25 anos do ECA: Criança é prioridade
julio 13, 2015 14:14É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
A garantia de prioridade compreende primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias, precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública, preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas e destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
Por Manolo Ramires
Terra Sem Males
Deputados desarquivam PEC que reduz idade de trabalho juvenil
julio 13, 2015 14:09Para Ciranda, projeto é um retrocesso e fere convenção da OIT.
No ano em que o Estatuto da Criança e Adolescente completa 25 anos, os congressistas continuam atacando a juventude brasileira. Após votarem a favor da redução da maioridade penal, agora eles desarquivaram a PEC 18/2011 do deputado Dilceu Sperafico(PP-PR) que reduz a idade mínima para trabalho juvenil. O deputado Max Filho (PSDB-ES) apresentou no último dia 9 requerimento de audiência pública para debater o tema com a presença da Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho.
A Proposta de Emenda Constitucional altera o inciso XXXIII do art. 7º da Constituição Federal e autoriza o trabalho sob o regime de tempo parcial a partir dos quatorze anos de idade. Atualmente, essa idade é de 16 anos. Diz o texto da constituição: “proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz ou sob o regime de tempo parcial, a partir de quatorze anos”.
Na proposta, o parlamentar paranaense argumenta que é necessário abrir o mercado de trabalho para jovens a partir de 14 anos. “As limitações ao trabalho do adolescente se justificam pela necessidade de permitir a esses jovens a oportunidade de crescimento pessoal e de conclusão dos estudos”, diz Sperafico. Na proposta, é defendido o trabalho juvenil mais cedo: “Não vejo, portanto, nenhuma incompatibilidade entre a permissão do trabalho em regime de tempo parcial, a partir dos quatorze anos, e a proteção ao adolescente”, argumenta Sperafico.
A PEC é desaprovada por entidades ligadas a defesa da Criança e do Adolescente. É o caso da Ciranda (Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência). O educomunicador Flávio Freitas, que desenvolveu atividades com adolescentes aponta contradição da iniciativa com o que é debatido pela Organização Internacional do Trabalho. “Esta proposta é Incompatível e representa mais um retrocesso nos direitos de crianças e adolescentes, viola conquistas históricas e fere compromissos internacionais assumidos pelo Brasil como as convenções da OIT que tratam do trabalho infantil e da idade mínima para o trabalho”, situa.
Audiência Pública
Pelo tema ser polêmico, a Câmara dos Deputados deve discutir a PEC em uma audiência pública. O pedido foi feito pelo deputado Max Filho (PSDB-ES). Ele solicita a presença da Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra) no debate porque “a PEC 18, de 2011, pretende abolir as restrições de acesso ao mercado de trabalho pelos adolescentes a partir dos 14 anos de idade e a Anamatra lida no dia a dia com as questões relativas ao mercado de trabalho”, solicita.
Contra a redução
102 deputados federais assinam mandado de segurança que foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) para anular a votação que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. Para a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), é inadmissível a manobra realizada pelo deputado e presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Depois de 25 anos da redemocratização, a gente ainda se submete a práticas antidemocráticas como está ocorrendo, reiteradamente, nesta Casa”, expõe Erundina.
Por Manolo Ramires
Terra Sem Males
Celebração mística abre programação do IV Congresso Nacional da CPT
julio 13, 2015 13:25Camponeses e camponesas, indígenas, agentes pastorais, militantes de movimentos sociais. Cerca de mil pessoas, de Norte a Sul do Brasil, acompanharam na manhã desta segunda-feira (13) a celebração de abertura do IV Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), realizado no campus da Universidade Federal de Rondônia (Unir) até a próxima sexta-feira (17), na capital Porto Velho.
* O repórter fotográfico Joka Madruga, editor do Terra Sem Males, está em Porto Velho (RO) para a cobertura do IV Congresso Nacional da CPT, que será realizado até a próxima sexta, dia 17.
Símbolos da Amazônia irão marcar a abertura do IV Congresso Nacional da CPT
julio 12, 2015 19:54
Dona Senhorinha, militante do Ceará, segura uma casca de cupuaçu que é um dos símbolos amazônicos. Foto: Joka Madruga
Amanhã, 13 de julho, a partir das 08h30, no campus da Universidade Federal de Rondônia (Unir), será feita a abertura do IV Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), com o tema/lema “Faz Escuro, mas eu Canto… Memória, Rebeldia e Esperança dos pobres da terra”.
Uma grande celebração inspirada nos símbolos da Amazônia dará as boas vindas aos cerca de mil participantes que vieram de todos os estados do Brasil para o Congresso.
Dom Enemésio Lazzaris, presidente da CPT, e uma trabalhadora de Rondônia acolherão os participantes.
