Resposta: simples, pede um empréstimo a uma das ONG's especializadas em lucrar com as desgraçadas alheias.
Num País de emigrantes miseráveis (no sentido que nem o dinheiro para sobreviver têm), o "empréstimo de migração" representa um negócio que acontece em plena luz do dia, com ONG's tipo a BRAC: pessoas que são consideradas às margens do desenvolvimento, ficam totalmente integradas no sistema destes serviços financeiros.
Vamos ver mais de perto este exemplo, a BRAC, lembrando de que é apenas uma (provavelmente a mais popular) das ONG's que lucram com o azar das pessoas.
BRAC!
BRAC tem feito o que poucos outros fizeram.
Conseguiram alcançar sucesso em grande escala,
trazendo programas de saúde salva-vidas
para os milhões dos mais pobres do mundo.
Bill Gates
Originária do Bangladesh, hoje opera não só na Ásia mas também na África, onde, obviamente, faz um óptimo trabalho considerada a vaga de africanos que conseguem chegar até as costas da Líbia e daí à Europa.
Obviamente, a BRAC é uma organização não-governamental que ostenta fins humanitários: na prática, antes das ONG's que transportam os migrantes pelo Mediterrâneo, há a BRAC que fornece o dinheiro para chegar até à beira daquele mar.
Quem é a BRAC?
Na verdade, o pessoal que gere a organização não passa duma série de piões envolvidos num enorme negócio lucrativo, mas mesmo assim é interessante observar donde provêm.
- Faruque Ahmed, Director Executivo da BRAC International: licenciado na Johns Hopkins University (Maryland, EUA), operativo senior do Banco Mundial.
- SN Kairy, Chefe do Departamento Financeiro: Chief Financial Officer, é também Director de BRAC Bank Limited, BRAC EPL Investment Limited, BRAC EPL Stock Brokerage Limited, BRAC Tea Company Limited, BRAC Services Limited e BRAC Industries Limited. Tanto para perceber qual o tamanho desta organização.
- Asif Saleh, Director Senior de Estratégia e Comunicação: ex director da Goldman Sachs, trabalhou também na GlaxoWellcome, NorTel e IBM. Eleito Jovem Líder Global pelo World Economic Forum em 2013.
- Tamara Hasan Abed, Director Senior, sector para as empresas: ex Goldman Sachs de New York, formada na London School of Economics, com master na Columbia Business School (EUA), eleita Jovem Líder Global pelo World Economic Forum em 2010.
Digam a verdade: esperavam encontrar pobres desgraçados que, uma vez unidos e com muitos esforços, conseguiram construir algo em prol dos seus concidadãos? Nada disso: estes são profissionais do sector, indivíduos habituados a manusear dinheiro, a fazê-lo render. E a ganhar bem.
Donde chega o dinheiro do BRAC? Eis uma lista parcial dos benfeitores:
- União Europeia
- Bill e Melinda Gates Foundation (óbvio...)
- AusAID: agência do governo australiano para o desenvolvimento internacional
- UkAID: agência do governo britânico para o desenvolvimento internacional
- Governo do Canada
- Unicef
- International Labour Organization (ILO): agência da ONU
- International Food Policy Research Institute: Banco Mundial, Multinacionais para os Organismos Geneticamente Modificados, governos ocidentais
- The Global Fund: Bill e Melissa Gates Foundation, AXA, Bono dos U2, Bill Clinton, Ban Ki-Moon, Tony Blair, Jeffrey Sachs, etc.
- FHI 360: Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido, Bill e Melinda Gates Foundation, Global Fund
- Columbia University (New York, EUA)
- The George Washington University (Washington, EUA)
- Aberdeen University (Reino Unido)
- Centro Internacional de la Papa, parte do projecto CGIAR: Rockefeller, governos (USA, Canada, Reino Unido, Alemanha), Ford Foundation, ONU, Banco Mundial, Comissão Europeia, OPEC... falta alguém? Ah, sim: Bill e Melinda Foundation.
O caso da Europa é paradigmático: enquanto a União Europeia enfrenta o problema da imigração (obviamente com o dinheiro dos contribuintes europeus), do outro lado financia estas empresas financeiras que enviam mais emigrantes e lucram com isso. Palavras para quê?
