Diretor de Relações Internacionais da UNE fala em artigo sobre a necessidade de democratizar a mídia na América Latina
Tão perto, mas ao mesmo tempo tão difícil de conhecer e de chegar. Assim é o sentimento majoritário da população brasileira em relação aos nossos irmãos latinoamericanos. A barreira invisível criada pela mídia e, consequentemente, pela cultura que ela impõe às vezes chega a assustar. É muito mais fácil termos acesso à cultura europeia, norteamericana ou até mesmo oriental, do que à cultura latina. Não somente próxima de nós geograficamente mas também pela relação estreita de luta por independência e contra a exploração. Não somente pela relação econômica imensuravelmente desproporcional com os países mais ricos do mundo, mas também a relação social dos países latinoamericanos se demonstra sempre frágil e invadida por interesses neoliberais, apresentados como verdade e caminho absoluto.
Assim se dá a relação política entre a mídia oligárquica em toda a América Latina com a disputa de poder político dos países, dando assim um grande exemplo dessa manipulação com claros interesses econômicos. É praticamente impossível para o cidadão brasileiro ter clareza da conjuntura em nossos países vizinhos sem ser manipulado por um monte de meias verdades disfarçadas de verdades absolutas. Uma boa dose editorial orquestrada em todos os meios de comunicação interpelam, por exemplo, que neste momento a Venezuela está em chamas “contra o governo ditatorial de Maduro, sucessor do ditador Chávez”.
Primeiro, é necessário que seja colocado de forma clara que interferir na autodeterminação das nações vai de encontro a um dos princípios do Direito Internacional. E está clara a tentativa de desqualificar um governo eleito democraticamente pelo povo venezuelano a todo custo. A constituição venezuelana, além de determinar eleições presidenciais, também prevê eleições periódicas se necessárias, para que o povo decida se quer que o presidente continue ou se convoque novas eleições. Elas ocorreram com acompanhamento internacional, reconhecendo como legítimos os processos. Em todas, os chavistas saíram vitoriosos. Além disso, referendos, plebiscitos, ocorrem sobre temas polêmicos no país, inclusive sobre a própria Constituição.
A Venezuela hoje figura entre os poucos países do hall de “território livre do analfabetismo”, título concedido pela Unesco em 2005. Também é um dos países que mais democratizou o acesso ao ensino superior no mundo, fundando a Universidade Bolivariana da Venezuela (UBV) em 2003. A UBV, voltada para as classes populares, é hoje a maior universidade da Venezuelana, com cerca de 1 milhão de estudantes. Mesmo com uma economia extremamente inferior à brasileira, o país enfrenta seus desafios educacionais com mais convicção. A Venezuela é a 32ª maior economia do mundo e a 74ª melhor educação, enquanto o Brasil é a 6ª potência e 88ª educação.
Quando se fala no plano econômico, impressiona o potencial petrolífero venezuelano, como também as políticas soberanas empregadas. A criação do “Ministerio del Poder Popular de Petroleo y Mineria”, em conjunto com o fortalecimento da PDVSA – Petroleos de Venezuela S/A no governo Chávez com certeza não agradou os ianques.
Portanto, em nada espanta a tremenda reação dos setores mais conservadores do continente materializada nas matérias da mídia oligárquica sobre o regime venezuelano. Colocando como verdade absoluta uma “ditadura” no país, aproveitam a onda de manifestações e acirramento político criado pelos setores de oposição para, deliberadamente, tentar deslegitimar um governo eleito democraticamente. Tais setores de oposição incitam claramente a violência como ferramenta das manifestações.
Parafraseio aqui o professor da UFABC, Igor Fuser, no meio de um programa da Globo News: “eu desafio você a achar UMA notícia pelo menos em que a Globo apresente alguma coisa positiva sobre a Venezuela. Será que esse povo que elege esses governos há 15 anos é tão burro? Por que vocês só mostram o lado ruim? Não tem nada positivo?”. É óbvio que vozes como a do professor Igor são minoria nos nossos meios de comunicação. Portanto, é fácil mostrar que a disputa do poder político passa necessariamente pela democratização de tais meios para que pelo menos se dê em pé de igualdade. O senso comum brasileiro é facilmente manipulado pelas oligarquias brasileiras através da mídia que temos, e estas têm muito mais compromisso com o imperialismo norteamericano do que com informação de qualidade.
Não podemos viver mais nenhum golpe contra a democracia política ou atentados contra a soberania dos países, como tentou fazer a oposição venezuelana há pouco mais de dez anos. Portanto, a unidade latinoamericana, principalmente dos movimentos sociais, está mais atual do que nunca para que alcancemos mais avanços e sem dar nenhum passo para trás. É necessário democratizar a mídia em toda a América Latina!
Thauan Fernandes é diretor de Relações Internacionais da UNE
Para diretor da UNE é necessário a democratização da comunicação em toda a América Latina
2 de Março de 2014, 6:51 - sem comentários ainda | No one following this article yet.
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