É incompreensível a resistência das Forças Armadas em admitir seus erros no passado.
Elas foram responsáveis pelo golpe de Estado que destituiu o presidente João Goulart, pela instauração de uma ditadura e por crimes contra a humanidade.
Ponto final.
Isso não é ficção.
É história.
Os sobreviventes do massacre a que foram submetidos aqueles que ousaram lutar contra um regime ilegítimo, despótico e brutal, estão aí para testemunhar - e assim o fizeram, na Comissão Nacional da Verdade - sobre o inferno que viveram naqueles anos de chumbo.
Nenhuma sociedade civilizada pode, simplesmente, se almeja ter esse título, retocar, esconder ou negar momentos de sua história.
O que seria hoje da Alemanha, por exemplo, se ela não tivesse exorcizado os seus demônios?
As Forças Armadas são uma das mais importantes instituições brasileiras.
Não podem, por isso mesmo, insistir em atribuir a si um papel que não lhes cabe, ou seja, interferir em processos instaurados e desenvolvidos pela sociedade civil.
Justamente agora, sob um governo que tem procurado prestigiá-las, dando a elas condições de se reequipar para que voltem a ser uma referência continental, as Forças Armadas deveriam entender o risco para o futuro do país que é perseverar nessa posição intransigente de se recusar a cooperar a restabelecer a verdade histórica e, principalmente, de admitir os crimes que praticaram quando, por duas décadas, comandaram os destinos do país.
Admitir que erraram não é nenhuma vergonha, mas sim uma atitude que elevaria o conceito das Forças Armadas perante os mais de 200 milhões de brasileiros.
Negar a história é uma atitude que rebaixa a instituição ao nível dos criminosos comuns, esses que usam da mentira para se safar das consequências dos atos que praticam.
Motta
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