Olha o Meteoorooo!
Febbraio 14, 2013 22:00 - no comments yetA popularização de engenhocas eletrônicas é um fenômeno realmente muito interessante.
Meteoros atingindo a atmosfera terrestre são um fato corriqueiro. Na verdade, pelo que andei lendo, toneladas de materiais do espaço chocam-se com a terra todos os anos. Na maioria das vezes são muito pequenos e deixam como único vestígio um belo risco no céu.
Materiais maiores, como o que explodiu hoje no céu Cheliabinski, a leste dos Montes Urais na Russia, são muitos mais raros e quase sempre atingem regiões remotas e desabitadas do planeta.
Mas desta vez, por se tratar de uma região densamente habitada, acho que é a primeira ocorrência de uma colisão desse tipo registrada em boa qualidade e por tantos diferentes ângulos.
Com base nestas imagens e em outras informações coletadas, estima-se que a rocha espacial pesava 10 mil quilos, atingiu a atmosfera com velocidade de 30 quilômetros por segundo e ao explodir, mais ou menos a 10 quilômetros do solo, espalhou fragmentos (meteoritos) por grande parte da região.
Até agora foram contados mais de 1200 feridos, nenhum com gravidade e os maiores prejuízos são materiais, como vidraças quebradas, devido a onda de choque da explosão na atmosfera.
Apesar das vítimas sem gravidade e dos prejuízos materiais, foi um acontecimento bastante interessante para os aficionados pela astronomia, como este polaco doido metido a escrevedor. Sem contar que foi filmado de vários ângulos. (Uh-huuu!)
Se um objeto de 10 toneladas, que nem é tão pesado, é a capacidade de carga de uma empilhadeira, viajando a 30 Km/s faz tanto estrago, imagine o tamanho da nossa sorte em termos poucos impactos desse tipo em nosso planetinha azul. O último grande impacto ocorreu no inicio do século passado, também na Rússia e devastou complemente mais de 2 mil quilômetros quadrados de floresta.
O Meteoro a esta velocidade, quando encontra com a atmosfera sofre uma desaceleração e atrito muito grandes. Com isso fica tudo muito, mas muito quente, este calor condensa a atmosfera ao redor do objeto, por isso da nuvem que se forma no trajeto e é também o calor do atrito com a atmosfera que causa a explosão. Esta explosão, acredito, deva-se aos diferentes matérias que compõe o meteoro, com o calor do atrito estes diversos matérias expandem-se em taxas e velocidades diferentes causando a rápida fragmentação. (corrijam se eu estiver errado, por gentileza)
Agora é esperar para que o povo da região encontre os detritos do meteoro para que a gente tenha uma idéia de qual a composição da pedra que deu o susto e o espetáculo.
Aposto uma maria-mole que era rochoso.
Polaco Doido
Entrevista com Valter Pomar: PT, um partido ímpar
Febbraio 13, 2013 22:00 - no comments yetArtigo sugerido por O Eletricitário
O jornal Página 13 entrevista nesta edição Valter Pomar, membro do Diretório Nacional do PT e Secretário Executivo do Foro de São Paulo. O dirigente petista faz uma análise da trajetória do partido que completa 33 anos, no dia 10 de fevereiro. Fala sobre os dez anos do partido frente ao Governo Federal; e a necessidade de que o Processo de Eleições Diretas, que será realizado este ano seja capaz de formular uma nova estratégia para o PT enfrentar a atual situação política, nacional e regional e mundial.
PG13 – O PT completa 33 anos no dia 10 de fevereiro. Qual é a diferença do PT de 1980 e de hoje?
Valter Pomar – A principal diferença é que hoje somos governo nacional e temos melhores condições para materializar nossas propostas. Mas conquistamos a presidência de República em condições muito diferentes daquelas que existiam em 1980 ou em 1989. O PT é diferente, o Brasil é diferente, a América Latina e o mundo são diferentes.
PG13 – O que mudou desde fundação do PT para cá?
Valter Pomar – De maneira geral, a onda neoliberal que começou nos anos 1970 afetou negativamente o mundo do trabalho, as nações em desenvolvimento, o estado de bem estar europeu, o socialismo de tipo soviético e causou imensos estragos na cultura progressista, democrática, de esquerda em todo o mundo. Tudo isto constrange o potencial de um governo de esquerda.
PG13 – Como, apesar deste contexto negativo, o PT ganhou as eleições presidenciais?
