prata na capital inglesa).
Os bancos que decidem o valor são: Barclays, Bank of China, Goldman Sachs, HSBC Bank USA, JPMorgan Chase, Morgan Stanley, Société Générale, Standard Chartered, Scotiabank, Toronto-Dominion Bank, e UBS.
Destes, os seguintes são investigados para manipular de forma ilegítima o valor do ouro:
- Barclays Bank
- Bank of Nova Scotia
- Deutsche Bank AG London
- HSBC Bank EUA
- Societe Generale
Desde quando funciona a "manipulação" na sala especial do Barclays? É cedo para responder, mas numa class-action lançada por investidores canadianos na Alta Corte de Justiça de Ontário é alegado que os bancos conspiraram para manipular os preços durante pelo menos os últimos quinze anos.
É prematuro também fazer previsões acerca das consequências que tudo isso terá no mercado. Mas para já podemos realçar o seguinte: o caso aparece mesmo na altura em que a China tenta criar um mercado do ouro em Xangai para substituir aqueles de Londres e de New York.
Outro mero acaso, sem dúvida.
Ipse dixit.
Fontes: Bloomberg, Sputnik, The London News,