Em certo ponto da conversa, não lembro por que, ele fez a seguinte observação, que suscitou um interessante debate entre nós:
- Estou percebendo que você é um liberal...
Como neguei de imediato e com veemência, o papo enveredou para a política, tema geralmente limitado, atualmente, a algumas poucas, breves e ofensivas frases: " Você não passa de um petralha" e "fora, Temer" são as mais usuais.
Nós, porém, começamos a falar sobre a política em geral, e mais especificamente, sobre determinados aspectos da sociedade brasileira.
O jovem perguntou se eu conhecia o Partido Novo.
"Já ouvi falar", foi a minha resposta.
Ele então contou que ingressou na agremiação e que provavelmente seria um dos responsáveis pela sigla em sua cidade, Amparo, ao lado de Serra Negra, interior de São Paulo, onde moro.
A partir daí conversamos alguns bons minutos sobre carga tributária, tamanho e funções do Estado, meritocracia, cidadania, essas coisas todas sem pouco valor prático num país onde a Constituição virou um livro jogado num canto qualquer da sala, a acumular poeira, bolor - e traças.
Do papo todo ficou a impressão de que mesmo os jovens mais inteligentes, preparados e bem informados, sofrem de um grave problema, que transcende a sua vontade: estão irremediavelmente contaminados pela ideologia dominante.
Sempre há exceções, é claro.
Mas a maioria não tem mais jeito, é incapaz de se libertar do pensamento de que aquilo que se considera a causa dos maiores males do Brasil é justamente a solução para os seus problemas, de forma geral um Estado indutor de crescimento econômico e redução das monstruosas desigualdades sociais que envergonham o país perante o mundo.
Partido novo, ideias velhíssimas, daquelas que, se aplicadas, vão fazer o jovem publicitário amparense ficar até sem ter como pôr gasolina em seu carro e tomar as suas cervejinhas.
Mas talvez ele tenha salvação: diz que se horrorizou com a informação de que Luciano Huck se filiou ao tal partido e deverá ser candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro.
Até os liberais têm os seus limites. (Carlos Motta)