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"O HOMEM NOVO" 84 anos de CHE Guevara

14 de Junho de 2012, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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O HOMEM NOVO por CHE Guevara
Querido companheiro: Acabei estas notas na viagem pela África, animado com o desejo de cumprir, ainda que tardiamente, minha promessa. Quis fazer tratando o tema do título. Creio que poderia ser interessante para os leitores uruguaios.
Che Guevara com 1 ano -1929

14/06 aniversário

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CHE GUEVARA - DISCURSO falando ao público





É comum escutar das bocas dos porta-vozes capitalistas, como um argumento na luta ideológica contra o socialismo, a afirmação de que este sistema social ou o período de construção do socialismo nos qual estamos reunidos, se caracteriza pela abolição do indivíduo dos altares do Estado. Não pretenderia refutar esta afirmação sobre uma base meramente teórica, senão para estabelecer os fatos tal qual se vivem em Cuba e agregar comentários de índole geral. Primeiro esboçarei as grandes marcas da história de nossa luta revolucionária antes e depois da tomada do poder.

Como é sabido, a data precisa em que se iniciaram as ações revolucionárias que culminariam no dia 1º de janeiro de 1959, foi o dia 26 de julho de 1953. Um grupo de homens dirigidos por Fidel Castro atacou de madrugada o Quartel de Moncada, na província do Oriente. O ataque foi um fracasso, o fracasso se transformou em desastre e os sobreviventes foram parar na cadeia, para reiniciar, logo que foram anistiados, a luta revolucionária.
Durante o processo, no qual somente existiam gérmens de socialismo, o homem era um fator fundamental. Nele se confiava, individualizado, específico, com nome e sobrenome, e de sua capacidade de ação dependia o triunfo ou o fracasso do que se pretendia.
Chegou a etapa da guerrilha. Esta se desenvolveu em dos ambientes distinto: o povo, que ainda não estava desperto e que teríamos que mobilizar, e sua vanguarda, a guerrilha, a força motora da mobilização, gerador de consciência revolucionária e de entusiasmo combativo. Foi esta vanguarda o agente catalizador, que criou as condições subjetivas necessárias para a vitória. No marco do processo de proletarização de nosso pensamento, da revolução que se operava em nosso hábitos, em nossas mentes, o indivíduo foi o fator fundamental. Cada um dos combatentes de Serra Maestra que alcançara algum grau superior nas forças revolucionárias, tem uma história de fatos notáveis em seu crédito.
Com base nisto conquistavam níveis mais altos.
Foi a primeira época heroica, na qual competiam para alcançar um cargo maior de responsabilidade, de maior perigo, sem outra satisfação que não o cumprimento do dever. Em nosso trabalho de educação revolucionária, voltamos a este tema edificante, frequentemente. Na atitude de nossos combatentes se vislumbra o homem do futuro.
Em outras oportunidade de nossa história se repetiu o fato da entrega total a causa revolucionária. Durate a crise de outubro ou nos dias do ciclone “Flora”, vimos atos de valor e sacrifício excepcionais realizados por todo um povo. Encontrar a fórmula para perpetuar na vida cotidiana essa atitude heroica, é uma de nossas tarefas fundamentais do ponto de vista ideológico.
Em janeiro de 1959 se estabeleceu o governo revolucionário com a particpação de vários membros da burguesia entreguista. A presença do Exército Rebelde constituia a garantia de poder, como fator fundamental de força.
Se produziram em seguida contradições sérias, decididas em primeira instância em fevereiro de 1953 quando Fidel Castro assumiu a liderança do governo no cargo de primeiro-ministro. Este processo , culminou em júlio do mesmo ano, ao renunciar o presidente Urrutia mediante a pressão das massas.
Aparecia na história da Revolução Cubana, agora com características nítidas, uma personagem que se repetirá sistematicamente: a massa (o Povo).
Este ente multifacético não é, como se pretende, a soma de elementos da mesma categoria (reduzidos à mesma categoria, pelo sistema imposto), que atua como um manso rebanho. É verdade que segue sem vacilar aos seus dirigentes, fundamentalmente a Fidel Castro, mas o grau em que ele ganhou essa confiança responde precisamente à interpretação cabal dos desejos do povo, de suas aspirações, e a luta sincera pelo cumprimento das promessas feitas.
