A que veio Gustavo Fruet?

Para que qualquer político ou candidato a cargo público mereça meu apreço, ele não deve se encaixar em nenhuma destas categorias:

1ª. Com relação à origem:

Se o político ou candidato tem qualquer relação de parentesco com qualquer outro político influente ou qualquer “celebridade” e usa esta relação de parentesco como ferramenta para convencimento do eleitor ou, se o próprio político ou candidato é uma celebridade, um comunicador de massas, um ator, atleta, um ex-bbb ou equivalente e usa de sua fama como ferramenta para convencimento do eleitor.

2ª com relação ao histórico:

O político que costuma trocar de partido sem uma justificativa coerente, aquele que abandona o barco quando o partido passa por dificuldades ou aquele que troca de legenda quando não encontra em seu partido a oportunidades para disputar uma eleição para um cargo qualquer.

Por quê?

Tenho para mim o sentimento utópico de que os atores políticos deveriam ser representantes autênticos da população, devem estar a serviço de toda a população e não apenas de determinados segmentos.

Ora, um ser vivente que tem como atributo principal seu sobrenome, sua fama ou seu programa de rádio ou TV já começa errado. Entra numa disputa eleitoral com claras vantagens sobre seus concorrentes e isso, mostra que o senso de justiça desta pessoa não é tão justo quanto deveria ser.

Um ser vivente que troca de partido apenas para ter a chance de disputar este ou aquele cargo público deixa escancarado que não está nem aí para com a coletividade, só se preocupa com o próprio umbigo e exercerá seu mandato visando apenas benefícios pessoais.

Fique a vontade para me corrigir caso ache que estou enganado.

Mas seguindo este raciocínio, na disputa do segundo turno da última eleição municipal de Curitiba nenhum dos dois candidatos (Fruet ou Ratinho) mereceria meu precioso voto. Um filho de um ex-político carismático e outro filho de um apresentador de TV também carismático. Ambos trocaram várias vezes de partido sempre buscando maiores chances de ascensão em suas carreiras.

Mas contrariando meus próprios princípios, votei no (ex-)tucano Gustavo Fruet.  Utilizei velha tática da escolha do “menos pior” baseado no histórico de filiações partidárias do moço.

Em 2004, Fuet abandonou o PMDB porque o partido não lhe deu a chance de disputar a prefeitura de Curitiba, então o garoto migrou para o PSDB, com a clara intenção de um dia disputar a prefeitura da cidade, mas quando chegou sua vez, os caciques tucanos puxaram seu tapete e a única alternativa para evitar o ostracismo iminente era mudar de legenda e disputar a eleição.

Sim Fruet tem d.n.a. de tucano, sim Fruet não mereceria meu apreço, mas Fruet já estava brigando para disputar este cargo há muito tempo e alguém que se empenha tanto em alguma coisa não deve estar repleto de apenas más intenções.

O que realmente me causa muita estranheza é a quantidade de pancada que a nova administração vem recebendo diuturnamente na imprensa, nas mídias alternativas e nas redes sociais. Quase todo mundo parece querer o pescoço do novo prefeito e se esquecem do tamanho do pepino que o filho do Maurício Fruet arrumou para a cabeça quando assumiu a prefeitura em Janeiro.

Os 15 anos dos neo-liberais Taniguchi, Richa e Ducci transformaram a administração municipal de Curitiba num tão gigantesco balcão de negócios e negociatas que não é humanamente possível  reverter todo este desmonte em apenas oito meses (duvido que seja possível em oito anos).

O trio neo-liberal comprometeu tanto das reservas municipais em contratos agradabilíssimos ao empresariado parceiro que hoje a cidade tem sérias dificuldades em fornecer o básico para os curitibanos, saúde e educação publicas, principalmente saúde.

O outrora transporte público modelo, hoje é muito caro e a qualidade do serviço oferecido não chega nem a sombra do que era num passado não muito distante.

É evidente que seria incoerente e injusto culpabilizar exclusivamente os oito meses da atual administração por estes e outros problemas na cidade.

