Ninguém com ao menos dois neurônios pode, a esta altura do campeonato, desconhecer o fato de que os lava-jatos almejam apenas destruir o Partido dos Trabalhadores, prendendo ou arrebentando, nos sentidos figurativo e literal, suas principais lideranças, com total apoio da Procuradoria-Geral da República, imprensa - um cartel controlado por meia dúzia de famílias -, Judiciário, partidos políticos da direita e extrema-direita, e dos endinheirados.
É muita gente poderosa, um esquema gigantesco que se armou contra a maior agremiação política de esquerda do Brasil.
O desfecho dessa guera está próximo e tudo indica que o PT será mesmo banido do cenário político do país, seja por meio da cassação de seu registro, seja pela prisão de seus dirigentes, seja pela asfixia econômica - isso é o que menos importa.
O que importa é o fato de que uma democracia não pode existir sem que todos os matizes ideológicos estejam nela representados formalmente.
Não há país democrático no mundo onde a esquerda esteja ausente do debate político, social, econômico e eleitoral.
Alguém pode lembrar que nos Estados Unidos apenas dois partidos se alternam no poder, e nenhum deles carrega o mínimo traço de esquerdismo.
Mesmo assim, de quando em quando aparece um Bernie Sanders por lá.
Os golpistas brasileiros, porém, parecem ignorar a realidade e a própria história.
É impossível riscar do mapa o pensamento de milhões de pessoas por meio de decreto.
O PT e os outros partidos de esquerda do país não nasceram por geração espontânea, mas há muitos anos, são frutos de uma árvore que brotou em terras brasileiras no início do século 20 e foi se desenvolvendo pari passu ao aprofundamento da desigualdade social, das injustiças e do fortalecimento da consciência de que o mundo civilizado não comporta mais tais ignomínias.
Destruir o PT e suas lideranças não é só um atentado à democracia.
É uma imensa bobagem - no dia seguinte do espoucar dos champanhes nas comemorações dos endinheirados uma nova agremiação de esquerda estará sendo formada, incorporando dezenas de anos de experiências e uma militância ainda mais consciente de quem são seus adversários e seus inimigos, do jogo que eles jogam, e da necessidade de levar o Brasil ao século 21 para que as próximas gerações possam desfrutar de uma vida com um mínimo de dignidade - e felicidade. (Carlos Motta)