O povo participou na Reforma Agrária e no difícil empenho da administração das empresas estatais; passou pela experiência heroica da Praia Girón; se forjou nas lutas contra os diferentes lados de bandidos armados pela CIA; viveu uma das definições mais importantes dos tempos modernos na crise de outubro e segue hoje trabalhando na construção do socialismo.
Vendo deste ponto de vista superficial, poderia parecer que tem razão aqueles que falam da subordinação do indivíduo ao Estado; a massa realiza com entusiasmo e disciplina sem igual as tarefas que o governo fixa, seja de índole econômica, cultural, de defesa, desportiva etc A iniciativa parte, geralmente, de Fidel ou do alto comando da Revolução e é explicada ao povo que a toma como sua. Outras vezes, experiências locais são tomadas pelo partido e o governo para estender para outras localidades.
Algumas vezes o Estado se equivoca. Quando isso ocorre, se nota um declínio no entusiasmo coletivo pelo efeito de uma diminuição quantitativa de cada um dos elementos que a forma, e o trabalho é paralisado até ficar reduzido à proprorções insignificantes: é o momento de retificar.
Assim aconteceu em março de 1962 diante da política sectária imposto ao partido por Aníbel Escalante.
Ë evidente que o mecanismo não basta para assegurar uma sucessão de medidas sensatas e que falta uma conexão mais estruturada com a massa. Devemos melhorar isto durante o curso dos próximos anos, mas, no caso das iniciativas surgidas nos estratos superiores do governo, utilizamos por agora o método quase intuitivo de auscultar as reações gerais frente aos problemas propostos.
Mestre nisto é Fidel, cujo particular modo de integração com o povo somente pode ser avaliado, assistindo-o atuar. Nas grandes concentrações públicas se observa algo como o diálogo de dois diapasões cujas vibrações provocam outras novas no interlocutor. Fidel e a massa começam a vibrar num diálogo de intensidade crescente até alcançar o clímax num final abrupto, coroado por nosso grito de luta e de vitória.
O mais difícil de entender para quem não vive a experência da Revolução é essa estreita unidade dialética existente entre o indivíduo e a massa, onde ambos se interrelacionam e, por sua vez, a massa, como conjunto de indivíduos, se interrelaciona com os dirigentes.
No capitalismo podemos ver alguns fenômenos deste tipo quando aparecem políticos capazes de alcançar a mobilização popular, mas se não é um autêntico movimento social, em cujo caso não é plenamente lícito falar de capitalismo, o movimento viverá a vida de quem o impulse ou até o fim das ilusões populares, imposto pelo rigor da sociedade capitalista. Nesta, o homem que está dirigido por um frio ordenamento não tem o domínio de sua compreensão. O espécime humano, alienada tem um cordão umbilical invisível que o liga `a sociedade em seu conjunto: a lei do valor. Ela atua em todos os aspectos de sua vida, vai modelando seu caminho e seu destino.
As leis do capitalismo, invisíveis para as pessoas comuns e cegas, atuam sobre o indivíduo sem que este se dê conta. Vê apenas a vastidão do horizonte que parece infinito. Assim apresenta-se a propaganada capitalista que pretende extrair do caso Rockefeller – verídico ou não - , uma liçào sobre as possibilidade de êxito. A miséria que é necessário acumular para que surja um exemplo assim e a soma de ruindades que acarreta uma fortuna dessa magnitude, não aparecem no quadro e nem sempre é possível as forças populares aclarar estes conceitos. (Caberia aqui a análise sobre como nos países imperialistas os operários vão perdendo seu espírito internacional de classe ao influxo de uma certa cumplicidade na exploração dos países dependentes e como este fato, ao mesmo tempo, lima o espírito de luta das massas no próprio país, mas isso é um tema que sai da intenção destas notas.)
De toda forma, se mostra o caminho com obstáculos que, aparentemente, um indivíduo com as qualidades necessárias pode superar para chegar a meta. O prêmio se avista longe; o caminho é solitário. Portanto, é uma corrida com lobos: somente se pode chegar sobre o fracasso de outros.
Tentarei, agora, definir o indivíduo, ator desse estranho e apaixonamente drama que é a construção do socialismo, em sua dupla existência de ser único e membro da comunidade.
Creio que o mais simples é reconhecer-se em sua incompletude, de produto inacabado. As falhas se movem para o presente na consciência individual e há que fazer um trabalho contínuo para erradicá-las.

O processo é duplo, por um lado atua a sociedade com sua educação direta e indireta, por outro, o indivíduo se submete a um processo consciente de autoeducação.
