O relato do que foi uma reunião do presidenciável tucano Aécio Neves com empresários, na casa de João Dória Jr., aquele esperto misto de apresentador de TV e organizador de eventos, feito pela colunista Mônica Bergamo, da Folha, nos causa uma mistura de sentimentos: desalento, perplexidade, constrangimento...
Segundo a jornalista, Aécio foi apresentado por Dória como "um dos mais valorosos nomes da política brasileira, o novo."
Aplausos.
E a colunista informa, então, que foi apenas quando Dória anunciou a presença do ex-presidente FHC que os convidados realmente vibraram, a ponto de se levantarem para aplaudir de pé aquele que, segundo o organizador do evento, é um "exemplo de homem público, de ser humano, de brasilidade, de estadista".
A jornalista conta que Aécio falou aos presentes tendo ao seu lado Armínio Fraga, que foi presidente do BC no governo FHC, para dar um exemplo de quem serão os seus auxiliares: "Ninguém tem o time que nós temos. Ele dará confiança ao mercado."
O ponto alto do relato é quando, segundo a colunista, Aécio diz que fará tudo "o que precisa ser feito", se puder "no primeiro dia" de seu governo, não importa que medidas sejam, "por mais que elas sejam impopulares", pois sua ambição é fazer o "melhor governo da história".
E por aí vai.
Ninguém contesta o fato de que Aécio e Dudu Beleza detêm 99,9% da preferência do empresariado na disputa presidencial.
Até aí, tudo bem, fica claro que eles são os candidatos dos endinheirados, dos ricos, da oligarquia.
O que não dá para entender, porém, é a causa dessa preferência esmagadora.
O governo FHC, que Aécio pretende reeditar, até resgatando do ostracismo figuras como Armínio Fraga, foi péssimo para os empresários, de modo geral, principalmente se comparado ao período posterior, dos trabalhistas.
Os bancos nunca ganharam tanto dinheiro como nos últimos dez anos.
A impressionante ampliação do mercado de consumo proporcionou ganhos relevantes para o comércio e o setor de serviços.
A construção civil recebeu uma injeção de investimentos na veia, com o Minha casa, Minha Vida e as obras do PAC e da Copa do Mundo.
A indústria naval ressuscitou e já é a quarta do mundo.
A agroindústria bateu recordes sobre recordes de produção.
Há, sim, alguns setores industriais que vê tendo resultados pífios, mas o governo tem procurado socorrê-los de várias formas.
O BNDES oferece dezenas de linhas de crédito para investimento a juros quase negativos.
A propalada "desindustrialização" da economia brasileira é um fenômeno antigo, não pode ser creditado às ações do governo trabalhista.
Se os nossos empresários tivessem um mínimo de racionalidade, teriam apagado de sua memória o governo FHC, que vendeu a eles a ilusão do real em paridade com o dólar, que não construiu uma obra de infraestrutura sequer, não teve nenhum programa de habitação relevante, criou pouquíssimos empregos, promoveu racionamento de energia, fez questão de manter um mercado de consumo esquálido - aplicou, em suma, a maldita receita neoliberal que levou o planeta à mais séria crise econômica desde o crack da Bolsa de Nova York em 1929.
E eles aplaudem o seu carrasco!
O que explica uma atitude dessas?
Será que é a tal "síndrome de Estocolmo"?
Ou preconceito de classe, ódio patológico, pura canalhice?
Vai saber.
Uma coisa porém, é incontestável: FHC, Aécio, Dudu Beleza e assemelhados têm uma notável atração pelo capital, pelo mercado, por tudo o que eles representam.
E uma aversão incontida pelo povo.
Se formos ver, Dória e sua turma e FHC e seu pessoal foram feitos um para o outro.
Eles se merecem.
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