Quantos mísseis foram lançados? Mais duma centena? Muito bem.
Segundo o Pentágono, as defesas da Síria não conseguiram acertar numa única destas armas.
E mais: o General McKenzie foi muito claro em determinar quais alvos foram centrados, quantos e por quantos mísseis cada um. Lamento, há algo que não bate certo. Mas vamos seguir as declarações do simpático McKenzie.
1. Os mísseis lançados visavam "fábricas e armazéns de armas químicas". Com nenhuma preocupação sobre a possível libertação das substâncias químicas nas áreas vizinhas, que bem podem ser povoadas (como exemplo: uma das fábricas atingidas, Barzeh, fica na zona norte de Damasco). Pensamos nisso: gasificar inocentes numa retaliação contra Assad por este ter gaseificado inocentes? Realmente? A não ser que os EUA soubessem um coisa muito simples: não havia nada no interior dos alvos. Pois o importante era despachar-se: no prazo de poucos dias teria tido início uma nova visita dos inspetores das armas químicas.
"Nova visita"? Sim, pois os inspetores da OPCW (a Organização para a Proibição das Armas Químicas) já no passado dia 22 de Novembro tinham inspecionado o centro de Barzah e excluído a produção de armas químicas: resultados confirmados também em 23 e 28 de Fevereiro deste ano. Neste link é possível ler um dos relatórios frutos das inspeções, neste caso do 13 de Março de 2017.
2. Os EUA teriam disparado 103 mísseis contra apenas três alvos. São 35 mísseis por cada alvo. E quão grandes eram estes raio de alvos? É uma declaração que fala por si. Mas por enquanto tudo bem: mais à frente vamos fazer as nossas contas.
3. Os mísseis, supostamente, atingiram fábricas de armas químicas das quais os Estados Unidos nunca tinham falado em sete anos. Podemos pensar: era notícia top secret, a intelligence sabia mas nada dizia. Ok. Mas há um pormenor: a área foi reconquistada só nos últimos tempos, antes encontrava-se em território controlado pelos "rebeldes moderados". Então os EUA sabiam que os terroristas tinham entre as mãos fábricas e depósitos de gás? Ou sabiam que aí nada havia? Ou temos que beber a história de que os cientistas de Assad conseguiram ocupar uns laboratórios abandonados e torna-los operativos num piscar de olhos (entre uma inspeção da OPCW e outra)?
4. Segundo o Ministério da Defesa russo, durante o ataque foram as seguintes as unidades que dispararam:
- o cruzador Monterrey lançou 30 mísseis Tomahawk
- o destruidor Higgins 23 Tomahawk
- o destruidor Laboon 7 Tomahawk
- o submarino John Warner 6 Tomahawk
- os bombardeiro B-2, um total de 21 mísseis JASSM
- o quatro jactos Tornado GR4, um total der 16 mísseis Storm-shadow.
Segundo o Pentágono os mísseis lançados foram 105. Uma diferença mínima, não decisiva.
Os mísseis tiveram os seguintes destinos:
- 76 mísseis atingiram o centro de pesquisa de Barzah em Damasco
- 22 mísseis atingiram uma estrutura "química" em Him Shinshar
- 7 mísseis atingiram um "bunker químico" sempre em Him Shinshar
Este é o centro de pesquisa de Barzah:
O simpático General McKenzie afirma que esta estrutura foi atingida por 76 mísseis. Ou seja, aconteceu isso:
A imagem fala sozinha: queriam eliminar a fábrica e todos os pombos que aí dormiam também? No ataque de 2016, foi lançado um míssil contra cada estrutura: agora 76 contra três estruturas?
Em frente: o depósito de Him Shinshar.
Estes eram três depósitos em folha de metal, bastante frágeis, nada a ver com as estruturas em Barzah; um míssil por depósito teria sido suficiente. Mas, como se diz na América, "sete mísseis são melhor do que um" e "22 é sempre melhor do que 21", pelo que o que aconteceu foi isso:
Bom, se os Americanos quiseram desperdiçar mísseis o problema é deles (e dos sírios), não nosso. Mas onde esconderam as 22 crateras de impacto?
Ampliação:
Quatro crateras de impacto. O que faz sentido: quatro mísseis contra três alvos.
Mas desta forma faltam 18 crateras.Terceiro e último alvo: o "bunker químico" de Him Shinshar.
Este lugar foi supostamente atingido por 7 mísseis:
O que vamos encontrar nas novas imagens satelitares? Sete crateras?
Obviamente não:
Conclui o site Análisis Militares:
Repito, isso não é opinião, todos podemos verificar dando uma olhada às imagens capturadas pelo satélite.Correcto. Mas vamos fazer as contas no total:
Os EUA alegam ter atacado esta instalação com 7 mísseis de cruzeiro e há apenas 2 crateras. Portanto, 5 mísseis estão em falta... e está provado que os EUA mentiram.
