Os dois Brasis, o real e o oficial, na torcida pela seleção: qual é o sincero? (Fotos: Tomaz Silva e Marcello Casal Jr/ABr) |
A torcida brasileira que tem assistido aos jogos da seleção nos estádios protagoniza proezas inimagináveis: manda a presidenta da República, uma avó sexagenária, "tomar no c...", vaia o hino nacional do time adversário, fica calada na maior parte do tempo, sai de casa tão empetecada quanto se fosse a uma festa ou ao shopping center, elege como grito de guerra o insuportável "sou brasileiro..." - entre outras abominações.
Como se fosse uma novidade, a Folha informa que a imensa maioria dos torcedores que estiveram no Mineirão e viram o Brasil vencer o Chile nos pênaltis era formada por brancos das classes A e B.
Juntando essas informações, o que se conclui é que o torcedor característico de futebol, o corintiano, o palmeirense, o flamenguista, está assistindo à Copa pela televisão, em casa, nos bares ou nas praças públicas, longe das "arenas", como os novos estádios estão sendo chamados.
Para ele pouco importa se ela vai influenciar ou não a eleição presidencial, como temem muitos dos falsos entusiastas do futebol.
Ele está mesmo preocupado, ele sofre, ele se agustia, com o fato de Felipão insistir em escalar Fred como centroavante ou com a hipótese de Neymar se machucar seriamente ou tomar mais um cartão amarelo.
A Copa do Mundo, pelo menos nas últimas edições, se tornou um megaevento que transcende o âmbito puramente esportivo.
É um hipernegócio, controlado por uma das mais poderosas empresas transnacionais do mundo, a Fifa.
É também um espetáculo de alcance global, graças à televisão.
Seus protagonistas, claro, são os jogadores, coadjuvados por árbitros e comissões técnicas.
E por uma imensa plateia multicolorida e multiétnica, que extravasa uma alegria contagiante e proporciona as imagens de sonho de qualquer diretor artístico.
Nesse imenso painel, os brasileiros compõem a maioria das peças.
Mas para desgraça dos produtores do grande show, a nossa torcida classe A, em vez de atuar como todas as outras, que procuram fazer o seu papel de incentivadoras de suas seleções, tem apenas exibido para as câmeras o seu imenso déficit cultural, com todas as suas implicações naturais - preconceito, falta de educação, grosseria, intolerância, vulgaridade...
Esta é mesmo a Copa das Copas.
Nos gramados ela estabelece de forma definitiva a primazia do ataque sobre a defesa, da técnica sobre a violência, do talento sobre a mediocridade.
Fora deles, realça a necessidade de o Brasil real, esse dos verdadeiros torcedores que não vão às "arenas", mas sentem na alma a dor do gol do adversário, sobrepujar o Brasil oficial, esse que se fantasia de verde e amarelo, como se usar essas cores o redimisse de sua pequenez cívica.
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