Sharyl Attkisson, grande estrela da CBS, lança pesadas acusações na sua mais recente obra-prima, Stonewalled.
Primeira revelação-choque: a maioria dos jornalistas americanos são liberais, de Esquerda, e reservam a Obama um tratamento de favor, muitos tendencioso, quase no limite do servilismo. O lema é: quem rasteja não se atropela.
Ainda traumatizados, continuemos com a parte mais sensacional.
De acordo com a Attkisson, as decisões sobre o que publicar e o que não, são tomadas por um pequeno grupo de executivos de New York, ligados ao Poder, que raciocinam de acordo com critérios desconhecidos e abusadores.
Segundo a jornalista, existe uma parte invisível da gestão dos grandes meios de comunicação norte-americanos, com conexões invisíveis entre imprensa, televisão e Poder.
Pedem para nós criar uma realidade que corresponde a algo que se adapte ao que eles acreditamE quem não se conformar, aqueles que insistem em fazer o seu trabalho de livre investigação, é marginalizado, intimidado, excluído. Foi o que aconteceu com a mesma Attkisson assim que tocou em assuntos indesejáveis na Casa Branca. Imediatamente excluída, vitima de sistemática e impune pirataria informática por parte dos serviços secretos. Coisas da União Soviética, não da América.
O quadro que emerge é o dum mundo dos media que tende a ir junto com os desejos do Poder, em vez de monitoriza-lo e desafiá-lo. O poder das lobby é quase completo, mas quase nunca descrito, muito menos divulgado na imprensa. As redes que importam em Washington nunca são reveladas, alguns temas desconfortáveis mas muito importantes são apenas tocados mas não aprofundados, a reconstrução dos grandes acontecimentos da política internacional é sempre monocromática e conformista.
As canetas que não se conformam têm que emigrar para internet, não há lugar na televisão ou na imprensa. A Attkisson não está sozinha. O maior jornalista investigativo, Seymour Hersh, há alguns tempos, e não surpreendentemente, está fora do circuito dos grandes diários; Paul Craig Roberts, ex-assistente de Reagan e outra voz fora do coro, é constantemente marginalizado.
Pasmados? Ainda chocados pelas palavras da Attkisson?
Claro que não.
Os males da imprensa se encaixam num contexto mais amplo, em que a comunicação é cada vez mais utilizada para fins estratégicos, de forma opaca. Sabemos que as revoluções democráticas no Egipto, Tunísia e Líbia foram generosamente inspiradas por Washington, assim como a revolta na Praça Maidan, em Kiev, com o fim de subtrair a Ucrânia da influência russa, com o Ocidente que entregou o País a um grupos de paramilitares neonazistas guiados por oligarcas milionários.
Em tudo isso, o papel dos media foi fundamental, porque as guerras são travadas no estrangeiro com as armas, em casa com a imprensa. No nosso território não fica bem disparar contra os cidadãos, melhor preparar-lhes e servir-lhes uma realidade fictícia.
Pegamos no recente caso do ICIJ (International Consortium of Investigative Journalists). Há poucas semanas revelou as "desenvoltas" práticas fiscais do Luxemburgo, no ano passado atacou os mercados offshore: em ambos os casos tendo acesso a um impressionante conjunto de documentos confidenciais. A fonte de tais documentos? O ICIJ não a revela. Mas quem poderia ter tão maciçamente violado a confidencialidade dos grandes grupos ou dos arquivos do Estado? Um bando de repórteres ansiosos para um scoop? Ou alguém "encomendou" as peças, proporcionando arquivos normalmente inacessíveis? Para quê? E porque agora?
Estas são as perguntas que uma imprensa verdadeiramente livre deveria fazer, mas que nunca faz. Limita-se a repetir quanto difundido pelas poucas agências de imprensa internacionais. O trabalho do jornalista é hoje o mesmo do megafone: não tenta perceber, amplifica.
Parece algo inocente: afinal o jornalista não deveria relatar os factos, sem tentar interpreta-los?
Se assim for, então a pergunta é: para que serve um curso de jornalismo? Um breve exame de gramática seria mais do que suficiente, afinal trata-se de escrever sem erros alguns parágrafos, nada mais do que isso.
Não é assim: o jornalista deveria ser mais do que um simples megafone e a função de amplificador não é inocente. De facto, acompanha e serve o poder invisível, tornando-se cúmplice (quando não criado) dele.
Ipse dixit.
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