Valter Pomar – Há várias causas. O neoliberalismo chegou tardiamente no Brasil, quando já estava refluindo no resto do mundo. Em parte por isto, em parte por nossas virtudes, conseguimos impedir os tucanos de implementar o neoliberalismo até o fim: por exemplo, preservamos estatais importantes, como o Banco do Brasil e a Petrobras. O que quer dizer que a correlação de forças aqui não era tão negativa quanto em outras partes. Por outro lado, apesar de também ter sido impactado, o PT conseguiu ampliar sua influência eleitoral nos anos 90, o que funcionou como um contraponto ao refluxo das lutas sociais naquele mesmo período e funcionou como um acúmulo de forças fundamental para entender a vitória de 2002. E, por fim, há um fato importantíssimo: uma parte da burguesia brasileira estava descontente com o fundamentalismo neoliberal de FHC e não fez contra Lula 2002 o que havia feito contra o Lula 1989. Essas são algumas das causas que nos levaram a vencer. A correlação de forças não impediu o PT de ganhar as eleições presidenciais de 2002, mas produziu um governo muito diferente do que faríamos, por exemplo, se tivéssemos vencido em 1989. Naquela época teríamos um governo de esquerda, já a partir de 2003 tivemos um governo de centro-esquerda.
PG13 – Em que o PT avançou?
Valter Pomar – Aqui é preciso distinguir as coisas. O PT nos anos 80 era o partido da luta contra a ditadura e contra a transição conservadora, um partido de oposição, ancorado nas lutas sociais e no socialismo como objetivo. Já nos 90 nos convertemos em alternativa de governo contra o neoliberalismo. E a partir de 2003, viramos o partido do presidente da República. Assim, do ponto de vista de massa, nossos êxitos se confundem com os êxitos do governo, que de maneira muito resumida consistem em ter melhorado a vida do povo, recuperado o papel do Estado e adotado uma política de integração regional. Numa frase, estamos nos desfazendo da herança maldita do neoliberalismo. Mas o Partido não pode ser avaliado apenas pelo que fez ou deixou de fazer enquanto governo. Temos objetivos históricos que vão muito além daquilo que um governo é capaz de fazer. E, neste aspecto, o balanço é mais contraditório.
PG13 – Você acha que nesses anos o PT retrocedeu?
Valter Pomar – As pesquisas, inclusive as nossas, mostram que o PT segue sendo o partido com maior apoio popular, 24%, muito à frente do segundo colocado, que é o PMDB, com 6%. Mas somos os maiores, num ambiente em que cai o número de brasileiros e brasileiras que manifestam preferência por algum partido: 61% em 1988, 44% em 2012. De maneira geral, podemos dizer que nos últimos dez anos melhoraram as condições materiais de vida do povo brasileiro, mas a subjetividade popular não acompanhou o ritmo. Por subjetividade, eu me refiro ao ambiente cultural em geral, à postura dos meios de comunicação e da indústria cultural, à qualidade da educação pública, à auto-organização social, à democratização da política e à vida interna dos partidos. No concreto: hoje no PT temos mais filiados-eleitores que filiados-militantes. E nossa vida interna, nosso debate, está longe, muito longe, da que necessitamos para governar e principalmente transformar profundamente o país.
PG13 – Apesar disto, podemos falar que o PT é hoje o maior partido de esquerda da América Latina e um dos maiores do mundo?
Valter Pomar – Eu evito usar esta expressão, porque me recorda uma frase de um ministro da ditadura militar acerca da Arena. Brincadeiras a parte, o PT não é dos maiores partidos do ponto de vista numérico. Pode ser que esteja enganado, mas acho que o percentual de brasileiros filiados ao PT é inferior ao de uruguaios filiados à Frente Ampla. Aliás, o PT precisa crescer muito em número de filiados, o que exigirá garantir a existência de núcleos, de formação e de comunicação partidária. Mas voltando a tua pergunta, embora numericamente possamos não ser os maiores, ao menos proporcionalmente, do ponto de vista político o PT é visto hoje como um dos partidos mais importantes do mundo e da América Latina. Não apenas porque governamos o Brasil, com os êxitos já citados, mas também porque expressamos uma esquerda que soube resistir relativamente bem à crise do socialismo soviético e da social-democracia.
PG13 – Quais os principais desafios do Partido para o próximo período?
Valter Pomar – Um dos desafios é não viver do passado glorioso, nem se conformar com o presente exitoso. Noutras palavras: o PT não pode virar um partido que tem um grande passado pela frente. Até porque, se fizermos isto, seremos derrotados pela direita, que está se renovando, se reciclando, nos atacando e experimentando caminhos para nos derrotar. Outro desafio é deixar de ser um partido de anos pares, ou seja, um partido que vive fundamentalmente em função dos processos eleitorais, dos governos, dos mandatos parlamentares e do pagamento das dívidas das campanhas anteriores. Temos quer voltar a ser um partido que atua também nos anos ímpares e que sabe combinar luta social, luta ideológica, construção e partidária, com disputa eleitoral, ação parlamentar e governamental. Foi com esta combinação de formas de luta que acumulamos forças para vencer em 2002. Um terceiro desafio é construir uma estratégia que nos permita passar para uma nova etapa, uma etapa de reformas estruturais no país. Aqui, em minha opinião, trata-se de atualizar o programa e a estratégia democrático-popular e socialista que o PT elaborou nos anos 80. Até porque, o sucesso relativo de nossa ação governamental está recolocando os dilemas estratégicos que o Brasil viveu naquela época. Evidentemente, um quarto desafio é a reeleição para a presidência em 2014, ampliar nossa presença nos governos estaduais e nos parlamentos.