Ao encerrar a celebração de acolhida, falarão Dom Benedito Araújo, administrador apostólico da arquidiocese de Porto Velho e representante da CNBB; a reitora da Unir, Professora Doutora Maria Berenice Tourinho; a pastora Jandira Kepper, da Igreja Luterana do Sínodo da Amazônia; Dom Antônio Possamai, bispo emérito de Ji-Paraná (RO) e Leila Denise, militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que falará em nome da Via Campesina Brasil. Fechando esse momento falará Dom Moacyr Grechi, arcebispo emérito de Porto Velho (RO) e coordenador do processo de fundação da CPT, em 1975.
O Brasil em que vivemos
Em seguida haverá uma mesa de análise de conjuntura, com Leonilde Medeiros, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); Plácido Junior, geógrafo e agente da CPT Nordeste II; Cacique Babau, do povo Tupinambá do sul da Bahia e Maria de Fátima, da Articulação Nacional dos Quilombolas.
A programação seguirá, no período da tarde, com a apresentação de 21 experiências apresentadas pelos regionais da CPT de todo o país, dentro do eixo Memória, em que serão lembrados momentos marcantes da história das lutas camponesas e da ação da CPT junto aos povos do campo nesses 40 anos.
O evento seguirá até o dia 17 de julho, no Campus da Unir, em Porto Velho (RO).
Acesse todas as informações do Congresso aqui
Cristiane Passos
Comunicação da CPT Nacional
Jornal Terra Sem Males começa a ser distribuído
julio 11, 2015 15:39Na manhã deste sábado, 11 de julho, a equipe do Terra Sem Males iniciou a distribuição de sua versão do jornal impresso após o ato dos jornalistas, realizado na Boca Maldita, em Curitiba.
O ato BASTA! foi realizado pelo Sindijor pela segunda vez na capital paranaense em protesto contra a perseguição aos jornalistas no exercício da profissão. O Sindijor também já promoveu a manifestação em diversas regionais do estado.
Após a distribuição do jornal Terra Sem Males no centro de Curitiba, o material foi entregue para dirigentes de sindicatos de bancários de todo o Paraná que participavam de um curso com o comunicador sindical Vito Gianotti, do Núcleo Piratininga de Comunicação, com sede no Rio de Janeiro.
Vito elogiou a iniciativa do Terra Sem Males estrear em sua versão impressa e manter as reportagens e produção de conteúdo também via internet.
Edições temáticas - O jornal Terra Sem Males vai manter edições temáticas e o primeiro tema abordado é “Energia para quem?”, com entrevistas, matérias, ensaios fotográficos e literários sobre a questão energética. Todo o conteúdo é inédito, mas com interface entre os veículos. Algumas das matérias do impresso estão incompletas e podem ser lidas no blog.
A edição nº 01 foi preparada pelo repórter fotográfico Joka Madruga e pela jornalista Paula Zarth Padilha, editores do blog Terra Sem Males, com a colaboração dos jornalistas e escritores Manolo Ramires, Pedro Carrano e Regis Cardoso, que também produzem conteúdo para o site.
O jornal Terra Sem Males é colaborativo e busca o jornalismo independente para promover a comunicação popular. O impresso contou com apoios culturais de entidades parceiras e o Terra Sem Males conta com espaços para anunciantes para que uma nova edição impressa seja viabilizada. Para mais informações sobre como anunciar no Terra Sem Males, envie um email de contato para fotografia@jokamadruga.com.
Saiba mais: Terra Sem Males estreia nova identidade visual e lança jornal impresso
Por Paula Zarth Padilha
Terra Sem Males
Terra Sem Males estreia nova identidade visual e lança jornal impresso
julio 11, 2015 9:00
Capa da edição impressa número 01 do Jornal Terra Sem Males, lançada neste sábado. Foto: Joka Madruga. Arte: Fábio Souza
Neste sábado, 11 de julho, o Terra Sem Males passa por uma transformação. A partir de agora, o site de notícias e as redes sociais terão nova identidade visual, que se juntarão à edição impressa do jornal Terra Sem Males, que também já está nas ruas.
As novidades que preparamos para a nova identidade visual, que tem como imagem uma pena, muito utilizada pelos povos nativos, se integram às raízes do jornalismo: a pena como ferramenta da escrita. “A expressão Terra Sem Males é dos índios guaranis e a pena liga à questão indígena, que também era uma ferramenta utilizada na escrita. É o jornalismo independente”, resume Joka Madruga, editor do Terra Sem Males.
A identidade visual e todas as suas aplicações gráficas foram desenvolvidas pelo publicitário Fábio Souza.

A venda de camisetas e outros produtos ajudarão a financiar o jornalismo independente. Em breve disponibilizaremos a loja virtual. Arte ilustrativa.
