Uma das melhores maneiras de conhecer o caráter de uma pessoa é ver como ela trata os outros, principalmente os seus subordinados.
Tive uma chefe que era durona, falava grosso com todo mundo, até com seus superiores, mas mostrava muito respeito pelos office boys da redação.
Em compensação, havia um outro sujeito que vivia gritando com aquela rapaziada simpática e prestativa.
Um dos diretores de redação do Estadão com quem trabalhei era admirado justamente pelo fato de que não olhava os outros, especialmente os funcionários mais humildes, com superioridade.
Cumprimentava todos, conversava com eles como se estivesse numa mesa de bar, se interessava - ou fingia se interessar - pelo que o pessoal dizia.
Depois que saiu do jornal fez uma exitosa carreira como executivo de multinacionais - e chegou até a ministro de Estado do governo Lula.
Apesar de todos os avanços sociais e econômicos dos últimos anos, muita gente ainda pensa que está vivendo no passado, quando havia uma estratificação muito nítida na sociedade - ricos, classe média e pobres, a grande maioria.
A classe média adulava os ricos, sonhava levar o seu estilo de vida, e descontava suas frustrações nos pobres, tratando-os como seres inferiores.
Quem é da minha faixa de idade sabe do que falo.
Empregada doméstica não podia nem andar no elevador social.
Havia até mesmo aquelas que trabalhavam em tempo integral, moravam na casa dos patrões, dormiam em cubículos, comiam as sobras das refeições e se vestiam com as roupas velhas da patroa.
Isso nas cidades.
No campo as condições dos pobres eram ainda mais duras.
Quando me recordo desse tempo até que entendo a revolta de algumas pessoas, expressa em cartazes das manifestações de rua e em textos nas redes sociais, contra o governo federal trabalhista.
O fato é que o Brasil mudou muito rapidamente, promoveu uma ascensão social para dezenas de milhões de pessoas, e isso mexeu com a cabeça de muita gente, saudosa daquele tempo em que cada um sabia o seu lugar.
Casa Grande e Senzala, não é esse o título da obra-prima de Gilberto Freyre, e que tão bem resume as relações sociais de um Brasil ainda em formação?
Um alemão barbudo também se dedicou a esse tema e deu a esse fenômeno que se observa com tanta intensidade no país o nome de "luta de classes".
Isso no campo da sociologia.
Na esfera individual, trata-se apenas de respeito ao próximo.
Que falta que ele faz!
Motta
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