Proponho uma reflexão. Aliás, mais do que isso: procuro uma pergunta.
Diz Chaplin nos comentários:
Críticas pontuais jamais incomodarão os segmentos dominantes, pois se exaurem em si mesmas, e são atropeladas por novas críticas, igualmente pontuais, que não comprometem a credibilidade do status quo civilizatório...
Estes dois fluxos são paralelos, constantes e ininterruptos.
Paralelos porque, na maioria dos casos, a origem é comum (um acontecimento, um facto, uma declaração...).
Constantes porque se comparo os assuntos que o blog tratava há 8 anos com aqueles de hoje não vejo uma grande diferença: mudam os nomes, mudam as localidades, mas a moral é a mesma.
Ininterruptos porque, tanto os media oficiais como os alternativos, "precisam" de notícias, melhor ainda se bombásticas. E quando não há notícias, chega-se a inventa-las.
A internet alternativa é deixada trabalhar com relativa tranquilidade porque não apenas é resulta ser totalmente inócua como desenvolve um importante papel em "esvaziar" determinados assuntos.
Esta última vertente é essencial, portanto eis um exemplo prático.
O Leitor Anónimo publicou ontem uma ligação para um vídeo bem conhecido no Youtube: trata-se dum banqueiro holandês que denuncia os horrores da Grande Finança, Illuminati, rituais satânicos, Sionismo, etc.
Admitimos por um instante que as palavras do banqueiro sejam verdadeiras (e tenho as minhas sérias dúvidas quanto a isso). Num mundo normal, um vídeo assim seria razão mais do que suficiente para sair a rua, organizar protestos, assaltar a Bolsa de Valores mais próxima, enforcar um pouco de pessoas. Pessoal, sejamos honestos: isso seria o mínimo.
A realidade é um pouco diferente: algumas centenas de milhares de visualizações no melhor dos casos, nenhuma eco. E isso para um vídeo que está livremente acessível.
Podemos dizer: "Epá, mas isso é culpa do controle dos Poderes Fortes, é o condicionamento mental das massas, é a indiferença induzida no cérebro dos escravos".
Não: isso tem um nome e o nome é "falta de provas". O fulano do vídeo fala ao longo de nem sei quantas horas e apresenta o quê? Umas fotografias, uns videozinhos, uns documentitos? Zero, nada, rien, nicht. Mas como? Foste ao longo de anos parte duma conspiração desumana e nem trouxeste o ossinho dum cadáver, o mindinho duma virgem canibalizada? Um endereço, o nome duma víctima, uma campa, nada de nada?
Chaplin:
A essência das conspirações é justamente a ausência de provasMas isso tem uma implicação: se aceitarmos defender uma conspiração que "não tem provas", o resultado será a impossibilidade de excluir qualquer conspiração. Com qual autoridade recusamos uma teoria da conspiração se não aceitarmos a prova como elemento discriminatório? Apoiamos apenas as teorias "simpáticas"?
Portanto: sem provas vale tudo. Então sim, a Terra é plana, Nibiru está a aproximar-se, foram os Annunaki a criar o Homem, os Reptilianos dominam o mundo, Coca-Cola e Pepsi contêm carne de porco e álcool (esta é uma teoria da conspiração do mundo árabe: ou valem apenas as ocidentais?).
Continuo a não entender qual o objectivo final. Seguindo as teorias, vivemos num mundo dominado por umas enormes conspirações, onde ninguém ou nada escapa: não há saída, também porque as pessoas não reagem. Então? Qual o objectivo de alimentar diariamente um dos dois fluxos que, como é evidente, contribui para a manutenção do tal status quo?
É esta a minha pergunta, dirigidas aos Leitores do blog.
Eu tenho outra concepção: vivemos num mundo diferente daquele descrito pelas teorias da conspiração, um mundo feito de seres humanos que seguem o Deus Dinheiro, homens e mulheres que estariam dispostos a pisar o cadáver da avô para encher a conta bancária. Acho ser este um mundo já suficientemente triste, muito menos espectacular (nem um mísero Reptiliano...) mas onde as provas estão ao virar de qualquer esquina. Custa tanto admitir que não há nenhuma conspiração diabólica mas que os erros estão em nós? (olhem, outra pergunta!)
Ipse dixit.