O golpe de 2016 é muito mais sério do que muitos imaginam, com repercussões de incomensurável gravidade, pois, afinal, ele tem como objetivo destruir tudo o que se fez para trazer o Brasil à civilização, depois que ela foi sepultada pelo golpe de 1964.
Os golpistas não querem apenas o poder pelo poder, ou o poder político, ou o poder econômico, ou o poder para assaltar os cofres públicos.
Eles querem mais - e vão avançar implacavelmente nessa direção.
Eles querem reduzir a pó o esboço de Estado de bem-estar social que os trabalhistas tentaram erguer desde o primeiro governo Lula.
No Brasil deles não cabe a proteção social, a equidade entre as relações trabalhistas, a atuação do Estado para a correção e controle dos desmandos do "mercado", a regulação da atuações dos diversos setores da economia, impedindo a formação de monopólios e cartéis.
No Brasil sonhado por eles haverá uma clara divisão de classes, que pode ser, sinteticamente, reduzida ao binômio Casa Grande - Senzala.
O Brasil deles comportará um mercado consumidor de 20 milhões a 30 milhões de pessoas, pouco mais de 10% da população - como era antes de 2003.
No Brasil deles os direitos das minorias serão esmagados, a cidadania será reduzida a uma noção abstrata para a quase totalidade dos habitantes, o controle da mídia será ainda mais fortalecido pelo cartel que a domina, as seitas religiosas evangélicas aumentarão seu domínio das mentes dos pobres coitados - e a incipiente democracia que o país viveu nos últimos anos será cada vez mais uma lembrança
A articulação da oligarquia para executar o golpe foi um processo lento, caro, e muito bem executado.
A primeira fase, essa de consolidação da ditadura, está quase concluída.
A segunda fase, de exterminar as principais lideranças políticas e sociais do campo progressista, e até mesmo o seu principal partido, o PT, ainda merece mais empenho.
Não há, pelo menos agora, no horizonte, nada que indique a reversão rápida desse quadro.
E, quando um dia isso ocorrer - se ocorrer -, o trabalho para recuperar todas as ruínas do país será longo, muito longo. (Carlos Motta)