Correio do Brasil: Chegamos à maioridade e seguimos em frente
1 de Janeiro de 2018, 0:00Parece que foi ontem. Há 18 anos, aos 40, perguntei-me o que fazer por meu país, dali adiante. Fundei o Correio do Brasil.
Por Gilberto de Souza – do Rio de Janeiro
Foi necessário, à época, tanta coragem quanto agora para seguir em frente com um diário vespertino, independente e avesso aos cultos à personalidade que dominam a mídia brasileira. Apesar das indicações e convites ao longo destas quase duas décadas, o CdB jamais aceitou quaisquer espécies de prêmios de Jornalismo ou comendas equivalentes, vindos daqueles que têm como principal objetivo apenas a degradação e a pilhagem da terra onde nasci. Onde nasceram minha filha, meu neto.
Somos avessos à hipocrisia. Dispensamos o reconhecimento de um sistema corrompido por interesses inconfessáveis e o denunciamos, a cada oportunidade. Para isso, é preciso coragem e determinação; valores que sempre ditaram a trajetória do Correio do Brasil. A única crítica, o único aplauso que respeitamos é o dos nossos leitores; os assinantes que garantem, por uma módica quantia mensal, a existência de uma bandeira hasteada contra a iniquidade.
Cerco total
No Brasil, vigora um cerco perverso à mídia independente. Um conjunto de leis e normas servem de base a um cartel midiático; formado por oito, nove poderosas famílias que detêm o controle acionário de cerca de 80% dos meios de comunicação, no país. Eles temem, no entanto, a diversidade e a independência de veículos capazes de seguir adiante, com o único compromisso de informar – de maneira objetiva e mais isenta possível – sobre a realidade brasileira.
Ao Correio do Brasil, este cerco pode ser comparado a outros em curso, no mundo, a exemplo do que os Estados Unidos fazem com a ilha de Cuba. Na História, encontra paralelo na batalha por Leningrado. Sabemos, portanto, que apenas a determinação e o heroísmo dos nossos repórteres, redatores, colunistas, correspondentes e editores, a exemplo dos homens e mulheres que resistem ao jugo dos impérios, garantem-nos mais uma edição, sempre ao final da tarde. Um passo adiante, na conquista de um novo dia.
Parece pouco, se comparado aos jornais conservadores, mas trata-se de uma tarefa heróica chegar à edição de número 6.550. Tem sido uma jornada épica conduzir até aqui – e adiante – a linha do tempo de um país assolado por golpes de Estado, crises econômicas, sequestros de direitos, de pessoas, de sonhos. O que nos move é essa incessante busca pela verdade e a pureza dos fatos, assim como eles são; sem meias-palavras ou maquiagens tão comuns na mídia nacional. Esta, conheço de perto.
Imprensa nativa
O compromisso inalienável de levar a realidade aos nossos leitores, o que consideramos nada além da obrigação de todos aqui no jornal, é outro ponto que distingue o CdB na imprensa brasileira. Ao longo destas quase duas décadas, abominamos as ‘fake news’ que, traduzidas em bom português, querem dizer ‘notícias mentirosas’; sejam aquelas que beneficiam a esquerda, ou a direita. Aqui, o leitor sabe que pode confiar no que está escrito.
Trabalhei nas principais redações dos diários brasileiros. Fundei o Correio do Brasil exatamente por conhecer a realidade da imprensa nativa e no que ela se transformou, para atender às demandas do ‘mercado’; este ente fantasmagórico que esmaga nações inteiras, apenas para o deleite daquele 1% de seres humanos que, juntos, detêm a riqueza e a dignidade dos 99% restantes. Ao longo destes 18 anos e em outros 18 mais, enquanto respirar, nunca o CdB sairá em defesa do opressor; mas sempre cerrará fileiras com os oprimidos, os injustiçados. Ao lado daqueles que não têm voz, ou vez, neste deserto desumano em que querem transformar o Brasil.
Ora, dirá a concorrência, esta não é uma editora, uma empresa, mas um sacerdócio; uma organização sem fins lucrativos. É neste ponto que, neste 18º ano de existência, provamos ser possível levar adiante a construção de um diário de notícias que vive do prestígio e da confiança de seu público. Não é qualquer anúncio, por exemplo, que aceitamos veicular nas páginas de nossas edições, impressa e digital. Fazer Jornalismo custa caro, mas esse preço jamais será maior do que a nossa consciência.
Sigamos adiante, então, por mais um ano. Agora, na maioridade.
Gilberto de Souza é jornalista e editor-chefe do Correio do Brasil.
