Artigo sugerido por Luiz Rodrigues
Por Celso José de Brum(*)
Disse, no meu artigo da semana passada, que a direita se repete. Fez o que fez contra Getúlio Vargas, até colocar uma bala no seu coração. Depois, fez o mesmo contra Juscelino Kubitschek, as mesmas acusações e calúnias e a mesma conspiração. Nos anos 60 do século XX, conspirou contra João Goulart, até conseguir sua deposição e a instalação da ditadura militar. Nem Vargas, nem JK, nem Goulart eram de esquerda, eram apenas progressistas. A esquerda chegou ao governo com Lula e, agora, com Dilma Rousseff. Não é aquela esquerda que vai chutar o balde e botar fogo na caixa d’água. É uma esquerda plausível, que opera dentro do sistema capitalista. A direita não esperava e não contava com o sucesso dessa esquerda. Esperava o caos e, consequentemente, a volta dos seus corifeus ao poder, e quem sabe com o retorno da monarquia, sendo aclamado Fernando Henrique 1º como imperador, ou, quem sabe com a recidiva da ditadura militar. E que Deus tivesse piedade de nós!!! Enfim, a direita até suporta a Democracia, desde que ela esteja no poder. Não estando no poder, a direita conspira alucinadamente, só pensa naquilo, ou seja, só pensa no golpe. A direita é, pois, altamente previsível. É admirável que a esquerda não esteja sendo capaz de antecipar suas maquinações conspiratórias.
Além da “grande imprensa”, seu principal instrumento de ação, a direita usa tudo (tudo mesmo, sem escrúpulos e restrições) ao seu alcance, desde seu pequeno, porém, poderosíssimo contingente argentário, até a grande massa amorfa de inocentes úteis, como tem acontecido nas recentes manifestações populares. E a direita, tem usado muito bem – para seu intento nem um pouco éticos – a internet. Aliás, a internet se dirige – salvo raríssimas exceções – aos instintos, quase nunca à reflexão e à inteligência. Tudo o que recebo, dos meus mui amigos, contra o Lula, a Dilma e o PT, é aquela baixaria aquele xingamento desarrazoado ou aquelas invencionices ridículas. E tudo o recebo, dos meus amigos à favor do Lula, da Dilma e do PT, são longos artigos, com ponderações extensivas, só lidas por pessoas que já estão a favor. Enfim, a internet funciona com aquelas mensagens curtas e incisivas, como baixarias, xingamentos e calúnias, coisas que direitistas fazem com grande competência.
E vamos reconhecer: a permanente “pauleira”, da “grande imprensa” e da internet, está obtendo o resultado desejado pela direita, é o que dizem as recentes pesquisas.
Ora, o Brasil nessa crise de 2008 até agora, é uma das poucas ilhas de estabilidade econômica em todo o mundo: a inflação está controlada (embora a “grande imprensa” minta, dizendo o contrário) o índice de desemprego é dos mais baixos do mundo, o salário mínimo tem crescido mais do que a inflação (era de menos 100 dólares, no governo de Fernando Henrique, hoje é de mais de 300 dólares) e a macro-economia tem sido muito bem conduzida, entre outras grandes vantagens, em comparação com os demais países, só não vê quem não quer ver.
Diante desse quadro, real e constatável, não era para ter acontecido a queda na popularidade do governo de Dilma Rousseff.
Eu fico imaginando que, nesta altura dos acontecimentos, os cardeais do PT devem estar arrancando os cabelos, para entender as manifestações populares e para planejar o que fazer. Tenho ouvido muitos palpites sobre as recentes manifestações e suas consequências na popularidade dos políticos com mandatos. A opinião, deste obscuro ex-professor de Sociologia, é que a incessante pregação da direita, via “grande imprensa” e via internet, foi ao encontro de nebulosas insatisfações e as manifestações de rua tornaram-se o canal para expressá-las. No mais, comportamento de massa. Isso num primeiro momento. A partir daí, a direita tratou de operar, com grande competência, as demais manifestações, menos essa última, a dos sindicalistas.