PG13 – Neste ano, além das comemorações dos 33 anos do PT, o partido realiza o Processo de Eleições Diretas. Qual é a importância do PED?
Valter Pomar – Depende. Se o regulamento do PED for respeitado, ou seja, se houver debate, democracia interna e, principalmente, se pararmos de importar para dentro da nossa vida interna práticas oriundas das eleições tradicionais, se tudo isto for feito, o PED pode ser muito importante para formular uma nova estratégia para o PT enfrentar a nova situação política, nacional e regional e mundial. Resumidamente: em parte por causa dos efeitos da crise, em parte porque a burguesia não gosta da combinação de salários altos e desemprego baixo, está ocorrendo uma mudança na postura do grande capital frente ao governo federal encabeçado pelo PT. Ou seja, estão deixando de existir aquelas condições excepcionais que permitiram a um governo de centro-esquerda, liderado por Lula, melhorar a vida dos pobres e garantir grandes lucros aos ricos. O PED é o momento de debater esta nova situação e de decidir que caminho seguir. Claro que haverá os que defendem que o caminho a seguir é fazer concessões ao capital, via concessões, desonerações, subsídios e flexibilizações na legislação trabalhista e social. Confio, entretanto, que a maioria do Partido vai optar por outro caminho: mais democracia, reformas estruturais, fortalecer o mundo do trabalho, reafirmar nossos compromissos socialistas.
PG13 – O que diria para o militante petista e para o simpatizante do partido nos 33 anos do PT? Qual é hoje o principal inimigo e a principal ameaça ao PT?
Valter Pomar – Se me pedem para escolher um, eu diria que o principal inimigo é o monopólio da mídia. Hoje, as grandes empresas de comunicação são o quartel-general da direita, dos conservadores. Não apenas do antipetismo, mas anti-esquerda, anti-movimentos sociais, anti-democracia. Agora, a principal ameaça que paira sobre nós é a postura conivente, complacente, tímida, recuada, com que alguns setores do PT e da esquerda em geral tratam este tema. O inimigo está na dele, está fazendo o seu papel, que é o de nos desmoralizar para nos destruir. O problema está em como atuamos frente a isto. Temos que construir os nossos meios de comunicação próprios, temos que democratizar a verba publicitária dos governos que dirigimos, temos que fazer cumprir as leis (por exemplo, parlamentares não podem ser proprietários de concessões públicas de rádio e TV) e temos que alterar a legislação que regula a comunicação social.
PG13 – Mas o PT já está há dez anos no governo e, como você diz, pouco avançamos na tão sonhada democratização da comunicação. Por quê?
Valter Pomar – Na minha opinião, prevaleceu no governo uma linha incorreta, de conciliação com as grandes empresas de comunicação. O problema de fundo é o seguinte: a saúde é um direito público, a educação é um direito público, é dever do Estado garantir estes direitos, podendo o setor privado ter um papel complementar, mas sob supervisão pública. Pois bem: na comunicação deveria valer o mesmo critério. Mas na prática segue prevalecendo o contrário: a informação e a comunicação são controlados pelo setor monopolista privado, com quase nenhuma supervisão pública, mas com amplo financiamento público via propaganda governamental. Nós temos os recursos humanos e financeiros necessários para ter uma comunicação pública de imensa qualidade, assim como para ter uma comunicação privada democrática e plural; falta vontade política. E temos a obrigação de democratizar as verbas publicitárias, muito mais do que aquilo que já foi feito.
PG13 – Quero insistir no assunto governo. Em 2013, o partido também comemora os 10 anos do Governo Democrático e Popular. O PT conseguiu os avanços a que se propôs enquanto governo e se manteve fiel à sua plataforma?
Valter Pomar – Não foram dez anos de governo democrático-popular. Foram dez anos de governo federal encabeçado pelo PT. Assim está, aliás, no documento que convoca o Quinto Congresso petista. Infelizmente, na hora de dar nome ao evento, acho que alguém ficou com medo de melindrar os aliados com a história de encabeçado pelo PT; e como falar de governo de centro-esquerda é meio frustrante, tacaram a expressão democrático-popular. Sei que para alguns pode parecer uma firula terminológica, mas não é: precisamos exatamente de um governo que faça reformas estruturais no país, por exemplo, a tributária e a agrária, e o nome que sempre demos a isto foi exatamente governo democrático-popular. Feita esta ressalva, a resposta a tua pergunta é: mais ou menos. A plataforma do PT não foi globalmente executada nestes dez anos de governo. Em alguns casos, porque a correlação de forças impediu; noutros casos, porque durante muitos anos prevaleceu no Partido a tese de que é melhor um mal acordo do que uma boa briga. Apesar disto, estes dez anos podem e devem ser comemorados: com todas as limitações e contradições, trilhamos o caminho da superação do neoliberalismo, melhoramos a vida do povo e incentivamos a integração regional. Historicamente, não é pouca coisa. Mas, também historicamente, não é o suficiente. A desigualdade continua brutal, a maioria do povo ainda não tem acesso ao bem-estar social, a democracia política continua refém das elites.