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Carlos Hetzel: Brasil caminha para ter a comunicação 100% controlada por multinacionais; fim da privacidade num Estado vigiado por grandes corporações
28 de Agosto de 2017, 18:35 - sem comentários aindapor Carlos des Essarts Hetzel, especial para o Viomundo
Hoje, esse bando disforme assiste pacificamente à retirada dos seus direitos básicos e fundamentais.
Tudo promovido e executado pela afinada orquestra do golpe antidemocrático — mídia-executivo-Legislativo-Judiciário –, tendo como arranjador e maestro os EUA, o representante do capital transnacional.
Anestesiados, os brasileiros veem a destruição do seu Estado-País e a passagem do controle absoluto de suas vidas para as mãos de empresas, especialmente as transnacionais.
Leia-se: o sistema financeiro e o narcotráfico (sem separação e escala de valores).
De tão atual e verdadeira, a célebre frase do jornalista húngaro Joseph Pulitzer (1847-1911) parece escrita hoje, 27 de agosto de 2017, sobre o Brasil: Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma.
Estamos assistindo pacificamente, incluem-se aí as Forças Armadas, o desmonte completo da infraestrutura nacional e dos centros de pesquisa, vitais para o desenvolvimento de qualquer país, independentemente da cor político-partidária de quem está no poder.
Só para ficar nos casos mais conhecidos, cito estes:
*A venda/entrega de toda a cadeia de pesquisa, desenvolvimento e inovação da produção do petróleo/gás.
*Paralisação das atividades dos centros nacionais de pesquisas e das universidades públicas (para privatização), marcos de excelência na pesquisa e desenvolvimento.
*E principalmente o desmonte e a internacionalização completa do sistema de telecomunicações.
Por que classifico como principal as telecomunicações?
Pelo fato de que o setor tem o poder da transversalidade com TODOS os setores ativos da sociedade. E, através da TRANSVERSALIDADE, consegue-se controlar a informação.
E informação — até os ácaros do meu guarda-roupa sabem — é igual a poder.
Não é discurso, é fato.
É lógico, portanto, que quem controla a informação, controla o conhecimento. E o conhecimento é essência do poder.
E quem tem o poder nas mãos pode manter o restante a seus pés.
Logo, controlando a produção e o meio de transporte das comunicações, controlamos tudo que diz respeito ao ato de informar: o que, para quem, como e quando.
E como se pode ter esse controle?
Controlando as ferramentas de transporte da informação e dominando o estado da arte tecnológica.
Afinal, tecnologia se domina e se controla com mais tecnologia, conhecimento e expertise. Que sirvam de exemplo os hackers e centros de guerra cibernéticos israelenses, americanos, russos, franceses!
Existem diversas outras formas de atuar. Vou citar o modus operandi de apenas um deles: o controle operacional das hubs e as centrais telefônicas.
Hubs, também conhecidas como backbones, são os centros de conexões de internet, fibras. É por onde trafegam TODAS as informações da rede.
São locais-chave. Neles, passam todas as conversas entre nós, mortais, assim como o conteúdo produzido pelos meios de produção da informação, pública ou privada, inclusive o que você faz.
A informação produzida –transportada obrigatoriamente pela infraestrutura de telecomunicações– passa pelos locais-chave. Aí, com um simples terminal de computador, podemos acessar as conexões e monitorar o que trafega, o que é transportado.
Podemos, assim, interromper o transporte da informação, impedir, alterar, inserir, criar interferências, gravar, entre outras alternativas.
E o que isso tem a ver com o dia a dia?
Tudo. Com o meu, com o seu dia a dia.
Atualmente todo sistema de comunicação necessita de propagação.
Logo, vale para o sistema privado, comunitário, governamental, estatal ou público, radiodifusão (rádio e TV em rede), imprensa escrita, mídia digital, blogs, e-mails, whatsApp, telegran, facebook.
Ou seja, o conteúdo que esses meios produzem precisa de transporte, que pode ser feito de várias maneiras: ondas eletromagnéticas, pulsos elétricos ou de luz, através de radiotransmissores, satélites, fibras ópticas, cabos submarinos e de cobre (em pleno uso e muito lucrativo, embora as operadoras de telefonia, estrategicamente, insistam em negar).
E, aí, algo que a imensa maioria das pessoas não se dá conta: o conteúdo feito pelas empresas de comunicação ou por processo individual e/ou pessoal não existe como um fim em si mesmo.
Esses conteúdos só passam a ter existência real devido à telecomunicações.