A nova sociedade em formação tem que competir duramente com o passado. Isto faz com que se sinta só na consciência individual, no que pese os resíduos de uma educação sistematicamente orientada ao isolamento do indivíduo, assim como pelo caráter mesmo deste período de transiçao, com a persitência das relações mercantilistas.
A mercadoria é a célula econômica da sociedade capitalista; enquanto exista, seus efeitos se farão sentir na organização da produção e, consequentemente, na consciência.
No esquema de Marx se concebia o período de transição como resultado da transformação explosiva do sistema capitalista destroçado por suas contradições; posteriormente pudemos ver como se desgarram da árvore imperialista alguns países que constituem as ramas débeis, fenômeno previsto por Lenin. Nestes, o capitalismo se desenvolveu de forma suficiente para se fazer sentir seus efeitos, de um modo ou outro, sobre o povo, que esgotadas todas as suas possibilidades, sem que isto seja uma contradição, pularam fora do sistema. A luta de libertação contra um opressor externo, a miséria provocada por acidentes estranhos, como a guerra, cujas consequências fazem as classes privilegiadas cair sobre os explorados, os movimentos de libertação destinados a derrotar regimes neocoloniais, são só fatores habituais de desencadeamento. A ácão consciente faz o resto.
Nestes países não se produziu, ainda, uma educação completa para o trabalho social e a riqueza está longe de estar ao alcance das massas mediante o simples processo de apropriaçào. O subdesenvolvimento por um lado e a habitual fuga de capitais até países “civilizados” por outro, torna impossivel uma mudança rápida e sem sacrifícios. Resta uma grande caminho a percorrer na construção da base econômica e a tentação de seguir os caminhos trilhados do interesse material, como alavanca impulsora de um desenvolvimento acelerado, é muito grande.
Corremos o perigo de que as árvores impeçam de vermos o bosque. Perseguindo a quimera de realizar o socialismo com ajuda das armas desdentadas que nos legou o capitalismo (a mercadora como célula econômica, a rentabilidade, o interesse material individual como alavanca etc), se pode chegar a um beco sem saída. E após ter percorrido uma grande distância em que os caminhos se entrecruzam muitas vezes e é difícil perceber o momento emque tomou o caminho errado. Entretanto, a base econômica adaptada fez o seu trabalho de minar o desenvolvimento da consciência. Para construir o comunismo, simultaneamente com base material há que fazer um homem novo.
Por isso é tão importante eleger corretamente o instrumento de mobilizaçào das massas. Esse instrumento deve ser de índole moral, fundamentalmente, sem esquecer uma correta utilização do estímulo material, sobretudo de natureza social.
Como já disse, em momentos de perigo extremo é fácil potencializar os estímulos morais; para manter sua vigência é necessário o desenvolvimento de uma consciência em que os valores adquiram categorias novas. 
A sociedade em seu conjunto deve converter-se em uma gigantesca escola.
As grandes linhas do fenômeno são similiares ao processo de formação da consciência capitalista em sua primeira época. O capitalismo recorre a força, mas, além disso, educa as pessoas no sistema. A propaganda direta se realiza pelos encarregados por explicar a inevitabilidade de um regime de classe, ou seja de origem divino ou por imposição da natureza como ente mecânico. Isto aplaca as massas que se veem oprimidas porum mal contra o qual não é possível a luta.
Na continuação vem a esperança e nisto se diferencia dos anteriores regimes de casta que não davam saída possível.
Para alguns continuará vigente todavia a fórmula de casta: o prêmio aos obedientes consiste na chegada, depois da morte, a outros mundos maravilhosos onde os bons sãopremiados, com o que se segue a velha tradição. Para outros, a inovação: a separação em classes é fatal, mas os indivíduos podem sair daquela a qual pertencem mediante o trabalho, a iniciativa etc Este processo, e o de autoeducação para o triunfo, devem ser profundamente hipócritas; é a demonstração interessada de que uma mentira é verdade.
Em nosso caso, a educação direta adquire uma importância muito maior. A explicação é convincente porque é verdadeira; não precisa de subterfúgios. Se exerce atráves do aparato educativo do Estado em função da cultura geral, técnica e ideológica, por meio de organismo tais como o Ministério de Educação e o aparato de divulgação do partido. A educação prende as massas e a nova atitude preconizada tende a se converter em hábito; a massa vai se apropriando e pressiona aos que não se educaram. Esta é a forma indireta de educar as massas, tao poderosa como aquela outra.
