Duas reportagens do site em português da "Deutsche Welle", o serviço de informações oficial da Alemanha, mostram que o preconceito racial ou étnico não é, como muitos pensam, exclusividade de países "subdesenvolvidos", ou do "Terceiro Mundo", ou da periferia da Terra, como queiram rotular as nações da linha abaixo do Equador, o Hemisfério Sul.
A Europa, a mãe da civilização ocidental, com tantas contribuições para o desenvolvimento da cultura, arte e ciências é hoje uma região xenófoba, quase racista, tendência que se acelera à medida que os problemas econômicos e a consequente deterioração social se agravam.
As reportagens da DW falam de dois dos principais países europeus, a Alemanha e a França.
"Estudo mostra discriminação contra imigrantes no mercado de trabalho alemão" é a primeira matéria, cujos parágrafos iniciais são os seguintes:
"A Alemanha é uma terra de igualdade de oportunidades, diz-se. Mas quem lê o Estudo do Conselho de Especialistas em Integração e Migração, publicado recentemente, passa a ter sérias dúvidas sobre a afirmação. Seus autores comprovaram que, no país, jovens de origem estrangeira com as mesmas qualificações têm menor chance de obter uma vaga de estágio para alunos de cursos técnicos profissionalizantes do que seus colegas de famílias alemãs. 'Temos na Alemanha um grave problema de discriminação', conclui Jan Schneider, que dirigiu o projeto. Ele está preocupado com o resultado da avaliação de mais de 3.600 candidaturas para vagas em estágios para alunos de cursos profissionalizantes.
'Mesmo tendo as mesmas notas e desempenho, estudantes com sobrenome turco têm chances significativamente menores, do que estudantes de sobrenomes alemães, de serem convidados para uma entrevista para vaga de estágio numa empresa', afirma Schneider.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores conduziram um teste em que um jovem fictício de sobrenome alemão e outro de sobrenome turco se candidatavam aos mesmos estágios em mecatrônica e em administração, destinados a alunos de cursos técnicos.
As candidaturas foram apresentadas a cerca de 1.800 companhias em todo o país. Enquanto os candidatos fictícios com nome alemão receberam um convite para entrevista a cada cinco candidaturas, em média, seus concorrentes fictícios de nomes turcos obtiveram um convite a cada sete tentativas."
Pois é, isso acontece no país que é a quarta maior economia do mundo, o mais poderoso do continente europeu.
Vamos então à França, a terra da liberdade, igualdade e fraternidade:
"A socialista Anne Hidalgo foi escolhida para ser a primeira mulher a ocupar o cargo de prefeita da capital francesa, em uma campanha marcada por controvérsias em relação à sua origem modesta e a uma suposta, segundo críticos, ausência de raízes parisienses", diz, em seu parágrafo inicial, a reportagem da DW "A primeira mulher à frente da prefeitura de Paris", que continua:
"Na França, as eleições do último domingo (31/03) foram marcadas pelos avanços da centro-direita e da extrema direita, que saiu vitoriosa em várias cidades pelo país e pôs em xeque a reeleição do presidente François Hollande.
Mas, apesar das tentativas dos adversários de arranhar sua imagem, os eleitores da capital contrariaram a tendência nacional e elegeram prefeita a filha de imigrantes espanhóis, de 54 anos. (...)
Sua adversária nas eleições, Nathalie Kosciusko-Morizet, declarou durante a campanha que o pleito girava em torno da disputa entre 'uma estrela e uma concierge', devido à origem ibérica de Hidalgo. O termo se refere aos imigrantes, muitas vezes da Espanha ou de Portugal, que trabalham como zeladores nos edifícios de Paris.
Hidalgo rebateu, acusando Kosciusko-Morizet de ser parte de uma 'casta' privilegiada, distante do mundo real, rótulo que acabou marcando a candidata de centro-direita.
Kosciusko-Morizet foi alvo de críticas generalizadas após descrever o metrô de Paris como um 'lugar charmoso', causando revolta entre aqueles que utilizam diariamente o transporte público de Paris."
Pois é.
No Brasil negros e nordestinos são humilhados diariamente, nas mais diversas situações, principalmente pela sociedade "rica" e "culta" do Sul/Sudeste.
Nos Estados Unidos, negros e hispânicos são considerados seres inferiores.
Nos países da Europa Ocidental, estrangeiros recebem tratamento de segunda classe.
E assim caminha a humanidade, em meio ao ódio contra o diferente e à discriminação contra quem fala outra língua ou tem a pele mais escura.
O maior problema do homem, definitivamente, é o próprio homem.
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