Jessé Souza: "Quase nunca no Brasil o Estado foi posto a serviço da maioria" |
Naquela ocasião, segundo Jessé, decidiu-se governar para apenas 20% da população. Agora, disse, "temos a chance de manter a ascensão social de parcelas da população tradicionalmente esquecidas". Segundo explicou, "não montamos uma nova classe média, mas foi possível operar uma ascensão significativa, uma inclusão desses excluídos no mercado econômico competitivo, na vida cultural, no consumo". Para ele, o Brasil corre o risco de voltar a ser "uma sociedade dos 20% e, com isso, "a gente perde o que foi conquistado".
Dias antes, na segunda-feira, 16, em entrevista para o programa "Brasilianas.org", apresentado pelo jornalista Luis Nassif no canal TV Brasil, o presidente do Ipea criticou concepções equivocadas sobre o povo brasileiro que foram disseminadas e replicadas por sociólogos como Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro e Fernando Henrique Cardoso.
E também falou sobre a situação atual do país, argumentando que “houve uma modernização do golpe de Estado”, tornado jurídico, "e que a elite brasileira quer mandar sem ter voto". Jessé tratou de temas que estão em seu novo livro, "A Tolice da Inteligência Brasileira", que será lançado neste mês.
Em outra entrevista, para a revista "Carta Capital" nº 876, Jessé afirmou que, embora não se veja dessa forma, a classe média brasileira é privilegiada por possuir “uma herança invisível, como estímulos emocionais e a capacidade de concentração, algo que os pobres não têm”.
No jornal "O Globo", de domingo, dia 15, Jessé criticou a ideia de que o brasileiro é definido por desonestidade e corrupção, enquanto outras sociedades são vistas como perfeitas.
Mencionou também a falsa dicotomia do mercado “como o reino de todas as virtudes” e o Estado como o oposto disso, ineficiente. “Quase nunca no Brasil o Estado foi posto a serviço da maioria. Eu me lembro de dois momentos históricos, no governo de Getúlio Vargas e no período Lula-Dilma, quando os recursos foram usados também para promover a ascensão das classes populares”, disse.