Mas o processo é consciednte; o indivíduo recebe continuamente o impacto do novo poder social e percebe que não está completamente adequado a ele. Sob a influência da pressão que supõe a educação indireta, trata de acomodar-se a uma situação que sente justa e cuja própria falta de desenvolvimento é que a impediu de estudar até este momento. Se autoeduca.
Neste período de construção do socialismo podemos ver o homem novo que vai nascendo. Sua imagem não está ainda acabada; não poderia estar já que o processo marcha paralelo ao desenvolvimento de novas formas econômicas. Descontando aqueles cuja falta de educação os faz tender a um caminho solitário, a autosatisfação de suas ambições, mas há os que estão dentro deste novo panorama de marcha conjunta, porém tem a tendência de caminhar isolados da massa que os acompanham. O importante é que os homens vão adquirindo a cada dia mais consciência da necessidade de sua incorporação à sociedade e ao mesmo tempo de sua importância como motores dela mesma.
Já não marcham completamente sós, pelas veredas perdidas em direção às aspirações distantes. Seguem a sua vanguarda, constituida pelo partido, pelos operários mais adiantados, pelos homens mais avançados que caminham ligados às massas e em estreita comunhão com elas. As vanguardas tem sua vista posta no futuro e em sua recompensa, mas esta não se vislumbra como algo individual; o prêmio é a nova sociedade onde os homens terão características distintas; a sociedade do homem comunista.
O caminho é grande e repleto de dificuldades. Ás vezes, por tomar uma estrada errada há que retroceder; outras, por caminhar apressado demais, nos separamos das massas; em outros por caminhar lentamente, sentimos a respiração próxima daqueles que nos pisam os calcanhares.
Em nossa ambição de revolucionários, tratamos de caminhar tão apressados o quanto possível, abrindo caminhos, mas sabemos que temos que nos nutrir da massa e que esta somente poderá avançar mais rápido se a inspiramos com nosso exemplo.
Apesar da importância dada aos estímulos morais, o fato de que exista a divisão dos grupos principais (excluindo, claro está, a fração minoritária dos que não participam, por uma razão ou outra na construção do socialismo), indica a relativa falta de desenvolvimento da consciência social. O grupo de vanguarda é ideoligicamente mais avançado que a massa; esta conhece os novos valores, mas insuficientemente. Enquanto nos primeiros se produz uma mudança qualitativa que lhes permite ir ao sacríficio em sua função de avançada, os segundos somente veem as médias e devem ser submetidos ao estímulos e pressões de certa intensidade; é a ditadura do proletariado exercendo-se não somente sobre a classe derrotada, mas também individualmente, sobre a classe vencedora.
Tudo isto implica para seu êxito total, a necessidade de uma série de mecanismos, as instituições revolucionárias. Na imagem das multidões marchando em direção ao futuro, se encaixa o conceito de institucionalização como o de um conjunto harmônico de canais, escalões, represas, aparatos bem aceitos azeitados que permitam essa marcha, que permitam a seleção natural dos destinados a caminhar na vanguarda e que concedam o prêmio e o castigo aos que cumprem ou atentem contra a sociedade em construção.

A institucionalização da revolução ainda não foi alcançada. Buscamos algo novo que permitirá a perfeita identificação entre o governo e a comunidade em seu conjunto, ajustada às condições peculiares da construção do socialismo e fugindo ao máximo dos lugares comuns da democracia burguesa, transplantado à sociedade em formação (como as câmaras legislativas, por exemplo).
Houve algumas experiências que visam criar paulatinamente a institucionalização da Revolução, mas sem muita pressa. O freio maior que temos tido, tem sido o receio que qualquer aspecto formal nos separe das massas e do indivíduo, e nos faça perder de vista a última e mais importante ambição revolucionária que é ver o homem livre de sua alienação.
Não obstante a carência de instituições, o que deve superar-se gradualmente, agora que as massas fazem a história como um consciente coletivo de indivíduos que lutam por uma mesma causa. O homem, no socialismo apesar de sua aparente padronização é mais completo; apesar da falta de mecanismos perfeitos para ele, sua possibilidade de expressar-se e fazer-se sentir no aparato social é infinitamente maior.
Todavia é preciso acentuar sua participação consciente, individual e coletiva, em todos os mecanismos de direção e de produção e ligá-la às ideias da necessidade de educação técnica e ideológica, de maneira que sinta como estes processos são estreitamente interdependentes e que seus avanços são paralelos. Assim alcançará a total consciência do ser social, o que equivale a sua realização plena como criatura humana, rompidas as cadeias da alienação.