O objetivo do Terra Sem Males, que aos poucos vai ganhando forma, é contribuir com o jornalismo independente e coletivo. E para dar visibilidade às informações em forma de reportagem, o site ganhou mais um aliado: uma versão impressa do TSM.
A edição número 01 do Terra Sem Males tem fotos, entrevistas, textos literários e matérias jornalísticas inéditas. A primeira temática é energia. O jornal traz fotos do projeto Águas Para Vida, do repórter fotográfico Joka Madruga. Ele esteve em Altamira (PA) em 2013 e 2015 para retratar e contar as histórias dos moradores no entorno do rio Xingu, que serão atingidos pela construção da barragem da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. São abordagens inéditas, que começam no jornal impresso e têm a interface no blog, onde estão disponibilizadas as matérias completas.

A comercialização de canecas e outros produtos ajudarão na produção de matérias independentes. Arte ilustrativa
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Paula Zarth Padilha
Terra Sem Males
Belo Monte, os atingidos e o progresso
julio 11, 2015 7:56Entrevista com Iury Paulino, da coordenação do MAB na região Amazônica
O repórter fotográfico Joka Madruga esteve em Altamira em março de 2015 para registrar as histórias de vida dos atingidos pela barragem da construção de Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Em avançado estágio de construção, a área deverá ser alagada em setembro de 2015.
Entre tantos retratos e histórias da população, um dos representantes da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) da região amazônica, Iury Paulino, falou com exclusividade ao Terra Sem Males: “Sabíamos que esta energia não seria para o povo e o desenvolvimento prometido não iria chegar”. Confira entrevista completa:
Terra Sem Males – Quem são os atingidos pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte?
Iury Paulino: Belo Monte pelo seu tamanho afetará um conjunto muito grande da população dos 11 municípios impactados. Atinge diversos tipos de trabalhadores. Uma grande parcela do povo urbano, que vive em situações precárias próxima a igarapés, principalmente em Altamira. Que há muito tempo vivem nesta área por conta do déficit de habitação na região, uma calamidade pública. Por outro lado tem os moradores das zonas rurais, que envolvem pescadores, indígenas, agricultores familiares, garimpeiros e extrativistas que compõe a dinâmica da região neste conjunto de pessoas e categorias. É amplo.
O lago não chegará no município de Brasil Novo, mas lá tem pessoas atingidas. Quem são?
Belo Monte tem um fenômeno na região, negado pelo empreendimento, onde ela consegue atingir um conjunto de municípios e comunidades que não são diretamente afetados pelo lago. O inchaço populacional e a inflação dos preços dos alugueis obrigou as famílias que moram de aluguel a migrarem para outras cidades e a ocuparem áreas urbanas. Vitória do Xingu tem mais de mil famílias acampadas e Brasil Novo tem mais de 200 que vivem nesta condição porque não conseguem pagar aluguel. Esta situação começou a acontecer após a construção da hidrelétrica. Do mesmo jeito, acontece com o caos na questão da segurança, saúde e educação.
O que Belo Monte trará de concreto para a região de Altamira-PA? As condicionantes tem sido cumpridas?
Nesta história das condicionantes, o primeiro crime é viabilizar as políticas públicas que o povo tem direito por causa da barragem. Condicionar o povo a aceitar a hidrelétrica para ter acesso a políticas públicas. O correto é as pessoas terem acesso aos direitos independente da obra. Se a região de Altamira não fosse um bom local para construir a barragem, iria ficar sem saúde, segurança ou educação? Apesar disto, não vemos efetivamente os resultados na vida do povo. Não vemos a segurança, a educação, a saúde, a oferta de moradia, o saneamento melhorar na vida dos moradores. Ainda é difícil prever quais o benefícios que Belo Monte trará para a região. E nos projetos de reassentamentos, é claro que as famílias que saíram dos alagados e hoje moram numa área alta, sem serem casas de palafitas, estão melhores. Mas mesmo assim tem muitos problemas, como não ter casas suficientes para todos os atingidos. E nos próprios reassentamentos não tem estruturas básicas, como segurança, saúde, saneamento e estão longe do centro da cidade com dificuldade para deslocamento e às atividades econômicas que as pessoas tinham. É uma leve melhora na qualidade de vida das pessoas que conseguiram mudar, mas acompanhado de uma série de problemas.
Quem será beneficiado pela energia de Belo Monte?
Desconfiamos que a energia gerada será enviada para o sul e sudeste do país. Fala-se em 5% que ficaria na região amazônica. Por incrível que pareça, são os 5% das empresas interessadas em fazer extração de minérios na região. É um dos estados onde se tem a energia mais cara. Tem muitas famílias sem acesso a energia elétrica, apesar de ter aqui a construção de uma das maiores usinas do Brasil e já exportar energia com Tucuruí.
As indenizações pagas pela Norte Energia, aos moradores atingidos, são justas?
