Luiz Ayrão fez o show de encerramento do carnaval de Serra Negra, nesta terça-feira (17), para umas 5 mil pessoas, na praça João Zelante.
Um show que misturou velhos sambas, marchas-ranchos, marchinhas, sambas-enredo consagrados, jovem guarda - e o fino do discurso político reacionário, esse que criminaliza o PT e pede o "impitimam" da presidenta Dilma.
Ayrão está meio fora de forma.
´
Em muitas músicas, marchinhas simples como "Mamãe eu Quero", ele teve de se socorrer de seu violonista e principal backing vocal para achar o tom.
Em várias outras simplesmente desafinou.
Mas se tivesse ficado apenas na desafinação musical, tudo bem. A plateia não estava nem aí com isso, mas sim preocupada em esvaziar latas e mais latas de cerveja.
O problema é que Ayrão desafinou também no seu discurso político-partidário-antipetista.
Perdeu o tom, por exemplo, quando resolveu falar da "pujança" de São Paulo, no meio da obra-prima "Aquarela Brasileira", de Silas de Oliveira.
"Vocês sabiam que São Paulo é responsável por 43% do PIB brasileiro e o Estado só recebe de volta 16%?", perguntou à plateia.
"Isso precisa mudar, nossos governantes precisam ver isso", completou.
Pois é, Ayrão não sabe, mas isso já mudou bastante.
São Paulo talvez fosse responsável por 43% do PIB do Brasil no tempo em que ele compôs suas primeiras músicas, para a turma da Jovem Guarda, lá em meados dos anos 60.
Hoje, a participação de São Paulo está na faixa dos 36%.
Quanto a essa história de receber só 16%, talvez ele estivesse se referindo à porcentagem de impostos federais que voltam ao Estado, um número que foi divulgado pelo pessoal da oposição na campanha presidencial - e que é um chute como outro qualquer.
Depois dessa derrapada feia, Ayrão cometeu outra ainda pior, lá pelo fim do show, quando deixou de cantar para discursar contra o PT e a presidenta Dilma.
Foi na hora dos inevitáveis - pelo menos em Serra Negra - agradecimentos, ao prefeito, aos secretários, ao público, aos guardinhas, às mães dos guardinhas...
"O prefeito Bimbo é de que partido? Não é do PT, não é? É do PMDB? Não? Ah, é do PSDB... Ainda bem, é o partido do Aécio, aquele mineirinho bom..."
Na verdade, Bimbo é filiado ao DEM.
Ficasse nisso, a batucada de sua banda ainda compensaria a sua voz desgastada pelos seus 73 anos de vida.
Mas ele exagerou em seguida.
"Dizem que o palco não é lugar para política, mas eu não posso deixar de lembrar que no dia 15 de março o Brasil vai sair às ruas para dizer que não aguenta mais tudo que está aí. E eu também vou pra rua, com minha netinha, contra esse governo."
Meia dúzia na plateia o apoiou, de alguma forma, gritando, assobiando ou simplesmente arrotando cerveja.
O restante continuou na bagunça, nem sequer prestou atenção ao seu discurso.
No pot-pourri de marchinhas que encerrou o show, a cantada com mais empolgação pela praça foi "Coração Corintiano", o time de Lula.