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Motta

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Tela cheia

Luiza Caspary lança disco acessível à comunidade surda

6 de Outubro de 2018, 10:20 , por segundo clichê - | No one following this article yet.
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Localizadora (ou popularmente, “dubladora”) de games, a cantora Luiza Caspary produz música acessível a surdos e ensurdecidos em seu segundo disco, intitulado ‘Mergulho’. Nove canções autorais e inéditas serão lançadas uma por vez mês a mês nas plataformas de streaming. As faixas ganharão videoclipes com Libras (Língua Brasileira de Sinais) e LSE (Legenda para Surdos e Ensurdecidos) em tela cheia simultaneamente à gesticulação labial da música. O single de estreia ‘Sinais’ já está disponível. Assista ao videoclipe aqui.

Luiza define o álbum como relato biográfico profundo no qual propõe uma “imersão solar e feliz” no cotidiano das pessoas. As letras são em português e a sonoridade transita entre pop, folk, rock, eletrônico e erudito. “Os arranjos são carregados de riffs, mas mantêm a essência minimalista de quando criei as composições apenas com voz e violão”, acrescenta. Produzido pelo gaúcho Lou Schmidt e distribuído pelo Selo Dafne Music, as canções têm participações dos artistas Jair Oliveira, Juliana Strassacapa, Estevão Queiroga, Necka Ayala e Gabriel Von Brixen.

‘Sinais’ foi criado a partir de carta de despedida da avó da artista à família. “Ela foi uma inspiração a todos que cruzavam o seu caminho e deixou uma mensagem carinhosa e reflexiva sobre as respostas que o universo nos dá no abstrato. Escrevi isso numa canção e tive a sorte de ter a letra aprovada por ela ainda em vida”, diz a cantora. Ela complementa: “Serve para qualquer um de nós.”

A estética do videoclipe da música de estreia do álbum transmite a dramaticidade da composição e privilegia as linguagens de comunicação dos surdos e ensurdecidos. A peça mostra Luiza meditando em sofá de uma confortável sala de estar ao mesmo tempo que ela faz a interpretação Libras e a gesticulação labial do canto em um único plano tela cheia, que ainda traz a legenda descritiva. De acordo com a cantora, é nisso que consiste o diferencial do seu trabalho, ao incorporar um novo conceito de pensar acessibilidade de forma mais artística. “Por padrão, a Libras é inserida por meio de uma pequena janela no contexto de um vídeo principal. Quis que a linguagem de sinais ocupasse toda a tela e com isso se tornasse protagonista daquela narrativa”, explica.

Nos demais vídeos, a Libras será conduzida pelas intérpretes Ângela Russo e Naiane Olah, que dividirão o plano principal das cenas com a cantora, conforme referência apresentada no teaser divulgado recentemente no canal do YouTube da Luiza. O trabalho de adaptação das músicas para Libras tem supervisão de Maria Rita de Oliveira e Renata Lé, fãs surdas que acabaram se tornando parceiras profissionais da cantora. “Renata gostou de assistir a um show meu com Libras e audiodescrição e sugeriu que eu também incluísse legendas nas apresentações ao vivo, para que surdos oralizados como ela, que se comunicam por meio da escrita, pudessem me entender”, diz Luiza. A direção dos videoclipes foi feita pela também cantora Rhaissa Bitta e coordenação de pós-produção da mãe da Luiza, a atriz, locutora e audiodescritora Márcia Caspary, que também é membro da ABAD (Associação Brasileira de Audiodescrição).

Foi a influência materna que direcionou o trabalho da Luiza na música acessível. Lançado em 2011, ‘O Caminho Certo’ é o primeiro videoclipe da cantora com propósito inclusivo e um dos pioneiros de um artista brasileiro feito com audiodescrição. Por este trabalho e o fato de ter um site acessível, Luiza foi premiada durante as Paraolimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, pela W3C, organização responsável pelas diretrizes de acessibilidade da internet. “Conviver com pessoas com deficiência me ajudou a compreender que são pessoas que querem ter liberdade e independência. Eu os vejo e a empatia me fez mergulhar nesse universo de silêncio em que eles vivem. Além do objetivo final ser eles, penso que meu é também um incentivo para todos ou ouvintes despertarem a curiosidade para aprender a língua”, afirma Luiza

Baiana de nascimento e moradora de São Paulo, Luiza Caspary ingressou na carreira artística aos oito anos. Fez parte de coro infantil da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, musicais no teatro e de mais de 7 mil campanhas publicitárias veiculadas com a sua voz. O primeiro disco ‘O Caminho Certo’, lançado em 2013, rodou o Brasil e a Europa com canções em português, inglês e espanhol. Luiza já compôs mais de 100 canções que foram utilizadas em repertórios de outros artistas e como trilha sonora de séries de TV e filmes. A artista também atua como dubladora em animações e com localização de games estrangeiros no Brasil. É a voz de personagens como Ellie, do The Last Of Us, Clementine, de The Walking Dead; e Faith, em FarCry 5.

9,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva no Brasil

De acordo com o mais recente Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2010 o Brasil possuía 9,7 milhões de pessoas com algum nível de deficiência auditiva. Isso significa perda bilateral, parcial ou total de quarenta e um decibéis (dB) ou mais – medida que afere a intensidade ou volume dos sons.

“Acredito que esta população tenha aumentado ao longo dos últimos oito anos. E isso nos leva a refletir sobre a quantidade de pessoas que acabam não consumindo arte ou frequentando espaços culturais, na maioria das vezes, pela falta de infraestrutura e do não planejamento de acessibilidade dos espetáculos. Se os espaços fossem pensados para todos, com um desenho universal, as deficiências desapareceriam e a liberdade de ir e vir, que é um direito de todos nós, seria de fato realidade”, opina Luiza

No Brasil há dois instrumentos jurídicos que incentivam, asseguram e regulam a acessibilidade na infraestrutura dos equipamentos culturais e dos produtos artísticos nacionais: o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Capítulo 9), sancionado pela Presidência da República em 2015, e a Instrução Normativa 128/2016, da Agência Nacional do Cinema (Ancine). “A acessibilidade ainda tem um campo imenso a desbravar”, finaliza.

Fonte: http://segundocliche.blogspot.com/2018/10/luiza-caspary-lanca-disco-acessivel.html

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