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Reindustrialização e Economia Solidária: é preciso transformar a lógica da produção (Por Josué Lopes*)

August 25, 2025 10:21 , von Luíz Müller Blog - | No one following this article yet.
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Produtos da UNIFORJA. Foto: Reprodução

O Brasil, que já foi visto como potência emergente capaz de liderar a industrialização
latino-americana, hoje amarga um processo de desmonte produtivo que não pode ser explicado apenas por “falhas de mercado” ou “mudanças globais inevitáveis”. A verdade é que a política econômica dos últimos quarenta anos — marcada pela submissão ao receituário neoliberal abriu mão da indústria em nome de um modelo baseado na especulação financeira, na dependência de importações e na promessa vazia de que o setor de serviços resolveria todos os problemas. O resultado está diante de nós: desindustrialização acelerada, desemprego estrutural e um país cada vez mais vulnerável às oscilações internacionais.

Falar em reindustrialização, portanto, não pode significar simplesmente repetir a fórmula antiga: atrair multinacionais com incentivos fiscais, subsidiar grandes conglomerados e esperar que os “benefícios” escorram para a sociedade. Essa ilusão já se provou insustentável. O modelo concentrador que marcou o ciclo industrial brasileiro no século XX gerou crescimento, sim, mas às custas da desigualdade, da degradação ambiental e da dependência tecnológica.

Reindustrializar com as mesmas ferramentas seria nada mais do que reciclar o fracasso.
É aqui que a economia solidária aparece como alternativa real — e também como afronta ao senso comum econômico. Ela parte de uma lógica oposta: em vez da busca cega pelo lucro, privilegia a cooperação, a autogestão e o fortalecimento dos territórios. Em vez de abandonar os trabalhadores à própria sorte quando uma empresa quebra, permite que eles retomem o controle dos meios de produção e reinventem sua forma de trabalhar. É um modelo que desafia a ideia de que a economia precisa ser regida exclusivamente pela competição.

Muitos dirão que esse caminho é utópico, pequeno demais diante do desafio da
reindustrialização. Mas será mesmo? A história mostra que não. Diversas fábricas recuperadas no Brasil e no mundo provaram que trabalhadores organizados podem gerir empreendimentos com mais eficiência social do que os antigos donos. Redes de cooperativas agrícolas e industriais demonstram que é possível articular produção em escala sem reproduzir as velhas hierarquias. E, ao contrário do capital volátil que vem e vai conforme a especulação, os empreendimentos solidários têm raízes locais: não abandonam sua comunidade ao sabor do câmbio ou da bolsa de valores.

O que impede esse modelo de crescer não é sua inviabilidade, mas sim a falta de vontade política. O Estado brasileiro, quando decide, sabe mobilizar bilhões para salvar bancos ou oferecer incentivos a grandes montadoras. Mas quando se trata de apoiar cooperativas de trabalhadores, o discurso muda: “falta recurso”, “falta competitividade”, “falta viabilidade”. A verdade é que falta prioridade.

Reindustrializar através da economia solidária é, portanto, mais do que uma proposta técnica — é um gesto político. É afirmar que a indústria não precisa estar a serviço apenas do capital, mas pode ser uma ferramenta de emancipação coletiva. É questionar o dogma de que o mercado sabe tudo e de que a competição é a única forma de progresso. É propor um modelo em que a produção esteja voltada para as necessidades da sociedade, e não para os balanços trimestrais de acionistas invisíveis.

Se o Brasil quiser de fato recuperar sua capacidade produtiva sem repetir as mazelas do
passado, precisará ter coragem de romper com a cartilha neoliberal e apostar em caminhos que pareçam “improváveis” aos olhos de quem lucra com o status quo. A economia solidária pode não ser a única resposta, mas é uma das poucas que aponta para um futuro em que reindustrializar não signifique apenas crescer, mas também incluir, democratizar e reinventar.

Reindustrializar sem solidariedade é só reconstruir o velho edifício da desigualdade.
Reindustrializar com solidariedade é erguer algo novo, capaz de sustentar não apenas uma economia, mas uma sociedade inteira.

*Josué Lopes – Advogado, membro da Coordenação Executiva da Associação de Juristas pela Democracia e militante do Movimento Negro Unificado


Quelle: https://luizmuller.com/2025/08/25/reindustrializacao-e-economia-solidaria-e-preciso-transformar-a-logica-da-producao-por-josue-lopes/

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