O Cristo Redentor de Serra Negra, abençoando a mata, não o mar. |
Antes disso, quando ainda estávamos morando na capital e dizíamos a nossos amigos sobre a nossa intenção, ouvimos várias vezes a pergunta:
- Será que vocês vão se acostumar?
Ou então:
- Mas o que tem para se fazer lá?
Bem, não só nos acostumamos a viver sem nenhum medo de andar nas ruas, a qualquer hora, ou de ouvir a passarinhada logo de manhã fazer uma festa danada na vizinhança do prédio, ou dos passeios diários pelo centro, como, incrível!, estamos adorando essa nova vida.
É bom dizer que até agora não faltou água em Serra Negra - se bem que a fonte que existe a 200 metros do nosso apartamento secou faz vários meses.
É bom dizer também que Geraldo Alckmin e Aécio Neves tiveram mais de 70% dos votos, que o candidato a deputado estadual mais votado, com quase 80% da preferência, foi um dos filhos de Jesus Chedid, o chefão da família que controla o transporte municipal e intermunicipal, além de outros negócios, em inúmeras cidades do interior, além da vida política de algumas tantas cidades, Serra Negra inclusive.
É bom também dizer que já ouvi comerciantes jurarem que o filho do Lula é dono da patente das tomadas de três pinos e que a recessão (sic) é culpa "daquela mulher".
Ou seja, os serranos são extremamente reacionários, em sua maioria.
Isso não impede, porém, que, no trato, pessoal ou de negócios, sejam educados, cordiais, diria até mesmo, civilizados - uma grande diferença dos paulistanos...
Há pobreza em Serra Negra, mas não vi nenhuma favela e os pedintes são raríssimos.
Como a cidade vive essencialmente do turismo, o comércio, em comparação com os outros municípios da região, é bem forte.
A rua principal, a Coronel Pedro Penteado, é um shopping center ao ar livre.
Não contei, mas nela e em suas galerias deve haver de 400 a 500 lojas de roupas dos mais diversos tipos, calçados, bolsas, produtos alimentícios, brinquedos, artesanato, para qualquer bolso.
Nos fins de semana a Coronel Pedro Penteado fica cheia.
Muitos turistas se hospedam nos hotéis do centro ou nas pousadas ao redor da cidade, mas a maioria faz o chamado "bate e volta": chega de manhã, almoça e vai embora à tarde.
A praça principal, João Zelante, é rodeada de bares, com mesas ao ar livre.
Para o carnaval é esperada a visita de, pelo menos, 20 mil pessoas.
A festa, basicamente, tem quatro palcos: na praça João Zelante, sempre às 5 da tarde, haverá um show. As atrações deste ano são Maria Alcina, Demônios da Garoa, Luiz Ayrão e Luiz Américo. A praça Sesquicentenário, a maior da cidade, onde fica a rodoviária e o miniférico, está reservada para as marchinhas, tocadas pela Lira Serra Negra. O recinto de exposições, conhecido por Casco de Ouro, é onde a molecada curte os axés e sertanejos da vida, e a Avenida Laudo Natel (pois é, Serra Negra não se esqueceu de homenagear o "governador caipira", obediente servo dos ditadores militares) é o palco dos desfiles de blocos e escolas de samba - neste ano, a grande atração é a Mancha Verde - e viva o Palestra!
Estas são apenas algumas observações sobre a cidade que escolhi para viver depois de 25 anos enfrentando a violência paulistana.
Pretendo escrever mais um pouco sobre Serra Negra e as cidades vizinhas, nada profundo, só impressões que colhi neste um ano de vida nas montanhas, que podem ser úteis para quem pensa em se afastar, por exemplo, da loucura paulistana, mas teme não se habituar com uma comunidade menor, mais tranquila e mais pacífica.