Não sei se o filme passou nos cinemas brasileiros, mas pode ser visto pelos assinantes do Netflix. Trata-se de La Dictadura Perfecta, escrito e dirigido por Luis Estrada.
É uma sátira devastadora sobre a política, os políticos e o poder dos meios de comunicação, principalmente da televisão.
O espectador pode até duvidar que as barbaridades que ele mostra possam realmente acontecer, seja lá em que país for - no caso, é o México.
Mas que elas são críveis, ah, isso são.
Principalmente para nós, brasileiros, que sabemos muito bem da capacidade de manipulação da imprensa em geral - e da Rede Globo em particular.
Quanto aos políticos...
Bem, os nossos podem agir mais sutilmente que os mexicanos que o filme mostra, mas não há dúvida de que eles são muito semelhantes.
O filme é particularmente interessante para que acompanha o debate interminável sobre o papel dos meios de comunicação numa democracia.
Nele, o governador do Estado mais pobre do México contrata os serviços da mais poderosa emissora de TV mexicana para mudar a sua imagem - praticamente destruída depois que a própria emissora divulgou imagens dele recebendo propina de traficantes.
E a trama segue por aí, revelando como é possível, graças ao poder dos meios de comunicação, transformar o mais absoluto canalha num herói nacional, no salvador da pátria.
É incrível o paralelismo com o Brasil.
Aqui, graças ao trabalho sistemático de uma mídia partidária, com a colaboração de setores institucionais, como o Judiciário, um partido político que ousou mexer minimamente na estrutura social do país, resgatando milhões de pessoas da miséria e levando outros tantos para o meio da pirâmide social, é hoje visto, por muita gente, como uma organização criminosa.
Em La Dictadura Perfecta, o governador somente atinge o topo de sua carreira porque encontra numa organização empresarial, no caso a rede de televisão, um igual.
Ele e a emissora de TV que o glorifica e extermina seus adversários são igualmente corruptos, podres, almas gêmeas destituídas de qualquer traço de virtude.
A semelhança com a situação brasileira não é mera coincidência.
É simplesmente a descrição do modus operandi da oligarquia - seja ela de onde for.