Essas práticas de corrupção sempre estiveram presentes nas altas cúpulas do poder. Ressalte-se que grande parte do poder judiciário, por vezes se omitiu ou abafou escândalos de corrupção.
Por Marilza de Melo Foucher – de Paris
A direita e a extrema direita no Brasil, uma das mais corrompidas do mundo, tornaram-se porta-vozes da ética, sem nunca terem praticado um gesto em favor dela na política brasileira.
Os representantes dos setores conservadores, no país; as classes médias tradicionalistas, sempre abusaram dos poderes públicos e aparelharam a máquina pública. Sempre acostumados a sonegar impostos, a fazer “maracutaias” com falsificações de notas fiscais, realizaram investimentos especulativos, depositando seus ganhos nos paraísos fiscais.
Apesar dos ataques sincronizados, o PT conseguiu eleger a maior bancada de parlamentares na CâmaraEssas práticas de corrupção sempre estiveram presentes nas altas cúpulas do poder. Outros protagonistas da falsa moralidade pública são os pastores evangélicos conservadores. Há décadas, jornalistas e promotores tentam provar que os bispos da Igreja Universal do Reino de Deus e igrejas pentecostais semelhantes, Assembleia de Deus entre outras, realizam lavagem de dinheiro e lavagem cerebral de seus adeptos.
Escândalos
Eles usam as doações de fiéis para financiar, de modo fraudulento, a compra de empresas e agigantar um conglomerado de comunicação que tem como principal finalidade ampliar a influência religiosa e política desse ramo evangélico no Brasil. Com anseios totalitários e teocráticos, eles decidiram se lançar na política e formaram um bloco de deputados e senadores da direita mais reacionária do Brasil.
Juntos com a classe hegemônica, eles assumiram um discurso moralista de combate à corrupção. Assinalo aqui todo meu respeito às antigas religiões protestantes do Brasil. Ressalte-se que grande parte do poder judiciário, por vezes se omitiu ou abafou escândalos de corrupção oriundos da elite conservadora detentora do poder econômico e bem representada no parlamento brasileiro.
Os corruptos da
direita e extrema direita
como portadores da ética
A esquerda ficou acuada, na defensiva, em vez de retomar a bandeira de luta que sempre foi sua: a ética na política e a batalha contra a corrupção. Logicamente, alguns membros do PT cometeram erros, não resistindo às facilidades deste mundo corrompido; todavia, esses foram punidos e presos, ao contrário de personalidades ligadas à direita.
A memória da história política brasileira sofre de amnésia… já esqueceu daqueles que estão encobertos pela lama da corrupção. Aqueles intocáveis que num passado recente, compraram votos para garantir reeleição, impediram todas as CPIs e não aceitaram a proposta de fazer a reforma política sobre o financiamento dos partidos.
Entretanto, mesmo sabendo que infelizmente a corrupção é endêmica no Brasil, está em todos os lugares e que não é exclusiva da classe política, a esquerda brasileira deixou a direita imoral e neoliberal se apropriar da agenda na luta contra a corrupção.
Congresso
Todos nós sabemos que a corrupção é um vício social, político e institucional que contamina as relações humanas. Ela deve ser considerada como um dos males mais devastadores da sociedade. Por isso, deve ser tratada em suas raízes e não instilando o ódio para que o poder político seja assimilado pelo povo como sinônimo de corrupção.
O que aconteceu com os membros do PT em 2005/2006 deveria ter servido de alerta para que os partidos de esquerda assumissem uma vasta campanha de educação política sobre o exercício do poder diante de uma máquina administrativa altamente corroída por séculos de corrupção. O renomado ‘mensalão’ foi o nome dado ao escândalo de corrupção política mediante compra de votos de parlamentares no Congresso brasileiro.
Essa prática sempre existiu na política brasileira, entretanto, se esperava que ela fosse abolida pelos governos e base aliada do PT. Para uma grande parte de membros do PT o mensalão só foi denunciado porque atingia o líder máximo da esquerda, José Dirceu, que era o chefe da Casa Civil do governo Lula. Entretanto, para a maioria petista, nada justificaria que o partido que sempre abraçou a bandeira da ética na política tivesse se deixado levar pelo deslumbramento do poder corrompido.
Corrupção
O governo petista e seus aliados de esquerda não souberam aproveitar o momento para realizar uma campanha educativa no sentido de desenvolver uma consciência ética nos cidadãos brasileiros, tão urgente e necessária. Sabemos que a corrupção no serviço público viola um dos princípios mais básicos da ética na política.
Por se tratar do PT, que abraçou de corpo e alma um modo novo de fazer política, o envolvimento de alguns de seus quadros com a corrupção despertou de forma mais intensa uma repulsa da sociedade.