Isto se traduzirá concretamente na reconquista de sua natureza através do trabalho libertado e a expressão de sua própria condição humana através da cultura e da arte.
Para que se desenvolva na primeira, o trabalho deve adquirir uma nova condição; a mercadoria homem cessa de existir e se instala um sistema que outorga uma cota pelo cumprimento do dever social. Os meios de produção pertencem a sociedade e a máquina é somente a trincheira onde se cumpre o dever. O homem começa a libertar seu pensamento tema repugnante que supunha a necessidade de satisfazer suas necessidades animais mediante o trabalho. Começa a se ver retratado em sua obra e a compreender sua magnitude humana através do objeto criado, do trabalho realizado. Isto já não implica deixar uma parte de seu ser em forma de força de trabalho vendida, que não lhe pertence mais, mas que significa uma emanação de si mesmo, uma contrubuição à vida comum em que se reflete; o cumprimento de seu dever social.
Fazemos todo o possível para dar ao trabalho esta nova categoria de dever social e uni-lo ao desenvolvimento da técnica por um lado, o que dará condições para uma maior liberdade e ao trabalho voluntário por outro, baseados na apreciação marxista de que o homem realmente alcança sua plena condição humana, quando produz sem a compulsão da necessidade física de vender-se como mercadoria.
Óbvio que há aspectos coercitivos no trabalho, mesmo quando sendo voluntário; o homem não transformou toda a coerção que o rodeia em reflexo condicionado de natureza social e no entanto, produz, em muitos casos, sob pressão do meio (Fidel chama de compulsão moral). No entanto falta e ele o conseguir a completa recreação espiritual diante de sua própria obra, sem a pressão direta do meio social, mas ligada a ele pelos novos hábitos. Isto será o comunismo.
A mudança não se produz automaticamente na consciência, como não se produz tampouco na economia. As variações são lentas e não são rítmicas; há períodos de acelaração, outros pausados e inclusive, de retrocesso.
Devemos considerar, também como apontamos antes, que não estamos lidando com um período de transição puro, tal como disse Marx na “Crítica do programa de Gotha”, como uma nova fase não precista por ele; primeiro período de transição do comunismo ou da construção do socialismo.
Isto trancorre em meio de violentas lutas de classe e com elementos do capitalismo em seu sio que obscurecem a compreensão cabal de sua essência.
Se agregamos a isto, a escolástica que freiou o desenvolvimento da filosofia marxista e impediu o tratamento sistemático do período, cuja economia política não se desenvolveu, devemos convir que ainda estamos na infância e é preciso dedicar-se a investigar todas as características primordiais do mesmo, antes de elaborar uma teoria econômica e política de maior alcance.
A teoria que resulte levará uma indefectivelmente vantagem aos dois pilares da construção: a formação do homem novo e o desenvolvimento da técnica. Em ambos os aspectos nos falta muito por fazer, mas é menos desculpável o atraso enquanto a concepção da técnica como base fundamental, já que aqui não se trata de avançar às cegas senão de seguir durante uma boa parte do caminho aberto pelos países mais adiantados do mundo. Por isto, Fidel bate com tanta insistência sobre a necessidade da informação tecnológica e científica de todo nosso povo e especialmente, de sua vanguarda.
No campo das ideias que conduzem a atividades improdutivas, é mais fácil ver a divisão entre a necessidade material e espiritual. Desde muito tempo o homem trata de libertar-se da alienação mediante a cultura e a arte. O homem morre diariamente por 8 horas ou mais em que atua como mercadoria para ressuscitar em sua criação espiritual. Mas este remédio porta os gérmens da mesma enfermidade; é um ser solitário o que busca a comunhão com a natureza. Defende sua individualidade oprimida pelo meio e reage diante das ideias estéticas como um ser único cuja aspiração é permanecer imaculado.
Se trata somente de uma tentativa de fuga. A lei de valor não é um mero reflexo das relações de produção; os capitalistas monopolistas a rodeiam com um complicado andaime que a converte numa serva dócil, mesmo quando os métodos que a empregam sejamm puramente empíricos. A superestrutura impõem um tipo de aarte no qual há que educar os artistas. Os rebeldes são dominados pela maquinaria e somente os talentos excepcionais poderiam criar sua própria obra. Os restantes recebem salários vergonhosos ou são triturados.