Os lucros exorbitantes dos empresários do transporte, R$ 0,34 para cada passada na roleta, independente de gratuidade ou não, servem somente para o lucro líquido e limpo dos empresários do transporte. Isso graças a um processo licitatório para lá de suspeito feito por Richa e o contrato firmado por Ducci, onde o cálculo da tarifa é determinado pelos empresários e onde o poder público não tem como intervir pelo menos nos próximos 20 anos. Outro contrato absurdo onde uma empresa recebe valores completamente fora da realidade para cuidar da bilhetagem eletrônica (meio milhão / mês por um serviço que não custaria a metade disso em qualquer outra empresa) também é uma obra das administrações anteriores e seus contratos para lá de suspeitos.

A solução seria rever estes contratos e isso, já está sendo feito com a auditoria da prefeitura e a CPI dos vereadores, duvido que resulte em algo positivo, mas já é alguma coisa.

E os contratos com o ICI que até o ano de 2016 vão custar nada menos que R$ 400.000.000,00 aos cofres de Curitiba, também são um maravilhoso exemplo do desmonte do município proporcionado pelo trio Taniguchi, Richa, Ducci. E este com um sério agravante. Todos os sistemas de software e hardware do município estão aos cuidados do ICI. Se Fruet romper este contrato ou desagradar os donos do ICI a administração municipal volta para a idade das trevas e daí vai ser sim um verdadeiro deus nos acuda geral!

Não foi à toa que quando Ducci perdeu a eleição, em outubro passado, ocorreu uma verdadeira diáspora dos responsáveis por alguns dos softwares da prefeitura. Teve muita gente que se mandou do Brasil com medo de que estas maracutaias fossem reveladas pela nova administração. Coisa que só não aconteceu ainda por medo de alguma represália dos detentores de toda informação na cidade.

E se faltam médicos, medicamentos e o tempo de espera nos postos de saúde está cada vez pior ou se os atendimentos da FAS não correspondem a expectativa ou as necessidades,  não é por má vontade da atual administração. É simplesmente porque os recursos que deveriam ser aplicados nestas áreas de prioridade estão indo parar nas contas bancárias dos empresários amigos das gestões anteriores.

Infelizmente, os escândalos das três gestões anteriores não param por aí, muita coisa ruim ainda vai aparecer nos próximos meses e Fruet, o coitado, tem a indigesta missão de limpar as cagadas de seus antigos aliados. Não vai conseguir e com tantos inimigos por todos os lados ainda corre o risco de ser escorraçado de sua cadeira já no primeiro deslize.

Pois é. A sanha neo-liberal e a sede pelo poder aliada aos sonhos de alpinismo político, em apenas 15 anos transformaram a ex-cidade modelo numa cidade a beira do caos e talvez a cidade nunca mais se recupere. Fruet, apesar de parecer muito bem intencionado, não tem mostrado força ou determinação suficiente para reverter este quadro e para complicar, ainda mantém alianças com alguns dos atores políticos que participaram da criação deste caos.

Está feia a coisa para os lados do novo prefeito.

Mas se serve de consolo ao atual prefeito, acredito que nos tempos do biônico Maurício Fruet, na administração a cidade de Curitiba era muito mais fácil. Gustavo Fruet só teve o azar de estar no lugar errado e na hora errada. A nós, resta apenas segurar o rojão.

Polaco Doido

Democracia Representativa na Era Digital

Esta edição do Brasilianas.org  trouxe aos estúdios o pesquisador de cibercultura e transformação política da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Henrique Antoun; o jornalista e doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo, Sérgio Praça; o senador do PT do Rio de Janeiro, Lindbergh Farias, que propõe projeto de lei para ampliar a participação popular na elaboração de leis; e Rafael Evangelista, doutor em antropologia social e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, da Unicamp. Em junho de 2011, a Islândia foi o primeiro país do mundo a usar as redes sociais na internet para elaborar a própria constituição. O acontecimento, amplamente debatido entre cientistas políticos do meio acadêmico, mostra que é possível aumentar os mecanismos de participação popular nas decisões políticas. Hoje, os instrumentos constitucionais de democracia direta existentes no sistema político brasileiro são as eleições, os plebiscitos e os referendos. Mas esses mecanismos têm se tornado obsoletos frente à velocidade da troca e criação de conhecimento na era digital.

Assista ao vídeo disponível em:

http://tvbrasil.ebc.com.br/brasilianas/episodio/a-democracia-representativa-na-era-digital#media-youtube-1