Sem elas, não há propagação do conteúdo, não se consegue a tão sonhada universalização, a necessária massificação.
Sem essa propagação, a mídia e as redes sociais perdem o objeto da sua existência, que é o de informar o coletivo, ou seja, universalizar a informação.
Essa realidade nunca foi compreendida pelos profissionais da imprensa. E, se entendida, nunca valorizada, salvo raríssimas exceções.
Da mesma forma, a comunicação bidirecional feita entre pessoas, através das redes sociais, telefonia celular e fixa, necessita de conectividade, de transporte do conteúdo.
É importante aqui salientar que, com raras exceções, a infraestrutura de telecomunicações existente no Brasil foi implantada durante o período do monopólio estatal, quando existia a holding Telebrás.
Na privatização de todo o setor, elaborado e executado a preço de banana pelo governo FHC, essa infraestrutura passou para as empresas operadoras privadas, como empréstimo, para que pudessem dar continuidade aos serviços de telecomunicações.
Esse empréstimo deverá ser devolvido à União no final do contrato de concessão, daí o nome de bens reversíveis.
Só que esses bens reversíveis e o espectro de frequência compõem as ferramentas necessárias para transportar todo o conteúdo produzido.
Por isso, as grandes corporações estão atuando fortemente junto aos poderes da União, principalmente no Congresso Nacional, para ficar com todos os bens reversíveis de preferência, graciosamente. Exemplo disso é o projeto de lei da Câmara n°79, hoje no “no forno” do Senado, esperando o momento certo para sanção presidencial.
Tudo o que é falado, escrito, registrado por imagens e vídeos, armazenado, é produção de conteúdo.
Quando transportados, formam as comunicações. As comunicações, por sua vez, estão sob o controle das operadoras de telecomunicações, todas multinacionais.
Até o recém-lançado satélite brasileiro de comunicação e defesa – o SGDC –, a partir de setembro, segundo proposta da Telebrás, terá grande parte dos seus canais de comunicação entregues para essas mesmas operadoras.
Resultado: o controle completo das comunicações brasileiras estará integralmente nas mãos de empresas transnacionais.
É a EXTINÇÃO da privacidade das comunicações!
É a nossa Constituição mais uma vez violentada por esse (des)governo. No seu artigo 5°, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, ela dispõe:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.
É mais um dispositivo da Constituição desrespeitado. Mais um do rol dos artigos que a Constituição prevê mas não garante, obra e arte da agressão e falta de compromisso com os direitos e garantias fundamentais do cidadão brasileiro.
É o domínio de corações e mentes pelos operadores do mercado financeiro internacional, que — atenção! — são donos também dessas empresas de telecomunicações.
Em parceria e total colaboração dos entreguistas e apátridas brasileiros, principalmente a grande mídia nativa, eles dominarão a totalidade do setor mais estratégico e vital para a segurança do cidadão e das suas instituições.
Esse controle lhes dará conhecimento de tudo que falamos, escrevemos, conversamos, registramos, armazenamos. Ou seja, tudo que produzimos no universo da comunicação.
É um caso de Segurança Nacional, pois afeta a nossa soberania.
Esse é mais um exemplo de um Estado que trabalha de costas para a sociedade, estuprando continuamente a Constituição. O artigo 1º dos Direitos Fundamentais é taxativo:
Art. 1° A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humanaA estratégia de manter a grande maioria da população na ignorância, desinformados ou informados com mediocridades, com meias verdades ou através de conteúdo distorcido e/ou irreal, através do controle de tudo o que se produz e se transmite, tem o poder de dividir, emburrecer e infantilizar, para assim, escravizar física e mentalmente a sociedade brasileira.
Essa é a base do negócio dos representantes do mercado transnacional em parceria com a dita oligarquia nacional.
Este foi o método utilizado pelos nazistas para aniquilarem 6 milhões de seres humanos.
É o Estado vigiado pelas grandes corporações.
É o grande irmão do livro 1984, de George Orwell, saindo da ficção e se tornando realidade no Brasil de 2017.
Salvar
O jornalismo preguiçoso. Ou apenas vagabundo
19 de Agosto de 2017, 11:50A moça pode até mesmo ser o que diz que é, embora existam, como levantou o jornalista Luis Nassif, enormes suspeitas de que ela seja tão somente uma impostora, ou então alguém que sofre de algum transtorno psicológico, como a mitomania, mas isso é o que menos importa.
O triste de toda essa história é constatar que a imprensa brasileira, com raríssimas exceções, não observa nem as mais básicas e elementares regras do jornalismo.