Se inventa a pesquisa artística que se dá como determinante de liberdade, mas esta “investigação” tem seus limites, imperceptiveis até que se defronte com eles, quer dizer, de propor os reais problemas do homem e sua alienação. A angústia sem sentido ou o passatempo vulgar constituem válvulas cômodas da inquietude humana; se combate a ideia de fazer da arte, uma arma de denúncia.
Se as leis do jogo são respeitadas se consegue todas as honras; que poderiam ter um macaco para inventar piruetas. A condição não é tentar escapar da jaula invisível.
Quando a Revolução tomou o poder ocorreu o êxodo dos amestrados; os outros revolucionários ou não, vieram a um caminho novo. A pesquisa artística cobrou um novo impulso. Sem dúvida, os caminhos estavam mais ou menos traçadas e o sentido do conceito fugaz, se escondeu por trás da palavra liberdade. Nos revolucionários se manteve muitas vezes esta atitude, reflexo do idealismo burguês na consciência.
Nos países que passaram por um processo similar se pretendeu combater estas tendências com um dogmatismo exagerado. A cultura geral se converteu quase num tabu e se proclamou como o máximo da aspiração ideal, quase sem conflitos nem contradições, que se buscava criar.
O socialismo é jovem e tem muito erros. Os revolucionários carecem, muita vezes, dos conhecimentos e da audácia intelectual necessários para encarar a tarefa do desenvolvimento de um homem novo por métodos distintos dos convencionais e os métodos convencionais sofrem a influência da sociedade que os criou. (Outra vez se sugere o tema da relação entre a forma e o conteúdo.) A desorientação é grande e os problemas da construção material nos absorvem. Não há artistas de grande autoridade e, por sua vez, tenham grande autoridade revolucionária.
Os homens do partido devem tomar essa tarefa entre as manos e conseguir alcançar o objetivo principal: educar o povo.
Se busca então a simplificação, o que todo mundo entende, o que os funcionários entendem. Se anula a autêntica pesquisa artística e se reduz o problema da cultura geral a uma apropriaçào do presente socialista e do passado morto (que não é perigoso). Assim nasce o realismo socialista sobre as bases da arte do século passado.
Mas a arte realista do século XIX, também é de classe, mas puramente capitalista, talvez que esta arte decadente do século XX, onde transparece a angústia do homem alienado. O capitalismo na cultura deu tudo de si e nada fica nela a não ser o anúncio de um cadáver malcheiroso; na arte,k sua decadência de hoje. Mas por quê pretender encontrar nas formas congeladas do realismo socialista a única receita válida? Não podemos nos opor ao realismo socialista “a liberdade”, porque esta não existe, não existirá até o completo desenvolvimento da sociedade nova; mas que não se pretenda condenar todas as formas de arte posteriores a primeira metade do século XIX desde o trono pontifício do realismo até a morte, pois se recairia em erro proudhoniano de retorno ao passado, colocando em si mesma a camisa de força da expressão artística do homem que nasce e se constroi hoje.
Falta o desenvolvimento de um mecanismo ideológico-cultural que permita a pesquisa e roçar a erva-daninha, que se multiplica com tanta facilidade no terreno fértil da subvenção estatal.
Em nosso país, o terror do mecanismo realista não ocorreu, mas o seu oposto. E foi por não compreender a necessidade da criação do homem novo, que não fosse o que representa as ideias do século XIX, tampouco as de nosso século decadente e mórbido. O homem do séculoXXI é o que devemos criar, ainda que seja uma aspiração subjetiva e não-sistematizada. Precisamente este é um dos pontos fundamentais de nosso estudo e de nosso trabalho e na medida em que alcancemos êxitos concretos sobre uma base teórica ou vice-versa, extrairemos conclusões teóricas de caráter amplo sobre a base de nossa pesquisa concreta, teremos dado uma contribuição valiosa para o marxismo-leninista, para a causa da humanidade.
A reação contra o homem do século XIX, nos trouxe a reincidência no no decadente século XX; não é um erro grande ou grave mas devemos superá-lo, sob pena de abrirmos uma grande brecha para o revisionismo.
As grandes multidões vão se desenvolvendo e as novas ideias alcançam uma dinâmica maior no seio da sociedade, as possibilidades materiais de desenvolvimento integral de absolutamente todos os seus membros, tornam o trabalho muito mais frutífero. O presente é de luta; o futuro é nosso.