PG13 – Você é um dos dirigentes da Articulação de Esquerda, tendência petista que este ano está comemorando 20 anos de fundação. De que forma a AE colaborou para a construção do PT e no que continua a colaborar?
Valter Pomar – Nos anos 80, a tendência hegemônica no PT era a chamada Articulação. Depois de 1989, houve um grande debate no Partido e nesta tendência, sobre como atuar no contexto da ofensiva neoliberal e da crise do socialismo. Este debate resultou, primeiro, numa guinada à direita, que se tivesse prevalecido teria transformado o PT num partido social-democrata. Num segundo momento, como reação, houve um giro à esquerda: entre 1993 e 1995, uma precária maioria de esquerda controlou o Diretório Nacional do PT. Num terceiro momento, a maioria de esquerda foi desalojada: perdemos o 10º Encontro Nacional do PT por apenas 2 votos na tese guia e 16 votos na escolha do presidente do Partido. Durante dez anos, entre 1995 e 2005, a esquerda partidária cumpriu um papel de resistência, oscilando entre 45% e 30% do Diretório Nacional. A Articulação de Esquerda vertebrou, ao lado de tendências como a Democracia Socialista e a Força Socialista, esta resistência. Certamente cometemos muitos erros, mas olhando para trás acho que cumprimos um papel importante para o PT: sem nós, sem a pressão que exercíamos, a maioria moderada do PT poderia ter levado o Partido para um caminho de desacumulação de forças. Dou como exemplos disto: a tentativa de fazer o PT participar da revisão constitucional, que poderia ter nos custado algumas estatais; a tentativa de aprovar o parlamentarismo, que inviabilizaria de fato o governo Lula; a tentativa de lançar outro candidato presidencial, que não Lula, em 1998; e as ridículas tentativas de tratar o PSDB como nosso aliado, tentativas que até recentemente causaram desastres, como em Belo Horizonte.
PG13 – Qual é o principal legado da AE e desafios daqui para frente?
Valter Pomar – Acho que nosso principal legado foi o que ajudamos a fazer em 2005. Naquele ano, a direita se empenhou a fundo em destruir o PT. Aproveitou-se, para isto, de erros cometidos por setores do próprio Partido. E, frente ao ataque da direita, outros setores do Partido se acovardaram ou ficaram em tamanha defensiva que não conseguiam, nem mesmo, dizer um único motivo para acreditar, defender e votar no PT. Nós da Articulação de Esquerda, igual a outros setores do petismo, não titubeamos em defender o PT e acho que cumprimos ali um papel muito importante. Embora, é preciso dizer, o papel fundamental tenha sido cumprido pelo petista anônimo, aquela montanha de gente que não apenas foi votar no PED de 2005, mas defendeu o PT na rua.
PG13 – A AE terá candidato no PED. Quem será? Qual a plataforma da corrente para o PT?
Valter Pomar – Teremos candidato, que pode ser alguém da própria Articulação de Esquerda, neste caso provavelmente eu mesmo, assim como pode ser alguém integrante de outro setor, desde que óbvio tenha identidade programática com aquilo que defendemos. Nossa plataforma estará disponível em março, no endereço www.pagina13.org.br Seu componente central é: uma nova estratégia para um novo período. Basicamente, defendemos que é preciso passar da ênfase na superação do neoliberalismo, para a ênfase nas reformas estruturais. E que para isto é preciso outro tipo de comportamento partidário: mais mobilização, mais organização de base, mais formação, mais comunicação, mais defesa do projeto socialista. Um partido também para os anos ímpares, como creio já ter dito antes.
PG13 – Qual é a sua avaliação sobre a crise de 2005 e a AP 470?
Valter Pomar – A crise de 2005 tem duas facetas: por um lado, o ataque hipócrita da direita, que tentou transformar um caso de caixa 2 numa crise constitucional e no supostamente maior escândalo de corrupção na história do país; por outro lado, os erros de importantes dirigentes, que se terceirizaram parte das finanças partidárias para um criminoso tucano chamado Marcos Valério. Como a direita não conseguiu nos destruir em 2005, nem conseguiu nos derrotar em 2006 e 2010, abriu-se para eles o caminho da judicialização da política em geral, e para esta estratégia o caso de 2005 caia como uma luva. Por isto sempre afirmei que o processo no Supremo Tribunal Federal resultaria em condenações. Curiosamente, alguns dos condenados achavam o contrário. A mesma ilusão de classe que os levou a promiscuidade com Marcos Valério, os levou a acreditar no suposto caráter técnico da corte suprema. Claro que para fazer as condenações, foi necessário criar uma nova jurisprudência. Aos inimigos, nem mesmo a lei…
PG13 – O que você pensa sobre os atos que são organizados Brasil afora pelo companheiro José Dirceu?
