O país inteiro já sabe que a Lava Jato não passa de uma ação coordenada pelos endinheirados de sempre para tirar Dilma Rousseff da Presidência da República, impedir que Lula seja candidato em 2018, e enfraquecer o Partido dos Trabalhadores - e de resto, toda a esquerda brasileira.
Todo mundo sabe disso.
E ninguém faz nada.
Houvesse juízes de verdade e não simulacros vaidosos e arrogantes, líderes políticos corajosos e não mercadores de interesses, houvesse, enfim, autoridades preocupadas em cumprir seu trabalho e não em amealhar mais poder, esse golpe à democracia já estaria abortado e seus perpretadores devidamente punidos.
A única reação que se vê aos sucessivos ataques às garantias constitucionais parte justamente de quem não pode alterar o status quo, mas sim simplesmente denunciá-lo: militantes partidários, lideranças de organizações sindicais e da sociedade civil, raros jornalistas que usam a internet para se comunicar com o público.
Qualquer pessoa com dois neurônios é capaz de perceber que a incipiente democracia brasileira sofre hoje o mais sério ataque desde o fatídico ano de 1964.
O incrível de tudo é que não se vê nenhuma reação forte o suficiente para, ao menos, fazer os lobos esconder os dentes vermelhos de sangue.
Quem poderia se contrapor a esse estupro, miserável, covarde e criminosamente se esconde.
E assiste a assassinatos de reputação diários, a violações ininterruptas da basilar presunção de inocência até prova em contrário, a violações ininterruptas dos processos judiciais, a prisões arbitrárias, sem justificativa plausível e até mesmo à tortura, física e psicológica, de meros suspeitos.
Eu tinha dez anos de idade quando Jango foi deposto e se instaurou no Brasil a Idade das Trevas.
Passei toda a adolescência sem saber o que era uma democracia.
Vi inúmeras vezes meu pai, o capitão Accioly, chegar em casa com o "A Voz da Unidade", o jornal do Partidão, escondido em meio a um volumoso Estadão.
Trabalhei em jornal que publicava suplemento especial no dia 31 de março para louvar a "revolução".
Tive, nos anos de ginásio e colégio, hoje 1º e 2º Graus, um único professor que se preocupava em transmitir aos alunos noções sobre sociologia, política, cidadania, coisas que eram praticamente banidas do currículo escolar de então.
Me formei em jornalismo numa faculdade que não editava nenhum jornal, não tinha estúdio de rádio e de televisão, e prezava muito mais o ensino de teologia que das matérias que poderiam dar alguma formação técnica ou fazer os estudantes refletir sobre o mundo - e o Brasil - de então.
Tinha mais de 30 anos quando vi o Brasil ficar livre dessa névoa que abafou mentes e consciências - e pensei que, finalmente, passaria o resto de minha vida participando da construção de um país mais justo, mais igualitário, capaz de dar mais esperança aos seus cidadãos.
Tolo engano.
As trevas, se um dia se dissiparam aos nossos olhos, apenas haviam se recolhido em lugar inacessível à massa ignara, para, ainda mais fortes, voltar a envenenar tudo e todos, no instante em que a luz parecia que, enfim iria banhar esta terra em que tudo que se planta, dá.
O Brasil acabou.
Viva o Brazil!
Motta
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