O papel preponderante
da grande mídia na criação
do antipetismo
A chamada grande imprensa brasileira, que de grande não tem nada, tendo em vista sua parcialidade, sempre detestou o cidadão Lula, e o presidente Lula. Ela aproveitou dessa brecha para desenvolver o ódio contra o PT. Não se conhece na história republicana mundial um presidente que tenha sido tão desrespeitado quanto Lula. Nunca se viu tanto racismo, discriminação e ódio na boca de certos políticos e jornalistas.
Tentaram, por todos os meios, impedir que Lula chegasse ao poder. Lula persistiu, foi eleito e reeleito para o desespero deles. Desde então, a mídia tradicional no Brasil passou a praticar uma oposição permanente ao governo, sem nenhuma visão crítica. Foram incapazes de reconhecer que o governo conseguiu desenvolver um bom trabalho de inclusão social, diminuindo consideravelmente as desigualdades no território brasileiro.
O único objetivo era destruir o partido dos trabalhadores, criado por Lula, e colar na história política que ele era o principal responsável pela corrupção brasileira. As fake-news começaram neste período!
Miséria
A grande mídia brasileira principalmente a rede Globo de televisão, onipresente em todos o território nacional e na América Latina, sempre criticou o PT e toda a esquerda brasileira. Ela tudo fez para que Lula não fosse reeleito. Durante os dois mandatos de Lula ela investiu todos os meios possíveis e imagináveis para destruir o partido dos trabalhadores.
Todavia, o governo Lula continuou na sua luta para tirar o Brasil da miséria e manteve sua política de desenvolvimento com inclusão social e deu reconhecimento às minorias invisíveis e discriminadas.
Infelizmente, os políticos e o poder executivo não entenderam que não bastava somente a ampliação dos direitos das minorias e melhoria de condições de vida dos mais pobres. A corrupção não poderia somente ser resolvida a partir da criação de instrumentos institucionais, como fizeram os governos de Lula e Dilma.
Justiça
Para atacar o vírus da corrupção, teriam que reformar o sistema político. A constituição de 1988 dava embasamentos para realizar o plebiscito sobre a reforma política, todavia faltou ousadia. O grande líder da esquerda brasileira, hábil negociador, preferiu não sacudir os esteios de fundação da Casa Grande e continuou acreditando que o Brasil não estava preparado para uma luta de classe.
Lula sempre persistiu na ideia que ele iria reconciliar o Brasil e governar para todos.
Vale ressaltar que o presidente Lula em nenhuma ocasião interveio na justiça brasileira. Desde 2003 o governo Lula reforçou o combate à corrupção criando a Controladoria-Geral da União (CGU), reforçou a estruturação da Polícia Federal, promoveu a autonomia do Ministério Público, entre outras medidas.
Esses instrumentos não foram suficientes para demonstrar que o governo não compactuava com a corrupção, o estrago já estava feito! O Partido dos Trabalhadores pagou pelos seus erros, todos os casos de corrupção durante o governo Lula foram apurados, ao contrário dos casos de corrupção de todos os partidos políticos que foram abafados e não investigados até agora.
Com relação ao poder judiciário, será durante os governos petistas que ele amplia seus poderes, competências e privilégios, mantendo, além do mais, os que detinha antes da redemocratização de 1988.
A evolução do antipetismo
Em novembro de 2006, eu escrevi um artigo que se intitulava: Guerra contra a corrupção ou guerra contra o PT?
“Se tomarmos um pouco de distância ideológica, hoje assistimos um verdadeiro massacre contra o PT enquanto partido e contra o Governo Lula. As acusações disparam sem tempo de réplica para os acusados, guerra é guerra! E nessa guerra o PT aparece já derrotado”.
Dez anos depois o PT volta ao epicentro das acusações! Desta vez, não serão casos isolados de corrupção, trata-se de uma estratégia muito mais elaborada de conquista do poder, onde o combate à corrupção é apenas um pretexto para acusar os governos petistas, como os únicos culpados pela corrupção no Brasil.
A Operação Lava Jato, deflagrada em março de 2014, vai culminar na maior investigação contra a corrupção já realizada no Brasil, envolvendo empresas privadas, estatais e políticos. Essa operação contou com o apoio do governo Dilma Rousseff. Como passar do tempo, a Lava-Jato terá seus métodos questionados, principalmente pela parcialidade do juiz Sergio Moro.
Direita conservadora
Apesar da operação atingir parlamentares de mais de uma dezena de partidos (MDB, PT, PSDB, PSB, SD, PT, DEM, PR, PPS, PSD, PTC e PCdoB), o alvo de suas investigações irá se concentrar no Partido dos Trabalhadores. O ativismo político mediático de Sergio Moro, dos procuradores e juízes vai influenciar no rumo da política nacional. Ela vai acirrar o antipetismo iniciado em 2006.