Uma delas, que qualquer "foca" conhece, é checar as fontes de informação, para que não se dê crédito a lunáticos, malucos, napoleões de hospício, ou mesmo a espertalhões, pilantras e picaretas em geral, que adoram usar a imprensa para atingir seus propósitos.
O jornalismo brasileiro, já se sabe há algum tempo, virou uma grande agência de publicidade, que trabalha dia e noite para preservar os imensos e seculares privilégios da classe social dos donos das empresas de comunicação, ou seja, dos endinheirados que mandam e desmandam neste país.
Mas eles bem que poderiam fazer este trabalho sujo com um pouco mais de competência.
Do jeito que está, fica fácil aparecer mais umas tantas "herdeiras" para engabelar esses jornalistas de meia pataca que se acham os tais.
O caso da moça me fez lembrar de uma história ocorrida lá pelo ano de mil novecentos e oitenta e pouco, no falecido jornal "Jundiaí Hoje", quando começaram a ocorrer algumas coisas estranhas: as notícias mais interessantes de esportes estavam saindo também num dos concorrentes.
Não podia ser coincidência, atestava o saudoso Ademir Fernandes, mestre em jornalismo e em bom humor, que tocava, praticamente sozinho, a editoria - Ademir, para quem não o conheceu, foi um dos mais profícuos e respeitados profissionais que passaram pelo "Jornal da Tarde" e Agência Estado
Pois bem, ele desconfiava que o jornal estava sendo vítima de um "vazamento" - claro que a palavra, naquela época não estava tão em voga quanto hoje. A suspeita recaía sobre uma digitadora de texto cujo marido era repórter esportivo do concorrente.
Assim, armou a armadilha: escreveu uma matéria com alguns detalhes que inventou - nada que comprometesse a veracidade da história.
Não deu outra: no dia seguinte, lá estava a notícia no concorrente, igualzinha. A tal digitadora acabou confessando seu "crime". Levou uma bronca daquelas e a vida continuou.
O estratagema inventado pelo Ademir foi simples e eficaz. Desmascarou a impostura de maneira incontestável.
E mostrou uma face detestável do jornalismo, essa marcada pela negligência, preguiça e "esperteza".
Dói saber que pouca coisa mudou de lá para cá - e se mudou, foi para pior. (Carlos Motta)
Pela Liberdade de Expressão, nossa Solidariedade ao blogueiro Cláudio André de Bom Conselho, PE
22 de Junho de 2017, 15:00 - sem comentários aindaO radialista e blogueiro Cláudio André, de Bom Conselho, PE, teve sua casa invadida conforme o próprio relata no artigo SOFRI UMA AGRESSÃO FÍSICA E MORAL COMO SE TIVESSE COMETIDO ALGUM CRIME
Mesmo se tivesse cometido algum crime previsto no Código Penal, sua casa não poderia ter sido invadida e muito menos ter sido vítima de agressão física ou moral.
Por isso fazemos nossas as palavras contidas na NOTA DE REPÚDIO CONTRA AGRESSÃO SOFRIDA PELO RADIALISTA CLAUDIO ANDRÉ, do Sindicato dos Radialistas de Pernambuco, filiado à CUT-FITERT, e nos SOLIDARIZAMOS À CLAUDIO ANDRÉ e seus familiares vítimas do Estado de Excessão, em vigor no Brasil desde o golpe de estado dos cleptocratas em 2016.
Sem respeito à preservação da fonte não há Jornalismo
8 de Junho de 2017, 12:23No momento em que o jornal, revista, site ou outro meio de comunicação qualquer revela o mínimo detalhe capaz de desnudar a identidade da fonte, comete crime contra a Humanidade.
Por Gilberto de Souza – do Rio de Janeiro
A proteção à fonte, origem de uma notícia, está para a prática jornalística como o ar aos organismos que o respiram. Não é à toa que as constituições de países, nos quadrantes da Terra, a protegem como a uma jóia rara. Sem a certeza de que se preservará a origem que desvenda escândalos como o Watergate, nos EUA, apenas para citar o mais emblemático, simplesmente, não há como o Jornalismo existir. Não se tergiversa sobre a proteção àqueles que, ao confiar até suas vidas ao jornalista, revelam desmandos, crimes e abusos de toda sorte.