Não. Havia um desejo do povo em ser indenizado. E a Norte Energia incentivou isto. Hoje, este desejo se transformou no sonho em ter a moradia, pois as indenizações são muito inferiores ao que as pessoas imaginaram. Tem indenização que chega a 9 mil, 10 mil, 15 mil reais. Sem falar que a Norte Energia faz o desconto das famílias que não quitaram as áreas que ocupavam, com a Prelazia do Xingu. As indenizações são um atentado à possibilidade do povo ser reassentado. Este é um problema, porque não tem casa para todo mundo, pois eles apostaram numa adesão maior de indenizações e isto não se configurou porque as pessoas perceberam que ter moradia era melhor.
Como é feita a análise para indenizar uma família?
A Norte Energia usa o chamado “Caderno de Preço”, com base na Associação Brasileira de Normas e Técnicas. Fazem um laudo que calcula-se pelo que a família tem. E isto é um grande erro. Porque não calcula o que a pessoa pode melhorar de vida. Eles vão na palafita e fazem o levantamento do que se tem dentro. É lógico que vai ser um valor irrisório do imóvel. Só é levado em consideração o valor material, sem contabilizar a história e vivência deste povo na região. A forma mais justa de indenizar é o reassentamento.
Como são feitos os cadastros?
Foram feitos em três fases. O primeiro cadastro é o sócio ambiental, onde fazem o levantamento de quantas pessoas moram na residência e idade dos moradores. O segundo é o patrimonial, para um laudo técnico dos bens dos indivíduos cadastrados. Foram feitas promessas de que em cada palafita que tivessem duas famílias morando juntas seriam reassentadas e quem pagasse aluguel seria encaminhado para o “aluguel social” por doze meses. Grande parte destas promessas não foram cumpridas e isto que causou problemas do tamanho da obra de Belo Monte, ou seja, muito grande.
Foram construídas cerca de 4 mil casas e a demanda é de mais de 7 mil famílias. Ainda há esperanças para estas pessoas que não foram reassentadas?
A esperança é o processo de organização e mobilização social. Para a Norte Energia são favas contadas. O que eles tinham a ser considerado já foi feito. Depois do congelamento do cadastro, nós conseguimos incluir mais de 500 famílias, pois comprovamos que eram atingidos. A esperança está na luta. Não é um desejo da Norte Energia a retomada das negociações de reassentamento, pois eles querem encher o lago agora em setembro de 2015. Só a organização deste povo é que poderá dizer se serão ressarcidos por esta obra.
Qual é a atuação do Movimento dos Atingidos por Barragens em Altamira e região?
Nossa atuação não é diferente dos demais estados. Estamos alinhados pela estratégia nacional do movimento. E quando vimos para cá, foi para discutir Belo Monte e organizar o povo para fazer a resistência, porque sabíamos que ela tende a este modelo energético do Brasil que privilegia as grandes empresas, que saqueiam os recursos naturais em detrimento da vida das pessoas atingidas. Sabíamos que esta energia não seria para o povo e o desenvolvimento prometido não iria chegar, como está comprovado agora. Infelizmente não foi possível impedir a construção da usina com a organização popular. Então entramos no segundo passo do processo de lutas, que é resistir com apresentação de pautas para melhorar a vida do povo. Centramos o foco para garantir os direitos de quem é atingido.
O MAB é contra o progresso?
Não. Pelo contrario. Somos defensores do progresso. Mas o progresso que defendemos é sustentável social e ambientalmente e que seja para os trabalhadores. E não para favorecer as corporações nacionais e internacionais, mas que seja efetivamente vivido pelos trabalhadores. E Belo Monte não é progresso. É um retrocesso. É uma riqueza que o Brasil entrega para o capital que não tem compromisso com o desenvolvimento do povo brasileiro.
Como ficará Altamira e região, quando começarem as demissões dos trabalhadores excedentes da construção da barragem de Belo Monte?
É uma preocupação que temos e que ainda não tem como prever. Mas a exemplo de outras cidades que tem barragens irá aumentar a violência, a prostituição, o comércio de drogas. Me parece que este é o caminho que Altamira tomará. Conversando com alguns companheiros das comunidades rurais, eles já falam dos conflitos agrários por parte das famílias que vieram para a construção de Belo Monte. Pois não trabalham mais na construção da barragem e disputam estas áreas de terras. A usina criou muito empregos na região, mas são temporários. E atraíram muita gente. E muitos destes trabalhadores não irão embora da cidade porque criaram raízes aqui. Nós vamos continuar com a luta e organização do povo, sabendo das dificuldades da região.
Confira outras matérias sobre os atingidos por barragens em:
www.terrasemmales.com.br/aguas.
