E Turquia.
E Líbano.
Nada mais, prometo.
Ah, não: também um curto vídeo, que mal nunca faz.
A razão é que naquela zona do Mar Mediterrâneo que parte da Grécia e chega até o Oriente Médio estão acontecer algumas coisitas interessantes.
Vamos por ordem?
Vamos: antes a Grécia.
Syriza & israel
Na Grécia tudo bem.
Resolvido o problema com a Zona Euro (o primeiro-ministro, o Tripas, assinou a rendição), é tempo de pensar no futuro. E o futuro passa por uma mais estrita colaboração com israel.
"Israel?!?" pensará o Leitor: "Mas Syriza não é de Esquerda, e radical também?".
Ahhhh, o Leitor é uma daquelas pessoas que ainda acredita nestas coisas, a Direita, a Esquerda, o Bem dum lado, o Mal do outro... estou a ver. Então melhor explicar.
O ministro da Defesa do Governo Tripas, Panos Kammenos, voou através do Mediterrâneo para assinar com o seu homólogo Moshe Yaalon um acordo militar, cujo nome é SOFA (que deveria significar algo como "Acordo sobre o status das Forças") e prevê a possibilidade dos militares de ambos os Países para viajar e residir no outro, tendo em vista a participação em exercícios militares e uma cooperação no domínio da indústria militar e segurança marítima.
Traduzindo: há gás descoberto no mar de Chipre, e nem pouco ao que parece. Dado que uma parte da ilha é gerida por Gregos, o chefe da Marinha grega, o vice-almirante Evangelos Apostolakis, assinou com o homólogo israelita um acordo de cooperação em matéria duns não especificados "serviços hidrográficos", sem dúvida ligados à exploração dos campos de gás.
A cooperação entre os dois Países, obviamente, custa e a despesa militar grega já é excessiva. Mas aqui em jogo está israel, portanto...
A viagem de Kammenos em israel tem sido acompanhada por declarações que vão além do assunto "gás". Diz Yaalon
Agradecemos a cooperação de segurança que significa a formação de nossos soldados e oficiais no território grego. Os nossos Países partilham interesses comuns, tendo que enfrentar as consequências do acordo assinado na semana passada entre as grandes potências e Irão.
O povo grego é muito próximo do povo israelita. Acerca da nossa cooperação militar, as nossas relações são excelentes, continuamos a manter a formação conjunta.
A Turquia, o ISIS e os Curdos
Mais complicado o discurso acerca da Turquia.
O governo de Ankara tem decidido mudar de atitude perante o Estados Islâmico, o ISIS. Agora é luta. Pelo menos, em teoria.
O exército turco tem lançado a operação Yalcin Nane em resposta a alegados ataques do ISIS na Turquia. Se até agora a este País tem sido uma porta de entrada e saída para os rebeldes sírios e o Estado Islâmico, agora as coisas mudam: o Presidente Recep Erdogan põe a cara de duro e muda drasticamente as suas decisões.
Contra factos não há argumentos. Ou talvez haja.
Na verdade, as coisas funcionam de forma um pouco diferente daquela apresentada pelos media. Nada de Turquia contra o ISIS, o plano é o seguinte:
- Erdogan satisfaz as pretensões do Presidente dos EUA, o simpático Barack Obama, permitindo que aviões de guerra americanos possam operar a partir de base de Incirlik;
- em troca, Obama satisfaz Erdogan com a criação duma "zona de exclusão aérea" (no fly zone) no norte da Síria: cerca de 100 km de comprimento e 30-50 km de profundidade, através da qual as forças aéreas turcas e americanas podem actuar conjuntamente em território sírio (sem um mandato da ONU, como é óbvio), enquanto a aviação de Damasco não pode entrar na mesma zona;
- Erdogan tem mão livre contra o seu verdadeiro objectivo, que são os rebeldes curdos.
Na prática, a no fly zone é um primeiro passo para a criação de uma base operacional em território sírio na fronteira com a Turquia, que pode ser utilizada também pelos "rebeldes" da Síria (apoiados pela Turquia, Arábia Saudita e Qatar); ao mesmo tempo, separa ainda mais o regime de Bashar al-Assad e os militantes do Yekîneyên Parastina Gel (YPG), os independentistas curdos. Este passo é fundamental do ponto de vista de Ankara que quer evitar a formação duma entidade separatista.
Do ponto de vista americano, a utilização da base turca de Incirlik facilita aviões militares dos EUA que operam livremente no Iraque e na Síria: antes os aviões tinham que voar 1.000 milhas até os alvos da Síria, enquanto Incirlik fica logo do outro lado da fronteira.
Dúvida: mas os Curdos, o verdadeiro objectivo de Erdogan, não são aliados dos EUA na guerra contra o ISIS?
Resposta: sim, mas paciência.
Hezbollah terroristas anti-terroristas
E para demonstrar quanto os EUA estejam empenhados na luta contra o ISIS, Washington tem imposto sanções contra três comandantes do movimento libanês Hezbollah, junto com um empresário libanês. De acordo com a IRIB (Islamic Republic of Iran Broadcasting), os três altos oficiais militares seriam Mustafa Badr Al Din Ibrahim Aqil, e Fuad Shukr. Enquanto o quarto, Abd Al Nur Shalan, teria fornecido armas ao Hezbollah.
Apesar de Hezbollah estar a lutar contra o terrorismo da região e o Estado Islâmico, o governo dos EUA tem incluído este grupo de resistência armada na lista das organizações terroristas do planeta.
Made in USA?
E vamos acabar com um vídeo.
O grupo de hackers Cyber Berkut tem publicado um vídeo acerca da execução dum prisioneiro do Estado Islâmico. Só que a cena é falsa, sendo gravada num estudo.
Segundo os hackers, o vídeo foi encontrado num suporte electrónico pertencente à equipa do senador John McCain, afirmação que não é possível verificar.
No vídeo, o falso prisioneiro é "executado" na frente de várias câmaras, enquanto um outro actor, vestido como um carrasco do Estado Islâmico, coloca uma faca perto da garganta do "preso" que finge de sofrer.
O que pensar deste vídeo? Na verdade nada: não há provas de como o grupo de hackers possa ter obtido este documento, não sabemos quando a cena foi gravada, onde e nem quem são as pessoas que nela aparecem.
Sabemos, e isso com certeza, de que vários documentos apresentados como decapitação foram falsos manipulados digitalmente, mas o presente vídeo, por falta de mais provas, fica só como curiosidade.
Ipse dixit.
Fontes: ControPiano, The Jerusalem Post, U.S. Departmnet of Treasury, Straitstimes, Indian Punchline, The Guardian