fundamental importância para entender a complexa transformação que Moscovo está a tentar implementar na sua economia.
Segundo o alemão Der Spiegel, no ano passado a Rússia tem produzido mais trigo do que os Estados Unidos: 110 milhões de toneladas, um limite nunca alcançado antes e que faz da Rússia o maior produtor do mundo. O Ministro da Agricultura, Alexander Tkachev, disse recentemente que espera que as sanções ocidentais contra a Rússia sejam prolongadas por mais cinco anos, porque, como afirma:
Na verdade, tornaram possível mudar positivamente a condição do sector alimentar russo, aumentando a produção, implementando tecnologia [...] e substituindo a importação, o que agora torna a Rússia auto-suficiente em agricultura.
A crise do petróleo, por exemplo, está a empurrar a liderança russa a considerar seriamente a possibilidade de mudar o seu modelo de desenvolvimento, baseado na produção duma só energia (a que tem como fonte o petróleo): metade das receitas do Estado são hoje baseadas na venda de hidrocarbonetos e isso faz com que a economia russa seja altamente vulnerável a crises energéticas e dependente de recursos naturalmente limitados.
Herman Gref, ex-ministro da Economia e Comércio do governo Putin e agora chefe do Sberbank (o maior banco russo), lançou recentemente um grito de alarme:
A este ritmo, em 2030 os recursos energéticos russos (petróleo e gás) serão esgotado e, portanto, é preciso mover imediatamente o motor da economia para outras áreas.
Entretanto, os gigantes da energia de Moscovo continuam a estratégia de exploração de petróleo e gás: A Rosneft fechou acordos com empresas indianas para os campos de gás da Sibéria (em Vankor); a Lukoil anunciou o aumento da produção na Rússia e das operações no Irão; e o governo de Moscovo planeia a exploração do Ártico, onde, segundo o US Geological Survey, existem reservas estimadas em 90 triliões de barris de petróleo e cerca de 2.000 triliões de pés cúbicos de gás.
A Rússia está assim a confrontar-se com o dilema entre preservar o seu próprio modelo de desenvolvimento e a implementação duma transformação económica radical. Nas intenções a escolha parece clara: no último Fórum em São Petersburgo, Vladimir Putin colocou a diversificação da economia como uma prioridade para o futuro da Nação.
Normalmente, no Ocidente temos a ideia da Rússia como dum País monolítico, rígido, fechado dentro dum autoritarismo imutável; esta ideia é, em parte, herdada da antiga imagem soviética que ainda atravessa a Europa e os EUA, enquanto em parte é o resultado da constante manipulação dos meios de comunicação ocidentais e dos centros de interesse que os controlam.
Na verdade, em Moscovo o debate sobre a mudança parece muito mais vital do que na Europa dos tecnocratas, guardiões apáticos do fracasso do Euro e dum modelo que está a levar as economias europeias a entrar em colapso. Esta Rússia está a dar lições à Bruxelas.
Ipse dixit.
Fontes: Il Giornale, Der Spiegel, GTAI