A dúvida existe mas a resposta parece ser: não de forma directa.
O que começou como uma estratégia para pôr em dificuldades alguns Países (Rússia em primeiro lugar) não tem a capacidade tornar-se algo parecido com a crise que despoletou a crise global em 2008.
Não de forma directa, como afirmado. Ao comparar as "bolhas" (aquela dos subprimes de 2008 e aquela do petróleo hoje) é possível observar como a primeira fosse 5 vezes maior.
No geral, os economistas pró-establishment baseiam-se nisso para negar o perigo; todavia, outros analistas indicam a existência de diferentes elementos que podem contribuir para um quadro de potencial contágio:
- as perdas dos produtores de petróleo;
- as perdas dos bancos expostos perante o mercado de petróleo, muito endividado;
- as perdas no mercado dos derivativos da energia, o que equivale a 4.000 mil milhões de Dólares;
- as perdas sobre os Credit Default Swaps (CDS) contra o risco de insolvência do mercado da energia;
- a circulação de "produtos estruturados" que contêm estes CDS.
Mas há também a vertente económica. A primeira "vaga" já está a afectar os produtores norte-americanos que exploram o xisto e que precisam de um preço do barril (Brent) entre 80 e 120 Dólares para pagar as dívidas. Com um preço menor, a extracção deles não compensa e actualmente o barril fica abaixo dos 60 Dólares. Bem longe do valor mínimo que seria preciso.
Caso a guerra do petróleo não acabar, a indústria petrolífera irá recolher menos do que 400 biliões em receitas. Muito, sem dúvida, mas sempre menos do que a dívida que atinge um total de 1.600 biliões de Dólares.
Depois, como vimos, há o sector especulativo (financeiro), cujo derivativos apresentam uma exposição de 20.000 biliões. Muito, muito dinheiro: e é aqui que se joga o futuro da crise.
O analista Peter Lewis advertiu, numa carta ao Financial Times do passado dia 18 de Dezembro, que os actuais preços do petróleo podem provocar uma vaga de insolvência que atingiria um terço dos que têm dívidas com os bancos, com uma perda de 135 mil milhões de Dólares pelos bancos que venderam CDS.
135 biliões são um gota no meio do oceano dos derivativos; mas é bom lembrar que a americana AIG (seguros) afundou em 2007 por causa de onze biliões de perdas em CDS sobre títulos imobiliários subprimes, e teve de ser salva com 85 biliões da Federal Reserve e outros 150 biliões do governo.
Mas não é tudo: há também outros produtos, os tais "produtos estruturados", títulos que contêm entre outros também vários CDS, incluindo aqueles sobre a energia.
Além disso, Lewis adverte:
O aumento da volatilidade dos derivativos sobre as commodities geralmente é transmitida a outras classes de valores mobiliários e provoca perdas nos derivativos sobre as taxas de juros (em que os bancos americanos estão expostos em 192 mil biliões de Dólares) e sobre os câmbios (31 mil biliões). As perdas num segmento de mercado podem tornar-se contagiosas por causa dos emaranhados financeiros.
Provavelmente a resposta para ambas a perguntas é "não": difícil pensar que os analistas perto do governo não tenham previsto por tempo as eventuais implicações. Difícil, portanto, que não haja um "Plano B" em caso de dificuldades.
Entretanto, eis uma notícia para quem vive nos Estados Unidos: a revogação da emenda à Lei Dodd-Frank Lincoln assegurou que agora os produtos derivativos serão protegidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos (FDIC). Isto significa que as perdas registada pelos derivativos da energia serão pagas pelos contribuintes.
Assim, tanto para começar bem o novo ano.
Ipse dixit.
Fontes: Peter Lewis, Movisol