O jornalista Antônio Augusto de Queiroz, analista político e diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, o Diap, publica, no site da entidade, um interessante e esclarecedor artigo intitulado "Receituário dos neoliberais para a crise".
Nele, lista os principais componentes da fórmula que, segundo essa turma, vai salvar o Brasil da incompetência dos governos trabalhistas - e, por consequência, tirar o Brasil do buraco.
Queiroz abusa da ironia para definir o que é, na verdade, essa receita: "Em lugar de 'uma ponte para o futuro', como essas propostas passaram a ser conhecidas, poderiam ser batizadas como 'passaporte para o período medieval'".
A seguir, a íntegra de seu artigo:
A criatividade neoliberal, frente a crise fiscal, parece inesgotável, com propostas absurdas para atacar as supostas causas primárias dos desajustes e da baixa produtividade no nosso País. Em lugar de “uma ponte para o futuro”, como essas propostas passaram a ser conhecidas, poderiam ser batizadas como “passaporte para o período medieval”.
Entre as medidas sugeridas estão: a) a desindexação geral, b) a desvinculação orçamentária, c) a privatização selvagem, d) a abertura da economia, e) a livre negociação e f) o aumento da idade mínima na aposentadoria.
A proposta de desindexação, segundo essa lógica, alcançaria não apenas os contratos, mas principalmente o salário mínimo e os benefícios previdenciários, cuja atualização passaria a depender da vontade e da disposição do governo de plantão.
A desvinculação orçamentária consistiria na completa eliminação de qualquer percentual de orçamento vinculado a uma despesa específica, como saúde, educação, pessoal, ciência e tecnologia, previdência, etc, cabendo ao governante decidir como aplicar o orçamento, cuja prioridade, dependendo da visão ideológica, poderia ser pagar a dívida pública em lugar de investir em educação ou em infraestrutura.
A privatização selvagem consistiria em abrir mão de toda atividade de Estado que não estivesse voltada para o controle da moeda e da segurança pública, podendo as demais atividades essenciais, como educação e saúde, ainda que com a alocação parcial de recursos púbicos, serem conduzidas pelo setor privado, que ampliaria seu escopo de prestação de serviços ao Estado.
Isso incluiria, naturalmente, abrir mão de empresas como Petrobras, Caixa Econômica, Banco do Brasil, Correios, BNDES, Casa da Moeda, entre outras, além de transferir para a iniciativa privada serviços públicos como transporte, educação, saúde, lazer, previdência etc.
A abertura da economia consistiria, em primeiro lugar, na eliminação de qualquer tratamento prioritário à empresa nacional, assim como na eliminação de qualquer conteúdo nacional ou restrição aos investimentos estrangeiros no País, valendo regras semelhantes às propostas na Área de Livre Comércio das Américas (Alca).
A livre negociação, naturalmente, consistiria na prevalência do negociado sobre o legislado ou mesmo na eliminação do Direito do Trabalho, transferindo para a livre negociação a definição de salários e condições de trabalho por acordo entre trabalhadores e empregadores, sem a interferência ou intervenção do Estado.
Por fim, a instituição de uma idade mínima para a previdência social, tanto do regime geral (INSS) quanto do regime próprio (servidores públicos) superior a 65 anos, algo próximo da expectativa de vida média da população brasileira.
Tem sido isso, grosso modo, o que pregam os neoliberais para enfrentar a crise. Os tópicos aqui detalhados foram apresentados pela consultoria Rosenberg Associados, em palestra para seus clientes. O que foi proposto nessa apresentação não difere muito do que propôs Armínio Fraga em artigo recente em O Globo ou o que propôs o PMDB na proposta batizada de “ponte para o futuro”.
Motta
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