Resumindo a culpabilidade de muitos de nós intelectuais e artistas reside em seu pecado original; não são autenticamente revolucionários. Podemos tentar enxertar no olmo para que dê peras; mas simultaneamente temos que semear peras. As novas gerações venderão livros do pecado original. As probabilidades de que surjam artistas excepcionais seão tanto maiores quanto mais se ampliar o campo da cultura e a possibilidade de expressão. Nossa tarefa consiste em impedir que a geração atual deslocada por conflitos se perverta e perverta as novas. Não devemos criar servidores dóceis ao pensamento oficial nem os “estagiários” que vivam ao amparo do orçamento, exercendo uma liberdade entre aspas. Logo virão os revolucionários que entoem o canto do homem novo com a autêntica voz do povo. É um processo que requer tempo.
Em nossa sociedade, a juventude e o partido jogam um grande papel. Particularmente importante é a primeira; por ser a argila maleável com que se pode construir o homem novo sem nenhuma das marcas anteriores.
A juventude recebe tratamento de acordo com nossas ambições. Sua educação é cada vez mais completa e não nos esquecemos de sua integração no trabalho desde os primeiros instantes. Nossos estagiários fazem trabalho físico em suas férias ou simultaneamente com o estudo. O trabalho é um prêmio em certos casos, um instrumento de educação, em outros, jamais um castigo. Uma nova geração nasce.
O partido é uma organização de vanguarda. Os melhores trabalhadores são nomeados por seus companheiros para integrá-los. Este é pequeno mas de grande autoridade pela qualidade de seus quadros. Nossa aspiração é sermos um partido das massas, mas quando as massas alcançarem o nivel de desenvolvimento da vanguarda, quer dizer, quando estejam educadas para o comunismo. O objetivo da educação é o trabalho. O partido é o exemplo vivo; seus quadros devem ensinar o trabalho duro e o sacrifício, devem levar às massas com sua ação, ao fim da tarefa revolucionária, o que implica anos de duro de luta contra as dificuldades da construção, os inimigos de classe, os vícios do passado, o imperialismo...
Quero explicar agora o papel que joga a personalidade, o homem como indivíduo dirigente das massas que fazem história. É a nossa experiência, não uma receita.
Fidel deu à Revolução o impulso aos primeiros anos, a direção, a tônica sempre, mas há um bom grupo de revolucionário que se desenvolvem no mesmo sentido que o líder e uma grande massa que segue aos seus dirigentes porque acredita neles; e por que acredita neles, porque eles tem sabido interpretar seus desejos.
Não se trata de quantos kilos de carne se come ou de quantas vezes por ano possa passear na praia, nem de quantas maravilhas que vem do exterior possam comprar com os salários atuais. Se trata, precisamente, de que o indivíduo se sinta mais pleno, com muito mais riqueza interior e com muito mais responsabilidade. O indivíduo de nosso país sabe que a época gloriosa que sabe que vai viver é de sacrifício; conhece o sacrifício.
Os primeiros o conheceram na Serra Maestra e onde quer que tenha lutado; depois o conhecemos por toda Cuba. Cuba é a vanguarda da Am'rica e deve fazer sacrifícios porque ocupa o lugar de mais avançada, porque indica às massas da América Latina o caminho da liberdade plena.
Dentro do país, os dirigentes tem que cumprir seu papel de vanguarda; e, tenho que dizer com toda sinceridade, em uma revolução verdadeira, que deu todo seu empenho, da qual não se espera nenhuma retribuição material, a tarefa do revolucionário de vanguarda é por sua vezmagnifíca e angustiante.
Deixe-me dizer, com o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor. É impossível pensar em um revolucionário auntêntico sem esta qualidade. Talvez seja um dos grandes dramas do dirigente; este deve unir a um espírito apaixonado uma mente fria e tomar as decisões mais dolorosas sem que se contraia um músculo. Nossos revolucionários de vanguarda tem que idealizar esse amor aos povos, às causas mais sagradas e fazê-lo único, indivisível. Não podem deixar de ir com sua pequena dose de carinho cotidiana até os lugares onde o homem comum se dedica.
Os dirigentes da revolução tem filhos que começam a falar e não aprendem a dizer o nome do pai; mulheres que devem ser parte do sacrifício geral de sua vida para levar a revolução ao seu destino; o âmbito dos amigos responde estreitamente ao âmbito dos companheiros da revolução. Na há vida fora dela.