Valter Pomar – Eu penso que ele está no direito dele se defender, até porque sua condenação foi sem provas. Mas se eu fosse ele, agiria totalmente diferente. Primeiro, pelo papel que ele jogou na construção do PT e na direção do Partido durante a primeira fase do governo Lula, acho que ele tem a obrigação de apresentar um balanço crítico e autocrítico de sua atuação. Em segundo lugar, acho que ele deveria acompanhar as deliberações do Diretório Nacional do PT acerca do assunto, que evitam cair na armadilha montada pela direita, que pretende transformar as condenações de alguns filiados em condenação de todo o Partido. Na minha opinião, Dirceu não percebe que a tarefa de defender o PT não deve ser confundida com a tarefa de defender os condenados pelo STF. Em terceiro lugar e mais importante, eu teria enfrentado este tema ainda em 2005, assumindo a responsabilidade política pelos erros cometidos. Se tivéssemos feito isto, estaríamos todos nós, ele inclusive, em melhor condição, agora.
PG13 – Então você acha que estes atos não ajudam ao Partido?
Valter Pomar – Como disse, acho que o Dirceu tem o direito de se defender. E acho que os militantes que se sentem solidários a ele, podem e devem participar. Mas na minha opinião política, estes atos não ajudam o Partido, não ajudam o governo e não ajudam os condenados. O PT deve continuar denunciando os atropelos cometidos pelo STF, deve continuar prestando solidariedade aos condenados, sem que isto implique em deixar de reconhecer os graves erros que foram cometidos. Mas a defesa do PT passa pela ação do Partido em torno dos grandes temas da pauta nacional. Quem quer e precisa colocar este tema no centro da pauta é a direita, não nós.
PG13 – Qual é a posição da AE a respeito da reforma agrária? Qual é a avaliação da corrente sobre a atuação do governo nesta área?
Valter Pomar – Somos totalmente a favor da reforma agrária. Tanto antes, quanto agora. Seja para combater a inflação, seja por segurança alimentar, seja para democratizar a propriedade e o poder, a reforma agrária é fundamental. O desempenho dos nossos governos, nesta área da reforma agrária estritamente falando, é medíocre. O correto seria que a reforma agrária tivesse a mesma importância e a mesma qualidade que a política agrícola, o apoio aos assentados e aos pequenos produtores.
PG13 – Financiamento Público de campanha é fundamental para que?
Valter Pomar – Para que haja democracia. Hoje, a eleição é deformada pelo poder do dinheiro. Não há democracia que resista a isto. E, como a grana chama grana, o investimento das empresas na democracia gera leis e governos em favor das empresas doadoras, gerando também corrupção. A corrupção é um efeito colateral inevitável do financiamento privado empresarial das campanhas eleitorais.
PG13 – Qual é a pauta prioritária para o PT no próximo período? Na sua avaliação em que devemos centrar nossas lutas?
Valter Pomar – Politicamente falando? Reforma política e democratização da comunicação. O PT tem que aproveitar este ano, aproveitar o PED, aproveitar seu Congresso, para debater com a sociedade brasileira sobre os grandes temas de nosso país, sobre o balanço de nossos governos, sobre os desafios futuros e sobre os grandes obstáculos políticos a este futuro, hoje: a influência do poder econômico nas campanhas eleitorais e a deformação informativa e comunicacional imposta pelos monopólios da mídia.
PG13 – E com a classe trabalhadora qual deve ser a nossa relação?
Valter Pomar – O PT continua sendo o Partido preferido pela maior parte dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras. E também somos o partido preferido da maior parte dos militantes sociais. O problema é que a pauta da mobilização social, no sentido amplo da palavra, não apenas reivindicativo, não ocupa um lugar central na agenda das direções partidárias. Ao lado deste problema, que vem dos anos 1990, há um problema novo: o surgimento de uma nova classe trabalhadora, geracionalmente e sociologicamente, isto que alguns chamam indevidamente de nova classe média. O PT precisa buscar este setor, organizá-lo, mobilizá-lo, impedir que a direita o hegemonize. Em especial a juventude, com destaque para a juventude trabalhadora, que tem que ser reconquistada pelo PT. E para isto precisamos de uma conduta muito forte, que vai desde o funcionamento e postura do PT e da Juventude Petista, passando por fortalecer nosso agir cultural, as politicas de governo etc.
PG13 – E com os países da América Latina, da Europa que encontra-se em crise e EUA?
Valter Pomar – O PT tem uma política internacional bastante ativa, mas os recursos humanos e materiais disponíveis são ínfimos perante a imensidão da tarefa. Na secretaria de relações internacionais do PT temos, contando dirigentes e funcionários, sete pessoas. Quando contamos isto para os chineses ou para os franceses, eles não conseguem acreditar: seus departamentos de relações internacionais contam com mais gente. Se o PT quiser ampliar sua influência internacional, precisamos conhecer mais, elaborar mais, difundir mais o que fazemos e ter presença física mais intensa em todo o mundo. Não são tarefas difíceis em si, apenas exigem recursos, empenho e paciência para formar novos quadros. Felizmente, embora o PT estrito senso tenha pouca gente envolvida, o petismo no sentido amplo da palavra é muito presente na vida internacional, através dos nossos quadros que atuam na área, seja em movimentos sociais, ONGs, nas universidades e centros de pesquisa, governos e parlamentos. Este petismo internacionalista é fundamental para o PT e muitas vezes é o que suplemente a debilidade do aparato partidário.