Por Joka Madruga
Terra Sem Males
Entrevista com Robson Formica: energia para quem?
julio 11, 2015 7:37O Terra Sem Males entrevistou Robson Formica, militante da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Robson fez um chamado para que o debate sobre energia elétrica ultrapasse as barreiras de técnicos, engenheiros e especialistas de consultorias.
“É necessário que haja um processo de luta social, formulação e estudo para a gente construir um caminho de enfrentamento a essa realidade, porque os setores de energia historicamente não são temas e pautas que os setores populares e progressistas se apropriam de forma aprofundada. Diferente dos temas da terra, educação e saúde em que os movimentos sindicais e populares têm uma elaboração que está muito além da sua pauta corporativa”.
Para Robson, atualmente a energia tem uma centralidade no debate da conjuntura política e econômica do país e também no nível internacional. “O interesse das grandes corporações se voltam para tentar se apropriar de bases naturais mais vantajosas e que tenham elevada produtividade”.
O MAB defende bandeiras históricas que, mesmo considerando o uso das hidrelétricas como forma mais eficiente e econômica de produção de energia, o modelo energético é construído e concebido para que essas usinas possibilitem taxa de acumulação e riqueza extremamente elevada para seus donos. “E não para garantir direitos dos atingidos, nem para ter energia barata para as populações urbanas”.
Para ele, a população local e a população que se forma em uma cidade devido à construção de usinas se deparam com uma realidade: tem muito carro, muita caminhonete. E pouco trabalho, serviço público, moradia, saneamento, educação e saúde para suportar essa nova realidade não existe.
“A construção de barragens no Brasil é uma fábrica de violações de direitos humanos. De direitos básicos, fundamentais, de sobrevivência”, denuncia Robson Formica, que explica que a construção de Belo Monte foi apresentada como um modelo paradigma de construção de hidrelétricas. “Os donos das usinas sabem que estão violando direitos, existe até um relatório, de 2010, falando sobre a padronização de violações de direitos”.
Robson também falou sobre a desproporção de valor das tarifas de energia elétrica cobradas do consumidor final, da questão do petróleo, da distribuição de lucro para acionistas e sobre o fim das concessões nos estados governados pelo PSDB. Confira a entrevista completa:
Terra Sem Males – Quem consome energia no Brasil?
Robson Formica – Hoje a energia tem uma centralidade no debate da conjuntura política e econômica do país, esse contexto de instabilidade política e econômica também no nível internacional faz com que o interesse das grandes corporações, das grandes empresas transnacionais, do imperialismo, se voltam para tentar se apropriar de bases naturais mais vantajosas e que tenham elevada produtividade quando os trabalhadores nelas atuam.
A questão da energia no Brasil, a questão das hidrelétricas, do petróleo, a questão do gás, tem uma centralidade na conjuntura, tanto nos interesses internacionais como forma de exploração capitalista. Com dificuldade de ampliar sua produção na Europa e nos Estados Unidos, nos principais países e blocos econômicos que vêm disputar esses espaços em outros territórios, então no Brasil têm uma centralidade por conta das descobertas de petróleo no pré sal e por conta de toda a capacidade produtiva que isso representa para a Petrobrás e os trabalhadores da Petrobrás que desenvolveram essa capacidade de produção.
Essa indústria do petróleo desencadeia outros processos produtivos, como construção de navios, de plataformas, de sondas, e toda a infraestrutura pra dar conta dessa exploração.
Somada a um avanço das forças conservadoras na política do país, eles colocam a questão energética no olho do furacão. Na conjuntura nacional e internacional também. Esse avanço conservador não é só no Brasil. A gente percebe isso em vários países em alguns a gente percebe a reação dos setores progressistas, como na Grécia, na Espanha. Eles escolhem a mudança do ponto de vista da classe trabalhadora. Esse contexto que a gente vem observando.
Fale sobre a questão da soberania. Sobre água, energia, petróleo.
A gente avalia que para garantir um processo com soberania será necessário um grande esforço da classe trabalhadora, dos movimentos sociais, do movimento sindical, dos movimentos populares, do conjunto da classe pra suportar essa ofensiva. É insuficiente que o governo por si só garanta isso. É preciso um esforço grande da classe trabalhadora na questão de unidade e de luta por soberania, pra que a gente não perca isso.
Nós somos a favor daquilo que foi conquistado até agora, como a participação mínima na Petrobrás, limitado a 30%, na exploração e nos consórcios, é um avanço de comparado às concessões. A questão do fundo soberano, a questão dos royalts, não tenho dúvidas que são avanços extremamente importantes. Toda classe tem que se posicionar em defesa desses avanços. Muito mais do que uma soma para referendar o que o governo faz, é também para defender os interesses da classe sem que isso seja uma contradição de que o governo respalde.
O governo obviamente tem que avançar mas vai depender da nossa capacidade de construir com a massa e da luta popular para empurrar o governo mais para a esquerda e para mais avanços.