Ao deixar a delegacia da PF, para onde foi conduzido de forma autoritária, Guimarães entregou sua fonte. Com um sorriso no rosto
No momento em que o jornal, revista, site ou outro meio de comunicação qualquer revela o mínimo detalhe capaz de desnudar a identidade da fonte, comete crime contra a Humanidade, sem qualquer exagero. Não há perdão para aquele que colocar em xeque a credibilidade da Imprensa. Não cabem desculpas a quem trai, de forma sórdida, aquele que depositou sua fé na coragem do jornalista que por desídia ou pior, covardia, entrega aos algozes quem acreditou no agente da Opinião Pública.
Entregou tudo
Em condições ideais, o jornalista, blogueiro, ou algo que se compare a ambos, que cometa o estupidez de revelar, publicamente, sua fonte deveria ter, ali, sua carreira encerrada. Ser afastado, para o bem dos seres humanos, de um meio de comunicação.
Da mesma forma, teria as portas cerradas aquele veículo que cometer a tamanha sordidez. Este, com certeza, é o entendimento da maioria dos leitores. Não o é, infelizmente, da Justiça. Esta, muitas vezes, pressiona às raias da loucura os repórteres para que revelem de onde partiu a denúncia. Muitas vezes prendem, arrebentam. Matam.
É em respeito a eles, heróis que defenderam suas fontes sob tortura, prisão e mesmo com suas vidas que não se pode deixar em branco a ação do site The Intercept, com sede nos EUA e no Brasil. E, apesar das circunstâncias, a atitude do blogueiro Eduardo Guimarães, de entregar — de pronto — o nome do informante que adiantou a revista no apartamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele o fez de graça.
Desmando jurídico
Bastou ser conduzido a uma delegacia da Polícia Federal (PF), ainda que de diante uma ordem absolutamente autocrática do juiz Sérgio Moro, para soltar a língua. Não bastasse dedurar o nome de sua fonte aos policiais, repetiu a vileza à mídia que o aguardava do lado de fora. Ao vivo e aos quatro ventos, reconheceu o seu ato.
Embora ignorância não sirva de desculpa, uma vez que Guimarães não é jornalista, apenas opina em um blog, ao entregar a identidade do seu confidente o fez com desenvoltura. O fato de ter sido vítima de um desmando jurídico não o isenta. Ao contrário, incrimina-o pela incontinência verbal.
Destino selado
Guimarães pecou, mortalmente, mas o resultado de sua delação expontânea não causou prejuízo maior à fonte revelada. Esta segue viva e livre. Meno male. Não foi, porém, o caso do Intercept. Fundado pelo jornalista Glenn Greenwald, que se celebrizou pelas revelações do espião Edward Snowden ao diário inglês The Guardian, a publicação abriu espaço para um informante sobre possível atuação do governo russo nas eleições norte-americanas.
Embora tenha publicado a informação vazada, entregou de bom grado a cópia da documentação e outros dados indiretos sobre seu informante aos agentes do governo dos EUA. Selou, assim, o destino de sua fonte.
A publicação ainda tentou se justificar, afirmando que dedurou mensageiro com o objetivo de “checar a veracidade” da mensagem. Em questão de horas, Reality Leigh Winner estava presa. Ela é a funcionária da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) que vazou as informações ao site.
Fonte presa
A repercussão foi imediata.
— É uma falha catastrófica na proteção da fonte, difícil de aceitar — criticou o jornalista Barton Gellman. Trata-se do premiado repórter que revelou ao mundo o caso Snowden, no diário norte-americano The Washington Post.
Mesmo Julian Assange, do site WikiLeaks, não perdoou. Justo ele, perseguido há anos por revelar informações secretas sobre governos ao redor do mundo.
— No geral, eu amo o Intercept, mas, se é um cara de vocês, deem o nome e acabem com ele agora — recomentou.
O próprio Greenwald, que tem seu nome no alto do site, tenta se distanciar:
— Eu não escrevi o texto e eu não edito o Intercept. Eu não controlo outros jornalistas.
Jornalista ou não
O próprio Edward Snowden fez questão de se pronunciar. Snowden, que mora em Moscou e hoje preside a Freedom of the Press Foundation, foi taxativo:
— Processar uma fonte sem considerar o dano ou benefício da atividade jornalística é ameaça fundamental à imprensa livre.
Ambos os casos merecem uma reflexão mais aprofundada sobre a prática do Jornalismo. Em qualquer circunstância, porém, seja qual for a conclusão a que se chegue acerca dos limites deste ofício, a fonte será sempre o bem maior a ser protegido. Ainda que por inexperiência ou na mais rasa ignorância, seja ou não jornalista, desde que se aventure nas lides do ofício, a primeira lição a ser aprendida será sempre o respeito à fonte.
Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil.
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