O que fazer! É simples: é preciso reinventar a roda. Em primeiro lugar, o PT tem que voltar às suas origens, relembrar como constituiu-se o único partido com bases verdadeiramente populares, ao contrário dos demais partidos, sempre originários dos conchavos e acordos dos políticos, aos quais a patuleia simplesmente deveria aderir. Para voltar às origens, o PT tem que calçar as sandálias da humildade e botar a tigrada na rua.
É bem verdade que a antiga pregação do PT ficou prejudicada pelo chamado mensalão. Aliás, diga-se de passagem, quanto ao chamado mensalão, o PT errou do primeiro ao quinto. Com muito mais, com o escancarado e mais do que explícito escândalo na votação, no Congresso, da lei da reeleição, que favoreceu Fernando Henrique, este conseguiu “tirar de Letra” todo aquele baita problemão e, com o apoio da “grande imprensa”, ficou tudo como o diabo gosta e não se falou mais do assunto. No caso do chamado mensalão, a única coisa que o PT fez – para usar uma comparação com a luta de boxe – foi ficar no canto do ringue, tomando pancada sem parar.
E o chamado mensalão continua sendo o principal argumento da direita contra o PT. Essa paralisia do PT, quem sabe, foi tática dos advogados, mas, haviam outras alternativas. Sem dúvida nenhuma, o PT tem que oferecer a sua explicação sobre esta tremenda pedra no seu caminho: existem meios para isso.
O PT tem uma imensidade de realizações em seus 10 anos e meio de governo e tem tido enorme dificuldade de fazer justo alarde desse seu patrimônio. Ainda outro dia, encontrei com um grande amigo. Ele não é da esquerda, mas, é uma pessoa de boa-vontade. Ele falou com simpatia das recentes manifestações de rua. Fiz-lhe algumas observações pontuais. Então, ele me disse: “Mas, você não acha que o PT deveria fazer alguma coisa extraordinária?!” Respondi-lhe “O PT já fez. Não é possível que você não tenha visto. Tirar 30 milhões de pessoas da pobreza extrema e trazer 36 milhões para a classe média, isso não é verdadeiramente extraordinário?! Isso em apenas 8 anos, sem traumas, observando-se rigorosamente a ordem vigente! Saiba, meu caro amigo, eu não tenho conhecimento de fato semelhante, na história mundial”.
O PT tem o que dizer e não está sabendo fazê-lo.
A direita nunca esteve tão articulada e as esquerdas – pelo bem do Brasil e do povo brasileiro – precisa estabelecer uma estratégia para enfrentar essa direita golpista.
É incrível que, com tantos profissionais talentosos, as esquerdas não tenham um jornal de repercussão nacional, para noticiar o que acontece de bom em nosso Brasil – sil – sil e para dar uma versão diferente dos noticiários do cartel da “grande imprensa”, direitista e golpista. Esse jornal das esquerdas era e é absolutamente necessário e tem feito muita falta.
No mais, é preciso achar um canal de comunicação com a juventude que não sabe ainda como que é cínica e farisaica essa direita e também não sabe o horror que foi a ditadura militar, produzida pela direita. Essa juventude precisa ser informada das mudanças promovidas no Brasil pelos governos do PT. E o povão precisa ser lembrado que essas mudanças precisam ser preservadas.
O PT precisa falar aos corações e mentes. Nenhum partido, melhor do que o PT pode fazer isso. Há uma maneira antiga, singela e eficiente, aliás, eficientíssima, de conseguir esse intento necessário e urgente. É uma autêntica reinvenção da roda, sobre a qual falarei, com mais detalhes, numa próxima oportunidade. Por hoje, é só.
(*) Celso José de Brum,ex- professor de Sociologia e Estudo dos Problemas Brasileiros, da Unitau
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