O Dr. Mesóclise é imbatível.
Não existe, em todo o registro histórico do Brasil, um presidente da República tão paspalhão e palerma - para ficar em apenas dois adjetivos - quanto ele.
A sua figura física, personificação, ao vivo e em cores, do Amigo da Onça, a imortal criação de Péricles, ajuda bastante na composição desse singular personagem.
Mas isso pouco importa.
O que distingue mesmo o Dr. Mesóclise de seus antecessores é a sua incrível capacidade de dizer e fazer bobagens - agravada pelo fato de ele ser, como gostam de frisar seus defensores, esses áulicos onipresentes, todo cheio de títulos acadêmicos e coisa e tal, o que demonstra, cabalmente, que nem sempre a educação formal é sinônimo de inteligência.
O Dr. Mesóclise, pode-se dizer, só chegou onde chegou porque no Brasil, como bem, tempos atrás, lembrou o culto Ruy Barbosa, triunfam as nulidades - ou aqueles que vivem pela Lei de Gerson, a que condiciona o sucesso à obtenção de vantagem em tudo.
Resumindo a sua carreira política, o Dr. Mesóclise prosperou graças à sua capacidade, similar a de inúmeros outros seres microscópicos, de viver nas sombras, num ambiente propício à proliferação de atos que, à luz solar, seriam imediatamente desnudados e instantaneamente dissolvidos.
Sua figura pública sempre foi medíocre.
No máximo, a corte de puxa-sacos que o rodeia exaltava a sua capacidade de articulador - seja lá o que isso signifique - e de um sujeito afável, afeito ao diálogo, e respeitoso às leis - um "constitucionalista", diziam, à boca cheia.
Elevado da condição de, como ele próprio se definiu, "vice decorativo", a presidente da República, o Dr. Mesóclise finalmente pôde se apresentar por inteiro ao povo brasileiro.
E a visão foi surpreendente pela insignificância que o personagem adquiriu, mesmo sob a mais pesada maquiagem.
O homem é um fenômeno!
Oscarito, Grande Otelo, Ankito, Costinha, Zé Trindade, grandes atores cômicos brasileiros, expoentes do estilo cinematográfico que ficou conhecido como "chanchada", ou mesmo os geniais Totó, Ugo Tognazzi, Alberto Sordi e Vittorio Gassman, astros maiores da imbatível comédia italiana, são, como dizem popularmente, fichinha perto do Dr. Mesóclise.
Antes de ser um presidente da República, ele é uma piada.
Mas uma piada, convenhamos, de extremo mau gosto. (Carlos Motta)