E a questão da água como fonte de energia, a bandeira forte do MAB. Por que a construção de novas hidrelétricas ainda é vista como bom investimento para o uso da energia, qual a posição do MAB?
O modelo que está vigorando hoje para o setor elétrico, o setor energético, é a forma mais eficiente, a mais econômica, a melhor forma deste ponto de vista, o que vai refletindo, propondo, debatendo hoje está para além somente do atingido. Essa é a nossa principal bandeira histórica. Do ponto de vista da análise é preciso avançar na reflexão, na leitura de que dentro desse modelo é praticamente impossível que os atingidos e que a população tenham seus direitos plenamente reconhecidos. O modelo é construído e concebido não para garantir direitos dos atingidos. Nem para ter energia barata para as populações urbanas. Eles estão construindo pela viabilidade das obras, e para que essas usinas possibilitem taxa de acumulação e riqueza extremamente elevada para seus donos. Há analises que mostram que quem controla as hidrelétricas têm uma taxa de acumulação extraordinária, acima da média.
A política energética é definida pelo Estado, mas a gente sabe que o Estado não é neutro. É uma composição de relação de forças que existe na sociedade, extremamente desfavorável para a classe trabalhadora, com hegemonia forte para o capital. O modelo energético é concebido para beneficiar quem representa interesses da burguesia, dos capitalistas do setor energético. A gente não tenta fazer uma análise onde a culpa não seja da tecnologia porque é muito fácil agente confundir análise do modelo com analise da matriz. Mudar a matriz energética não significa mudar o modelo energético, que no Brasil visa elevadas taxas de acumulação de capital controlada pelas grandes corporações privadas. E em contrapartida, nega e viola direitos das populações e cobram tarifas que não correspondem com a qualidade e com o custo de produção.
As matrizes energéticas eólica, solar e hidrelétrica teriam custo mais baixo que não estão sendo repassados para a população?
A matriz, por mais ambientalmente correta e sustentável que seja, não significa que vai mudar o modelo energético. A gente pode ter energia solar e essas relações sociais de como se produz e em como que o resultado econômico se transforma em benefícios para a sociedade, continuam sendo os mesmos desse modelo, de relações de exploração, relações de dominação, mesmo com a energia eólica.
A solar tem um custo mais alto. O desenvolvimento da indústria eólica permite energia relativamente barata. Mas para nós o fundamental é a mudança de modelo, seja ele a partir de qualquer matriz. A energia é serviço público, direito humano, não deve servir para que alguém ou alguma empresa explore a população através da tarifa. Ela deve ser um direito que as pessoas possam usufruir, ter direito de usar, claro que deve haver um certo equilíbrio no uso, no consumo, na racionalidade, evitar o desperdício, mas hoje tudo isso é usado como justificativa para elevar o preço. Alguns chamam de teoria da escassez, eu digo que vai fazer falta, que é finito, para mercantilizar isso e elevar o custo. Só tem quem pode pagar e pagar caro. Se apropriar e explorar o povo através da tarifa.
E quem mais consome energia no Brasil?
Quem mais consome energia são as grandes corporações, metalúrgicas, mineradoras, papeleiras, setor de celulose consumo intensivo, supermercados, shoppings, centros comerciais.
O consumo da população com eletrodomésticos equivale a esse consumo?
No ponto de vista do preço não, porque essas grandes corporações, por ter capacidade de consumo muito grande, compram direto da usina, da geradora a preço extremamente inferior ao que a população paga, pode chegar a dez vezes, doze vezes menos do que nós pagamos nas nossas casas.
O governo federal tomou uma medida importante em 2013 que foi ao vencer as concessões de parte das usinas e como o custo para construir essas usinas já tinha sido amortizado e pago, durante 25, 30 anos, o governo baixou o preço da energia. Através de uma medida provisória que virou lei. A energia saiu de um preço de 120 para 33. E a gente sentiu isso, porque a conta de luz, naquele momento, reduziu 18%.
Uma ação articulada das grandes empresas privadas do setor energético com as empresas estaduais que na época eram ligadas ao PSDB, Minas, Cemig, São Paulo na Cesp e Paraná na Copel, não renovaram, não aderiram a essa renovação de concessões que o governo federal fez nas estatais federais e articulados com as empresas privadas. Esses três estados governados pelo PSDB conseguiram promover um processo de especulação na tarifa muito grande. Principalmente no que eles chamam de tarifa no curto prazo, que são energia vendida num prazo máximo de seis meses. Com a tarifa que era 33 reais, nesse mercado da especulação estava sendo vendida a 822 reais.