- contra Barzah os EUA afirmam ter lançado 76 mísseis, as imagens do satélite neste caso não são claras (nem as publiquei por causa disso), mas faz sentido falar em cerca de 10 mísseis: afinal era o objectivo maior.
- contra o depósito de Him Shinshar foram supostamente atirados 22 mísseis, visíveis estão 4 crateras.
- contra o bunker de Him Shinshar foram atirados 7 mísseis, visíveis estão 2 crateras.
- 10 + 4 + 2 = 16 mísseis que atingiram os objectivos.
- 105 - 16 = 89 mísseis em falta (dados Pentágono).
- 103 - 16 = 87 mísseis em falta (dados Rússia)
- 103 lançados - 71 derrubados = 32 mísseis que, supostamente, atingiram os alvos.
Dado que as fotografias mostram um total verosímil de 16 mísseis que atingiram o alvo, há alguns mísseis desaparecidos, nomeadamente:
- 32 contra alvos - 16 crateras = 16 mísseis desaparecidos
...que foram para onde? Não é sabido. Sendo mísseis inteligentes, é provável que decidiram parar numa taberna de Damasco para experimentar um prato de excelente Shish Kebab. Um jantar bastante caro: cada míssil tem um custo aproximado de 1.5 milhões de Dólares. A Raytheon Company, o contractor do Pentágono que produz os Tomahawks, agradece.
É claro que saber ao certo quantos mísseis foram lançados e quantos atingiram os alvos interessa até um certo ponto. Mas neste caso o interesse está em demonstrar que a narrativa oficial não é o espelho do que é possível observar. Não que isso provoque um enorme espanto, estamos habituados a que isso aconteça. Mas é sempre bom constatar que o jogo continua e relembrar como a mentira seja o pão de todos os dias na mesa do Ocidente.
É claro que saber ao certo quantos mísseis foram lançados e quantos atingiram os alvos interessa até um certo ponto. Mas neste caso o interesse está em demonstrar que a narrativa oficial não é o espelho do que é possível observar. Não que isso provoque um enorme espanto, estamos habituados a que isso aconteça. Mas é sempre bom constatar que o jogo continua e relembrar como a mentira seja o pão de todos os dias na mesa do Ocidente.
Quando ouvi os russos falarem em 71 mísseis interceptados pela defesa síria fiquei muito surpreendido: as defesas sírias não são grande coisa, os Tomahawks são mísseis "inteligentes", a Rússia e o Irão não intervieram de forma directa. Agora olho para imagens, faço as contas e sou obrigado a admitir: algo não bate certo na narrativa oficial.
Macron e as novas sanções
Emmanuel Macron |
Dez dias atrás, o Presidente Trump disse que os EUA têm a vocação para se desvincular da Síria, nós convencemo-lo que era necessário ficar lá, a longo prazo.
Macron sabe. E convenceu Trump de que era preciso ficar na Síria durante bastante tempo.
Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca, hoje:
A missão não mudou e o Presidente Donald Trump quer que os soldados dos EUA retornem o quanto antes.
Macron não sabe.
Doutro lado, já em Março, Trump tinha sido claro:
Doutro lado, já em Março, Trump tinha sido claro:
Vamos sair muito em breve de lá. Vamos deixar que os outros cuidem disso agora. Há cerca de dois mil soldados americanos na Síria.
Resumindo: não existe um plano do Ocidente para a Síria. Trump segue com a sua política de desempenho para concentrar-se nos problemas dos Estados Unidos, enquanto os poderes fortes do establishment "progressista" queriam continuar a guerra até conseguir substituir Assad.
Entretanto, os aliados elevam a fasquia: Donald Trump está pronto para lançar novas sanções contra a Rússia, considerada "cúmplice" do regime sírio também no uso de armas químicas. Mas no horizonte há a possibilidade dum cara-a-cara entre os Presidentes americano e russo: parece existir a vontade por parte dos dois.
Entretanto, os aliados elevam a fasquia: Donald Trump está pronto para lançar novas sanções contra a Rússia, considerada "cúmplice" do regime sírio também no uso de armas químicas. Mas no horizonte há a possibilidade dum cara-a-cara entre os Presidentes americano e russo: parece existir a vontade por parte dos dois.
Voltando ao discurso sanções: segundo o Embaixador dos EUA na ONU, Nikki Haley, estas visam atingir as empresas russas que ajudaram o governo sírio a implementar as armas químicas, além de fornecer equipamentos e tecnologias.
Provas? Quais provas?
Ipse dixit.
Fonte e imagens: Análisis Militares, Il Giornale, Tg24Sky, Il Secolo XIX, Il Sole 24 Ore , OPCW: Opening Statement by the Director General to the Executive Council at its Eighty-Seventh Session (ficheiro Pdf, inglês)