Durante as celebrações dos 90 anos do poeta Thiago de Mello, ocorridas em São Paulo, o secretário-geral da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, o entrevistou no Hotel Jaraguá, no dia 16 de março de 2016, quando seu coração ainda transbordava das emoções da noite anterior na Biblioteca Mário de Andrade.
Os assuntos foram muitos, mas sempre permeados da tonalidade poética do amazonense, que pensa com imagens e sutilezas para dizer o que sente na epiderme. Foi assim, por exemplo, que ele destacou a importância de sonhar com um mundo melhor, falando de coisas que o cartão de crédito não compra, como a ternura. “Você se prolonga no gesto de dar, na alegria de quem recebeu”, resume ele, o modo como se satisfaz quando alguém fica feliz com um poema seu.
Como no poema Os Estatutos do Homem, de 1964, Thiago pensa que o dinheiro não pode comprar “o sol das manhãs vindouras”, mas pode ser uma espada na defesa da “festa do dia que chegou”. Nessa ânsia de tudo consumir e poder ser consumido, Thiago diz que “o capitalismo ameaça, mas não vence, aquilo que não se pode comprar, (…) o encontro e o abraço entre pessoas que têm o mesmo sonho”.
O poeta está sempre atento às palavras que lhe chegam à ponta da língua, pedindo até permissão para dizê-las. Sonho é uma delas. Segundo ele, essa palavra lhe sai sempre com o cuidado de não parecer algo utópico, mas algo que se realiza “com os pés plantados no chão da realidade”.
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