Teherão |
O Irão é realmente nosso inimigo? Alguém ouviu ameaças de Teherão? Alguém viu Países invadidos ou bombardeados pelas forças iranianas? Drones ou mísseis dos ayatollah? Nada? Pois. E ao reler a história das últimas décadas encontramos algo surpreendente.
- Em 22 de Setembro de 1980, o Iraque de Saddam Hussein atacou o Irão do Imam Khomeini, um ano depois do Xá Reza Pahlevi ter sido abatido pela revolução. Todos achavam que o Irão, enfraquecido e sem o "guarda-chuva" americano, teria entrado em colapso com facilidade. Saddam Hussein foi apoiado pelas monarquias do Golfo e pelas armas americanas: em oito anos de guerra foram gastos entre 50 e 60 bilhões de Dólares para vencer um conflito que, na verdade, não alterou dum milímetro as fronteiras entre os dois Países. E pensar que o Iraque tinha do seu lado não apenas o Ocidente compacto mas até a União Soviética.
- Em 2001, após os ataques de 11 de Setembro e Al Qaeda, a guerra no Afeganistão tocou as fronteiras orientais do Irão: EUA e respectivos aliados estavam decididos a abater o regime talibã, que sempre foi hostil ao Irão.
- Em 2003, com o assassinato de Saddam Hussein, os EUA entregaram o Iraque à influência xiita, tal como era amplamente previsível antes do conflito.
- Na Síria, a guerra iniciada em 2011 contra Assad não apenas não enfraqueceu Teherão como abriu às portas para a intervenção da Rússia, agora aliada do Irão.
- Juntamos o Isis, nascido em 2014 e derrotado em 2017 pelos Pasdaran iranianos conduzidos por Qassem Soleimani, e a guerra começada em 2015 no Yemen, onde três anos de bombardeios sauditas foram incapazes de dobrar a resistência xiita.
Por qual razão tanto ódio contra a antiga Pérsia? Existem várias razões.
- o Irão é um País xiita, movimento religioso naturalmente adversário do Islão sunita que governa a Arábia Saudita e profundamente adverso ao regime israelita.
- o País é uma ponte natural entre Ocidente e Oriente, sem esquecer que a Rússia fica muito perto.
- o Irão é rico em gás, que mais cedo ou mais tarde irá substituir o papel do petróleo (do qual o País é também rico) nas commodities.
- não último, o Banco Central de Teherão é um dos poucos ainda realmente independentes. E isso enerva não poucos.
O Irão assusta porque é um País independente, que nunca se curvou às diretrizes ocidentais, com um regime muito questionável, sem dúvida nenhuma, mas capaz de preservar a autonomia de uma nação com 2500 anos de história.
A sua influência linguística e histórica é muito ampla e do coração do Médio Oriente alcança a Ásia Central: os iranianos são uma cultura, não apenas um regime e o Irão é uma nação, tais como aquelas que no Ocidente estão a ser desmanteladas. É também isso que o Ocidente e os seus aliados temem: o Irão representa de certa forma um baluarte, um pedaço de história que resiste à grande homologação. Submetê-lo é uma questão de princípio que nada tem a ver com a justiça ou com o respeito dos direitos civis.
De facto, somos muito mais tolerantes com os sauditas que no passado reabriram os cinemas e ao mesmo tempo executaram cerca de cinquenta pessoas. Protestos? Quase nada. Sem mencionar israel, que há décadas viola todas as resoluções da ONU com o apoio de Washington e os aplausos do Ocidente.
A questão nuclear? Índia e Paquistão possuem bombas atómicas e nem aderem ao Tratado de não proliferação de armas nucleares. Sem mencionar (outra vez) israel, que nem reconhece o facto de ter tais armas. O Presidente Trump:
Estados Unidos e israel podem declarar a uma voz que o Irão nunca, jamais, jamais poderá ter uma arma nuclear.
Ipse dixit.
Fontes: Tiscali, Il Fatto Quotidiano.