PG13 – O que é ser socialista e defender o PT?
Valter Pomar – É fazer o que fazemos. Claro que quando eu vou a algumas atividades, onde a mesa de debate é composta apenas por organizações de ultra-esquerda, uma mais radical que a outra, é difícil. Mas quando eu lembro que o Brasil real é completamente diferente da composição daquela mesa de debate, quando eu lembro que a esquerda brasileira detém apenas 30% do parlamento nacional, quando eu lembro o ódio que a burguesia, a direita e o PIG têm contra o PT, quando eu penso no papel que o PT e o governo brasileiro jogam no mundo, quando eu penso no quanto melhorou a vida do povo nesses dez anos, aí eu acho que defender o PT é uma das coisas mais fáceis e necessárias.
De maneira similar, quando vou a reuniões dominadas por gente acrítica e burocratizada, que acham que está tudo 100% bem, que tem como horizonte máximo administrar, fica difícil. Mas basta mudar de ambiente, para ver que há dezenas ou centenas de milhares de petistas que não querem apenas governar, querem transformar o país e o mundo. Que não aceitam o neoliberalismo e o capitalismo como horizontes intransponíveis. E que não entraram no PT para fazer carreira, para ter cargos, mas sim para organizar e potencializar sua militância. Nestas horas, eu continuo achando válida uma opinião que eu tinha nos anos 80, ou seja, que o petismo pode ser o socialismo adequado às condições brasileiras. A conferir, pois esta história ainda está sendo escrita.
Manter o subsídio na tarifa do transporte é um péssimo negócio!
Febbraio 13, 2013 22:00 - no comments yetO blogueiro profissional, Esmael Moraes, divulgou uma sondagem da Paraná Pesquisas indicando que 86% dos curitibanos desejam que o governo Richa continue subsidiando parte da tarifa do transporte público na capital.
Tenho cá para mim que 86% dos entrevistados foram induzidos ao erro assim como muitos curitibanos ainda favoráveis a manutenção deste subsídio.
O subsídio à tarifa do transporte coletivo não é nenhuma novidade, mas tornou-se muito suspeito no inicio de 2011. Quando Richa se tocou de que a candidatura de seu fiel escudeiro, Luciano Ducci, estava afundando e, para piorar as coisas, uma greve do transporte público paralisou a capital por três dias, forçando um aumento na catraca de R$ 2,50 para R$ 2,80.
É evidente que este reajuste de 30 centavos por embarque, em pleno ano eleitoral, decretaria a derrota antecipada de Ducci nas eleições de outubro. Além disso, se Ducci não concedesse o reajuste, perderia o apoio dos empresários do transporte, o que também se traduziria em derrota antecipada no pleito eleitoral.
Para resolver este dilema, o governador Richa, aliado e principal interessado da eleição de Ducci, resolveu salvar seu pupilo da degola e bancar com o dinheiro do estado o reajuste da tarifa.
Com isso a tarifa do transporte em Curitiba ficou assim:
R$ 2,60 do bolso dos usuários.
+ R$ 0,14 do governo do estado.
+ R$ 0,06 da prefeitura municipal
= R$ 2,80 tarifa técnica (aqui)
Para o exercício de 2013, os empresários do transporte coletivo alegam que o custo da tarifa técnica é R$ 3,10 um reajuste de 10% com relação aos custos da tarifa técnica em 2012.
Se a prefeitura e o governo do estado mantiverem este subsídio de 20 centavos por passageiro, a tarifa irá para R$ 2,90. Para amenizar o golpe nos usuários o subsídio também deverá sofrer um reajuste.
Mas, vamos respirar e analisar a situação com mais calma.
Não existe mal nenhum em os governos subsidiarem um serviço essencial como é o transporte público. Na verdade, se o transporte público fosse gratuito ou, pelo menos, tivesse uma tarifa social que não pesasse no bolso do trabalhador, seria até uma atitude louvável.
Porém…
Ora, 10% de reajuste é muito mais que a inflação acumulada durante o ano passado (5,84%), muito mais que os aumentos em qualquer um dos itens utilizados nos cálculos de custo da tarifa técnica (aqui).
Já vêm de longa data as suspeitas de que existem sérias irregularidades nas contas da URBS. Em 2002 o ex-vereador Adenival Gomes, já cobrava informações a respeito destas contas e, até hoje, ainda nada foi divulgado. Pior ainda é que as prestações de contas da URBS, corriqueiramente vem sendo rejeitadas pelo Tribunal de contas. Apesar de tudo isso, nada acontece. Ou melhor, acontece sim, ano após ano os prefeitos da vez fazem as vontades da URBS e dos empresários do transporte, sem nunca questionar.
Tem caroço nesse angu
Desde a implantação do plano real em 1994, a inflação acumulada, segundo as análises mais pessimistas, é de algo próximo de 300%.