Tudo isso permite que a BRAC possa ter concedido mais de 195 milhões de Dólares de empréstimos (microcrédito) só em 2015.
Os biliões de Dólares em microcréditos
que a BRAC concede a cada ano a milhões de pessoas pobres
é só o início da história desta notável organização.
George Soros
O microcrédito da BRAC não é um serviço financeiro para aqueles que querem migrar, mas é um verdadeiro impulso à migração: um daqueles negócios "pobres" em que estão envolvidas grandes corporações financeiras, governos, instituições internacionais. Porque no Capitalismo nada se deita fora e tudo poder ser aproveitados, pobreza incluída. Aliás: quanta mais pobreza houver, melhor será porque enquanto um cidadão ocidental deve ter convencido com publicidade ou telemarketing, os famintos esperam só que alguém reparem neles.
É também um negócio financeiro de baixo risco, uma vez que consiste de milhões de pequenos empréstimos; mesmo em casos de insolvência, a perda é mínima. Em caso de sucesso, pelo contrário, chegam os lucros. Porque não podemos esquecer que a BRAC não fornece doações mas verdadeiros empréstimos: que devem ser reembolsados.
E aqui aparecem os problemas: o migrante gastou boa parte do dinheiro na viagem, finalmente vê as costas da Europa...e agora? Agora tem que arranjar um emprego para, no mínimo, sobreviver e reembolsar a dívida.
O círculo da dívida
Em 2013 (por isso bem antes da actual vaga migratória) o Fórum Internacional e Europeu de Pesquisa sobre a Imigração (FIERI) conduziu uma investigação focada na questão do endividamento dos imigrantes, concentrando-se na comunidade filipina da Itália (portanto: nem a mais desgraçada das comunidades), descobrindo que a situação é dramática: depois de ter contraído a dívida para emigrar, os imigrantes continuam a pedir dinheiro emprestado para cobrir as dívidas anteriores e para manter a família que ficou no País de origem.
A BRAC afirma que no prazo de dois anos o crédito pode ser reembolsado: isso partindo do princípio que o imigrante arranje um trabalho que lhe forneça dinheiro suficiente para manter-se e reembolsar as prestações da dívida. Mas se for um trabalho mal pago ou precário? Não há crise (por assim dizer): há sempre o passo seguinte.
O passo seguinte consiste em encontrar mais dinheiro: mas quem pode conceder um novo empréstimo a um emigrante, que pode oferecer bem poucas garantias?
A primeira escolha é a BRAC, que assim reza:
Temos opções de "reescalonamento" e "refinanciamento" que oferecem flexibilidade para os devedores que pretendem reembolsar empréstimos mas não conseguem devido a circunstâncias inevitáveis.
Mas há outras soluções. Voltemos ao estudo da FIERI: na sondagem conduzida, em mais de 50% dos casos a escolha é uma instituição financeira, depois há os bancos (15%) e nem faltam os usurários (quase 10%).
Através da aplicação de taxas de juros no limite sancionado como taxa de usura, a agência financeira encontra terra fértil entre os imigrantes, oferecendo dinheiro rápido e pedindo requisitos mínimos de garantias.
Tudo com taxas de juros particularmente elevadas. Mas este não é um problema: estamos a falar de pessoas desesperadas, que vivem num País estrangeiro do qual mal conhecem a língua, com as famílias à milhares de quilómetros, com um trabalho (quando houver trabalho) cansativo e mal pago (porque esta é a realidade dos imigrantes). Pessoas que agarram a primeira das já escassas possibilidade: e paciência se o custo será elevado. Mais uma vez: quanta mais pobreza houver, melhor será.
O que interessa aqui é realçar como uma vez entrados no círculo do crédito, é muito difícil conseguir sair dele: o migrante paga o empréstimos da BRAC e, uma vez chegado ao destino, cai nos braços de outras agências que concedem dinheiro "fácil". Desespero dum lado, lucros do outro.
Ipse dixit.
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Fontes: FIERI - Sovraindebitamento e migrazione internazionale: il caso dei lavoratori e delle lavoratrici filippine in Italia, BRAC, Anarchismo Comidad