Especialistas que analisam esse fenômeno, esses processos de regulação violenta dizem que essas empresas devem ter negociado algo em torno de 100 bilhões de reais. Algumas empresas que sequer produzem um quilowatt de energia elétrica, são empresas que procuram lugares onde há falta de energia e lugares onde há sobra de energia na geração. Aí o processo de especulação da compra e venda dessa energia e isso está hoje rebatendo na conta dos trabalhadores.
No Paraná, em 2015, o aumento repassado ao consumidor, foi superior a 50%. Nos últimos 4 anos de governo Richa já foi superior a 100% o aumento da tarifa. O lucro líquido das grandes empresas aumenta progressivamente. Das empresas públicas, como a Copel, também. E aí a gente percebe que há uma transferência violenta desse lucro para os acionistas e controladores da Copel. 50% do lucro líquido para acionistas. É um processo de apropriação desses instrumentos que poderiam servir como política de desenvolvimento econômico, emprego, uma estrutura menos perversa pra pequena e média indústria, pequeno e médio comercio. Há setores que também usam bastante energia e sofrem muito com o aumento da tarifa.
Por que esses dados esse balanço de remuneração de acionistas, reajuste de conta de luz, não refletem em energia mais barata para a população?
No Paraná se consome somente 20% da energia que é produzida em Itaipu, o resto é exportado. Com o sistema interligado nacional, a energia que é produzida aqui pode ser consumida em Rondônia. E a energia produzida no Pará pode ser consumida no Rio Grande do Sul. Mas há energia suficiente pra ter mais barata do que a gente paga. Depois das privatizações, o setor elétrico passou a ser organizado conforme interesses do capital especulativo e financeiro. Uma vez a Copel era só uma, agora são quatro negócios: produção transmissão, distribuição e comercialização.
E não é a vontade de um governo que vai resolver isso. É necessário que haja um processo de luta social, formulação e estudo pra gente construir um caminho de enfrentamento à essa realidade, porque o setor de energia, o setor elétrico, historicamente também não são temas e pautas que os setores populares e os setores progressistas se apropriaram de forma aprofundada. Diferente dos temas da terra, educação e saúde em que os movimentos sindicais e populares têm uma elaboração que está muito além da sua pauta corporativa. Que consegue elaborar uma formação política do todo. Na questão da energia e setor elétrico isso não está tão amadurecido, é um debate concebido como de especialistas, debate técnico, dos engenheiros, dos consultores, tanto que na grande mídia é difícil você ouvir a posição de um sindicato ou de um movimento popular sobre o tema da energia. Quem é ouvido nos grandes meios são as empresas de consultoria, os diretores de empresas privadas.
O que o MAB critica na construção da Usina de Belo Monte, em Altamira (PA)?
Os estado, o governo, setor energético apresentam Belo Monte como novo paradigma da construção de hidrelétricas. Eles têm um plano sustentável em que todos os problemas que haviam não existiriam mais. Tem muito carro, muita caminhonete e pouco trabalho. Serviço público, moradia, saneamento para suportar essa nova realidade não existem. Esse é um relato que os companheiros de lá trazem e a gente também visualiza de alguma forma porque a barragem desarruma a região, desestrutura. Você traz 100 mil pessoas com perspectiva de trabalho, benefícios, comércio ou serviço a partir da construção da usina que vem e que não tem nenhuma estrutura que vá dar conta de suportar isso.
Saúde, educação, transporte, moradia, saneamento, não dão conta. E o estado brasileiro tão pouco se preocupa com isso. Se preocupa com grandes chavões, em produzir o marketing em torno disso que não garantem direitos. Sequer das populações que vivem historicamente nessas regiões, imagina das pessoas que vão espontaneamente em busca dos benefícios da barragem. Então é um processo difícil e que só ratifica aquilo que historicamente o MAB denuncia e que o estado brasileiro já reconhece: a construção de barragens no Brasil é uma fábrica de violações de direitos humanos. De direitos básicos, fundamentais, de sobrevivência.
Os donos das usinas sabem que estão violando direitos, eles sabem que as pessoas têm direitos. O direito também passou a ser um negócio, é uma outra possibilidade de atuação econômica.
Fora a especulação imobiliária e todo esse processo perverso vai piorando a condição de vida do povo. A gente constata cotidianamente, a vida das pessoas piora onde existe barragem. Não se percebe melhora significativa nas condições de vida, de saúde, de educação. Tem iluminação diferente, umas flores nos canteiros, mas é muito cosmético. Não é essencialmente fundamental para melhorar a vida das pessoas. Não faz diferença.
A riqueza que gera e o resultado econômico que produzem são extremamente altos, poderiam ser revertidos em desenvolvimento regional, em melhoria de condições econômicas sociais e materiais da vida do povo.
E não basta uma medida pontual do governo, que também tem responsabilidade, mas é preciso construir uma correlação de forças de luta e de organização para alterar esse quadro. Só com movimento de massas forte, organizado, com nível de consciência claro do que acontece, das contradições é que a gente vai conseguir alterar esse contexto.