Sob estas condições, há que se ter uma grande dose de humanidade, uma grande dose de sentido.
de justiça e da verdade para não cair em extremos dogmáticos, em escolasticismo frios, em isolamento das massas. Todos os dias há que lutar porque esse amor à humanidade vivente se transforme em fatos concretos, em atos que sirvam de exemplo, de mobilização.
O revolucionário, motor ideológico da revolução dentro de seu partido, se consome nessa atividade ininterrupta que só tem como fim, a morte; ao menos que a construção se alcance em escala mundial. Se seu afã de revolucionário fica embotado quando as tarefas mais urgentes são realizadas em escala local e esquece o internacionalismo proletário, a revolução que lidera deixa de ser força motriz e assume uma cômoda letargia, aproveitada por nossos inimigos irreconciliáveis, o imperialismo, ganha terreno. O internacionalismo proletário é um dever mas também é uma necessidade revolucionária. Assim educamos o nosso povo.
C;aro que há perigos presentes nas atuais circunstâncias. Não somente o do dogmatismo, não somente o de congelar as relações com as massas em meio da grande tarefa; também existe o perigo das fraquezas em que se pode cair. Se um homem pensa que para dedicar sua vida inteira à recoluçao, no pode distrair sua mente pela preocupação de que falte uma determinada coisa a um filho, que os sapatos das crianças estejam estragados, que sua família falte um determinado bem necessário, sob este pensamento deixa infiltrar os germens da futura corrupção.
Em nosso caso, temos mantido que nossos filhos devem ter e deixar de ter e do que falta aos filhos dos homem comum; e nossa família deve compreender e lutar ele. A revoluçao se faz através do homem, mas o homem tem que forjar dia a dia seu espírito revolucionário.
Assim vamos marchando. A frente da imensa coluna – não nos avergonha nem nos intimida de dizer – vai Fidel, depois, os melhores quadros do partido e imediatamente, tão próximo que se sente sua enorme força, vai o povo em seu conjunto; sólida armação de individualidades que caminham até seu fim comum; indivíduos que alcançaram a consciência do que é necessário fazer; homens que lutam para sair do reino da necessidade e entrar no reino liberdade.
Essa imensa multidão se organiza; sua organiação responde a consciência da necessidade do mesmo; já não é força dispersa, divisível em milhares de pedaços disparados no espaço como fragmentos de granada, tratando de alcançar por qualquer meio, em luta renhida com seus iguais uma posição, algo que permita apoio diante do futuro incerto.
Sabemos que há sacrifícios diante de nós e que devemos pagar um preço pelo feito heroico de sermos uma nação de vanguarda. Nós, líderes, sabemos que temos que pagar um preço por ter o direito de dizer que estamos na cabeça de um movimento, frente ao povo que está na cabeça da América.
Todos e cada um de nós paga pontualmente sua cota sacrifício, conscientes de receber o prêmio na satisfação do dever cumprido, conscientes de avançar com todos até o homem novo que se vislumbra no horizonte.
Permitam-me algumas conclusões:
nós, socialistas, somos mais livres porque somos mais plenos; somos mais plenos por sermos mais livres.
O esqueleto de nossa liberdade completa está formada, falta a substância protéica e a roupagem; criaremos.
Nossa liberdade e a sua sustentam o cotidiano qe tem cor de sangue e estão plenos de sacrifício.
Nosso sacrifício é consciente; cota para pagar a liberdade que construimos.
O caminho é longo e desconhecido em parte; conhecemos nossas limitações. Faremos o homem do século XXI: nós mesmos.
Nós forjaremos na ação cotidiana, criando um homem novo com uma nova técnica.
A personalidade joga o papel da mobilização e direção enquanto que encarna as mais altas virtudes e aspirações do povo e não se separa da rota.
Quem abre o caminho é o grupo de vanguarda, os melhores entre os bons, o partido.
A argila fundamental de nossa obra é a juventude; nela depositamos nossa esperança e a preparamos para tomar de nossas mãos, a bandeira.
Se esta carta balbuciante esclarecer alguma coisa, cumpri o objetivo pela qual a envio.
Receba nossa ritual saudação, como um aperto de mãos ou um “Ave Maria Puríssima”.
Pátria ou Morte!
(Texto dirigido à Carlos Quijano, semanário Marcha, Montevideu, março de 1965. Leopoldo Zea, Editor. Ideias sobre a América Latina. Vol. I Mexico: UNAM, 1986)
Ideas en torno de Latinoamérica




Fonte: http://amigosdatvbrasil.blogspot.com/2012/06/o-homem-novo-84-anos-de-che-guevara.html

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