Nenhum país vai transferir para nós tecnologias estratégicas; temos que desenvolvê-las com recursos próprios, afirmou o vice-almirante Farias Alves
Especialistas e a Marinha avaliam como passo importante para garantir a independência do país na exploração nuclear e a defesa da soberania nacional a criação da Amazul – Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A, estatal que terá sede na cidade de São Paulo. A lei que criou a Amazul foi sancionada em agosto pela presidente Dilma Rousseff.
Segundo o vice-almirante Paulo Maurício Farias Alves, diretor de Comunicação Social da Marinha, o conhecimento nesta área não pode ser vendido nem transferido. "As tecnologias nucleares são consideradas de natureza estratégica pelos países que as detêm e, por isso, não negociam tais conhecimentos. Portanto, as nações que se dispuserem a desenvolver um programa que envolva essas tecnologias terão que fazê-lo com recursos próprios", enfatizou.
A empresa, vinculada ao Ministério da Defesa por meio do Comando Geral da Marinha, tem como projeto a construção e manutenção de submarinos; fomento à ampliação de novas indústrias no setor nuclear e prestação de auxílio técnico; estímulo financeiro para atividades de pesquisa na área; além de capacitação de pessoal. Com foco na gestão do conhecimento, a Amazul aperfeiçoará também as tecnologias associadas às áreas do ciclo do combustível nuclear para geração de energia elétrica, produção de radiofármacos e nos sistemas nucleares de propulsão naval, incluindo projetos de reatores.
"É importante mencionar que, além dos produtos decorrentes da aplicação direta da atividade nuclear, a empresa também possibilitará o desenvolvimento de produtos em outros setores da indústria, como siderurgia, mecânica fina, eletrônica, materiais, sensores e válvulas", prevê o vice-almirante.
Para Eduardo Ítalo Pesce, especialista em Relações Internacionais e professor do Centro de Produção da Universidade do estado do Rio de Janeiro (Uerj), a criação da estatal dará um grande impulso para a formação de mão de obra qualificada na área, hoje escassa no país. Segundo ele, a alternativa prevista no projeto da empresa é o desenvolvimento dos chamados "núcleos de excelência", compostos por cientistas, engenheiros e técnicos para a realização de projetos de alta tecnologia.
"Esses existem hoje na Marinha, nas demais forças armadas, nas universidades e nas empresas do país. No entanto, necessitam ser ampliados a fim de obter maiores níveis de capacitação técnica, não só para a indústria naval e de defesa, mas para todos os setores industriais. No caso do projeto e da construção de submarinos nucleares, teremos que formar e qualificar nossos profissionais aqui no Brasil, pois certamente ninguém nos ensinará o pulo do gato", alerta o especialista.
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