No mesmo ano de 1994, o custo da passagem de ônibus na cidade era de R$ 0,40.
Se fosse aplicado somente o pior cenário inflacionário de 1994 até hoje, a passagem estaria custando R$ 1,60.
Mas com o subsídio o valor atual é de R$ 2,80 ou seja, um aumento muito superior à inflação acumulada no período. Duas vezes mais que a inflação acumulada nos últimos 19 anos.
Sim, é claro que este cálculo é muito vago e carente de variáveis, mas não deixa de ser um excelente ponto de partida para uma profunda reflexão.
Com isso posto, ficam muito claras as suspeitas de que existe algo de muito sujo na relação Empresas do transporte + URBS + Prefeitura de Curitiba. Existem fortes indícios de irregularidades já há muito tempo e estas irregularidades precisam ser apuradas com a máxima urgência.
Manter os subsídios nas tarifas do transporte, apesar de todas estas suspeitas é um crime contra o patrimônio público. É enviar dinheiro público para a iniciativa privada sem nenhuma prestação de contas.
Fica a questão:
Quem realmente lucra com o subsidiado transporte público de Curitiba?
( ) os empresários do transporte
( ) a prefeitura de Curitiba
( ) a URBS e seus conselheiros
Tenho minhas suspeitas. A URBS é uma sociedade anônima de capital fechado, ou seja, tem entre seus sócios pessoas físicas e jurídicas, não necessariamente ligadas ao poder público. Muita gente enriqueceu rápida e facilmente dentro da empresa. Seria preciso apenas que alguém investigasse o histórico financeiro destes sócios e conselheiros.
Em tempo:
Já faz tempo que o portal transparência da prefeitura de Curitiba está fora do ar. Será que o prefeito não pagou pelos serviços ao ICI?
Polaco Doido
O fim do conservadorismo católico de Roma?
Febbraio 10, 2013 22:00 - no comments yetCom o fim da segunda Guerra mundial, o mundo se viu num estado de profundas transformações sociais, estruturais e tecnológicas. Todas as instituições tiveram que se adaptar a estas mudanças e com a Igreja Católica não foi diferente, era preciso dizer adeus à idade média para sobreviver como instituição
Sob o comando de Paulo VI (63-78) a igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), viveu um período de mudanças. As missas passaram a ser celebradas na língua nativa dos fies, até então eram celebradas exclusivamente em latim com o celebrante de costas para os fiéis. A ICAR abriu canais de diálogo com outras instituições religiosas e iniciou debates sobre temas considerados intocáveis até então, como sexualidade, controle de natalidade, divórcio transformando-se em uma instituição com responsabilidades sociais e não apenas com as velhas atribuições essencialmente espirituais.
Claro estas aberturas deveram-se muito mais a seu antecessor, João XXIII (58-63) que ciente das profundas alterações sociais no mundo do pós-guerra, convocou o concílio Vaticano II (62-65), na tentativa de preparar a Igreja Católica para o Segundo Milênio.
Estas reformas não foram bem recebidas pelos setores mais conservadores da Igreja, Paulo VI era assumidamente um conservador. Nem é de se entranhar que todos seus sucessores, igualmente conservadores, foram nomeados por ele para compor o Colégio Cardinalício (João Paulo II em 67, João Paulo I em 73 e bento XVI em 77).
Wojtyla e Ratzinger, durante seus papados se empenharam muito na tarefa de exterminar todos os “movimentos sociais” nascidos dentro da igreja graças as aberturas promovidas pelo Concílio Vaticano II. O extermínio do movimento Teologia da Libertação, criado por religiosos ligados a movimentos sociais é apenas um dos exemplos.
Durante a Terceira Conferência Geral do Episcopado latino Americano, realizada na cidade de Puebla no México em 1979, os bispos reunidos alertaram que as desigualdades e injustiças na América Latina eram os fatores geradores da pobreza desumana vivida por milhões de latino americanos. Não combater estas desigualdades e injustiças seria um escândalo e uma contradição com modo de ser cristão.
Apesar disso, tanto João Paulo II, quanto Bento XVI, fizeram vistas grossas a estas constatações. Preferiram focar seus pontificados em assuntos mais espirituais ou escandalosamente absurdos, como a proibição de todo e qualquer método contraceptivo de Wojtyla ou a perseguição implacável aos homossexuais de Ratzinger.
O discurso social foi completamente abolido e criminalizado dentro da ICAR, qualquer menção a idéia de igualdade social é vista como uma teoria diabolicamente marxista. Pois segundo os doutrinadores da igreja, a única salvação é o paraíso celeste e este só é alcançado através da oração, do sacrifício e do sofrimento.
Com isso, a ICAR vem perdendo cada vez mais e mais fiéis para as igrejas pentecostais com suas teologias da prosperidade. Assim a igreja romana volta-se quase que exclusivamente para os poderosos ou abastados. Os ex-fiéis e fiéis descontentes indagam-se sobre os rumos e escolhas da instituição. Lógico que estes descontentamentos e estas indagações transformam casos pontuais de corrupção e/ou pedofilia dentro da igreja em eventos supostamente corriqueiros.