Como o MAB atua para modificar esse cenário?
Esse é um momento difícil de conseguir impedir a construção de usinas. A relação de forças é muito desfavorável. E num contexto onde a possibilidade de acumulação de quem controla as usinas é muito grande, nesse modelo muito mais eficiente, tenho a impressão que o capital vai avançar para todos os lugares onde puder construir usina e não só no Brasil. Há todo um mapeamento e ofensiva para todos os países da América Latina. Peru, Colômbia, Chile, Bolívia, Argentina, Guatemala, Honduras, El Salvador, México. São um conjunto de potenciais de usinas hidrelétricas que o capital vai usar.
Há um aumento da disposição de luta das populações que vão percebendo que esses projetos destroem seus modos de vida, de se organizar e aumentar sua capacidade de resistência. Não só em seu próprio território, há solidariedade dos povos nessas comunidades que lutam e resistem.
Confira outras matérias sobre os atingidos por barragens em:
www.terrasemmales.com.br/aguas.
Por Paula Zarth Padilha e Joka Madruga
Edição: Paula Zarth Padilha
Terra Sem Males
O Dia Mundial do Rock e o lugar onde os urubus plainam
julio 11, 2015 7:16E o Dia Mundial do Rock está aí, mês de julho! Lembro que na metade do mês passado eu estava a amarrar meu coturno para caminhar pelas calçadas da capital paranaense.
A direção: o Teatro Universitário de Curitiba (TUC), localizado no Largo da Ordem. O motivo? Algo que chamei de “Centro Intensivo de Reposição Energética (CIRE).
Naquela noite, já no Largo, eu literalmente “mascava o ritmo em meu bubblegum”, como escreveu Dee Dee Ramone certa vez. Senti aquela sensação juvenil de rebeldia em mais uma noite de punk rock. Na oportunidade assisti a banda antifascista italiana Los Fastidios.
Volto ao 13 de julho, data do dia em que o som mais popular do mundo é comemorado. Reflito: “mas por quê diabos eu falo de um som tão conhecido e lembro de uma noite tão underground?”.
Confesso que em tempos de coerências raras, encontrar linearidades constantes torna-se um objetivo; em qualquer lugar.
Explico.
Quando fui ver Los Fastidios, sabia o que estava por vir: música rebelde influenciada pela sonoridade do ska e pela temática de protesto vinda do reggae – ambas musicalidades originárias da Jamaica. Tudo embalado ao som do punk rock 77 inglês.
Essa junção de música e ideais retrata as claras influências da sonoridade de bandas skinheads. Também resgata toda uma cultura rebelde e da classe operária vindas da Europa; que influencia movimentos sindicais e também a luta operária.
Toda essa temática surgiu nos subúrbios do Reino Unido durante a crise econômica no fim de década de 70 e início dos anos 80.
Por isso, num show underground, encontrei uma coerência roqueira num contexto fragmentado e de crise. Buscava verdadeiramente por um show antifascista, com posicionamento político contrário ao autoritarismo e ao racismo; uma banda legitimamente de esquerda.
Sim Richards, “it’s only rock n roll”, but em tempos de onda religiosa tradicionalista, ser presenteado com uma banda ANTIFA soa como um acontecimento revigorante.
Quando saí do CIRE com um sorriso no rosto, também observei outras pessoas com a mesma sensação. “A arte funciona!”. É uma corrente de transmissão. A energia do rock de combate é muito mais forte que qualquer falso moralismo lançado ao vento. Os megawatts de dissonâncias rebeldes emitidas através de acordes eletrizantes equalizaram minhas ideias.
Não há valor, não se calcula o megawatts/hora nesses momentos. A área alagada de fragmentos que minha usina cerebral necessita para funcionar foi ligada por uma chuva de versos políticos e libertários.
Mas então… aí lembro novamente que é o mês do rock. Este julho de 2015 já está marcado para sempre como o mês do último show do Gratefull Dead. Acho que “só” por isso 2015 torna-se mais conservador… mesmo sabendo que a energia dos deadheads não se apagará.
Mas o fato é: neste mês do rock não precisei me referenciar pelo álbum High Voltage do AC/DC, por exemplo. Não usei o clássico; eu sei que eles sempre estarão por aí. Também me recuso a recorrer ao “hoje é dia de rock bebê”, da Christiane Torloni.
Não tem nada disso. Sem clichê. A minha luz brilhou quando fui levado pelo som ao lugar onde os urubus plainam… e como um forte vento zunindo no ouvido de uma elite conservadora, cantei “NÃO” ao preconceito e ao fascismo… isso sim é rock.
Por Régis Luis Cardoso
Terra Sem Males