Talvez tenha sido por isso que Bentão Nazi 16 pediu pra sair.
Mas a saída de Bentão não implica necessariamente em mudanças ou da retomada do rumos da ICAR numa cruzada por justiça social, como aquela pregada por Jesus Cristo em seus sermões.
Esta mudança deve ser estrutural, infelizmente todas as lideranças sociais de dentro da igreja foram dizimadas. Hoje a igreja confunde justiça social com caridade e caridade, como todos deveriam saber: A caridade não passa de um luxo, ela alimenta os pobres do mesmo modo que alimenta os cães abandonados.
Segundo o pensamento conservador da Santa Igreja Católica Romana, pobres são como cães e devem ser tratados como tal pelas almas caridosas.
E vai continuar assim, a tendência é aumentar cada vez mais o abismo entre os abastados servos da igreja e os cães dependentes da caridade.
Polaco Doido
A peculiaridade brasileira
Febbraio 8, 2013 22:00 - no comments yetDescaradamente surrupiado do Terror do Nordeste

Nos seus derradeiros momentos como senador, Fernando Henrique Cardoso andava pelos corredores do Congresso acompanhado por Norberto Bobbio. Digo, carregava um ensaio do pensador italiano, a analisar um assunto veementemente provocado pela queda do Muro de Berlim: ainda vale falar de direita e esquerda?
A direita mundo afora decretava o fim das ideologias, -enquanto a esquerda mostrava-se reticente. Bobbio entrou em cena e afirmou: nada disso, a dicotomia não se apaga, seria como pretender negar o bem e o mal, a luz e a sombra, a verdade e a mentira. E a verdade, no caso, é outra.
A tese de Bobbio pode ser resumida na seguinte ideia: é automática e naturalmente de esquerda quem se preocupa com os destinos dos desvalidos do mundo e se empenha pela igualdade. Recordam? Liberdade, igualdade, fraternidade. A liberdade por si só não basta à democracia, a igualdade é fundamental. Quanto à fraternidade talvez seja admissível substituí-la pela solidariedade.
A julgar pelo desvelo de ponta de dedos com que FHC carregava o livrinho (ia escrever, sobraçava, mas a obra é de porte modesto) me entreguei à suposição de que o futuro presidente da República rendia-se de bom grado aos argumentos do autor, a confirmar crenças pregressas. No entanto, pouco tempo após, soletraria: esqueçam o que eu disse.
À sombra de FHC presidente, o PSDB tornou-se um partido de direita. Em lugar de abrandá-las, acentuou as disparidades ao aderir à religião neoliberal e sujeitar-se às vontades e interesses do Tio Sam. Sem contar a bandalheira da privataria, a compra dos votos a favor da reeleição e o “mensalão” tucano.
Ao entrevistar o presidente Lula no fim de 2005, pergunto se ele é de esquerda, responde nunca ter sido. “Você sabe disso”, diz, ao recordar os velhos tempos em que nos conhecemos, já faz 36 anos. Jogo na mesa a carta de Norberto Bobbio, observo: “Você sempre lutou a favor da igualdade”.
Deste ponto de vista, há toda uma orientação esquerdista nas políticas sociais implementadas pelo governo Lula e hoje fortalecidas por Dilma Rousseff. E é de esquerda em mais de um aspecto a política econômica do governo atual, mais ousada do que a do anterior ao se desvencilhar das injunções neoliberais.
Nada irrita e assusta mais a direita brasileira do que qualquer tentativa de demolir de vez a senzala. É o que me permito explicar ao correspondente de um jornal americano, perplexo diante dos comportamentos da mídia nativa, sempre alinhada de um lado só. Digo: ela é o instrumento da casa-grande. O estupor do colega do Hemisfério Norte não arrefece: “Mas os governos Lula e Dilma produziram bons resultados para todos, senhores incluídos…”
Defronto-me, de súbito, com a dificuldade de aclarar uma situação incompreensível aos olhos do semelhante civilizado, capaz de usar, para medi-la, o metro próprio da contemporaneidade do mundo. E aos meus condoídos botões segredo: difícil, difícil mesmo, talvez impossível, trazer à luz da atualidade este cenário tão peculiar, de um país que viveu três séculos e meio de escravidão e que, de certa forma, ainda não digeriu o seu passado.
O jornalista americano arregala os olhos: “Mas como é possível que Dilma Rousseff tenha índices de aprovação elevadíssimos e sofra ao mesmo tempo o ataque maciço da mídia?” A presidenta, respondo, pretende erradicar a miséria… Logo percebo que a peculiaridade verde-amarela envolve o próprio governo. Há momentos em que Dilma parece isolada. Solitária. Ela é obrigada à aliança com o PMDB para garantir a maioria em um Congresso inconfiável e a postura do próprio PT é, no mínimo, dúbia. Falta ao Brasil desta hora um verdadeiro partido social-democrático, esquerdista no sentido de Norberto Bobbio.
Mino Carta.