No Brasil, infelizmente, a extrema direita não teria hoje essa projeção sem o apoio da grande mídia conservadora brasileira, de grande parte do judiciário e de partidos políticos da direita conservadora. Conjuntamente, essas forças se organizaram para confiscar a democracia em nome da luta contra a corrupção. As operações da Lava-Jato foram realizadas de olho no impacto das pesquisas de opinião, onde o ódio coletivo era destilado em uma caçada implacável ao Lula e ao PT.
Os escândalos de corrupção, somados à deterioração da economia mundial e aos desacertos na condução política do governo Dilma vão servir de adubo para estruturar uma vasta campanha de antipetismo. Vimos como as classes médias passaram a ser a tropa de choque da direita, pois foi a categoria social que mais sentiu o impacto da crise no segundo governo de Dilma.
Os governos de esquerda serão culpados pela crise econômica. A mídia conservadora brasileira batia constantemente na mesma tecla: os governos petistas quebraram o Brasil! Desta vez, ela vai ter um efeito devastador! A presidenta Dilma Rousseff vai ser alvo de uma vasta e permanente campanha de desestabilização. Reeleita com mais de 54 milhões de votos, sua eleição foi considerada pela oposição e pela mídia como uma derrota. A oposição vai contestar sua legitimidade.
Acordo nacional
A demissão de Dilma foi um imbróglio político e jurídico maquiavélico, e abriu um período de instabilidade política no Brasil. A direita, a extrema direita e seus aliados, as mídias tradicionais, o mundo dos negócios, juízes conservadores, a bancada evangélica, as classes hegemônicas vão se reorganizar para impedir a continuidade de um projeto político de desenvolvimento com inclusão social e com soberania nacional.
Um grande acordo nacional vai levar ao poder o vice-presidente que traiu todos os compromissos assumidos com o partido dos trabalhadores. O novo Presidente vai desmantelar todos os programas de inclusão social relacionados a direitos humanos, moradia, educação, saúde e trabalho. Esses programas de inclusão social haviam moldado a reputação de Lula e Dilma na cena internacional.
A guerra contra a corrupção, pautada na grande mídia e conectada com a direita neoliberal e extrema direita, foi organizada dentro de uma estratégia política que tinha como alvo o Partido dos Trabalhadores e sua figura emblemática: Lula. Todos os meios de comunicação de massa no Brasil se tornaram parciais. Depois de tramarem o impedimento de Dilma Rousseff, tornaram-se propagandistas da prisão de Lula.
O ex-presidente estava na cabeça de todas as pesquisas e havia enormes chances de passar no primeiro turno. Repentinamente, os piores corruptos e corruptores do Brasil se tornaram moralistas, muitos se tornaram delatores e apontaram seus dedos para o único responsável por toda a perversidade da corrupção brasileira: Lula era o chefe de quadrilha que assaltou a nação brasileira.
A Globo durante anos envenenou o ambiente político, onde a mentira em torno a Lula e sua família circulava como uma verdade absoluta e buscava atingir os telespectadores para desfazer a imagem positiva dos governos de Lula em prol do bem-estar do povo brasileiro.
O resultado dessa histeria punitiva de Sergio Moro apoiado pelo Supremo Tribunal, pelos setores conservadores e midiáticos abriu um caminho para um clima de confrontação e ódio e uma escalada de violência nunca vista no Brasil. Ao atacar somente um partido político e seu líder maior, um espaço foi criado para os falsos paladinos da moralidade e a extrema direita moralista que diz seguir o caminho da verdade e defender os valores como a família, a religião, a disciplina, a autoridade e a ética.
Bolsonaro assumiu a postura do candidato antissistema, mesmo sendo deputado por 28 anos, tendo passado tempo em partidos que depois foram acusados de corrupção.
Luta continua
A Rede Globo e a imprensa conservadora são indiretamente responsáveis pela ascensão da extrema direita no Brasil e a vitória de Bolsonaro. Hoje, certamente, devem estar arrependidos de ter colaborado para a emergência do monstro fascista. Eles hoje são as primeiras vitimas da falta de liberdade de expressão e mais adiante serão vítimas também de censura. Sentirão saudades dos governos Petistas!
Ressalvo que tudo que denunciamos desde o inicio do golpe contra a presidente Dilma e a imparcialidade do Juiz Sergio Moro se confirma: Ele, Sergio Moro, acaba de ser nomeado Ministro da Justiça.
O Partido dos Trabalhadores apesar de todas as artilharias voltadas contra si, conseguiu eleger a maior bancada no congresso nacional e, em alianças, elegeu 11 governadores. Sem dúvida nenhuma, conseguiram realizar uma bela campanha e trazer de volta toda a esquerda brasileira para a batalha contra o fascismo.
A luta continua! E dos erros do passado, as trajetórias politicas ganham novos caminhos.
Marilza de Melo Foucher é economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil, em Paris.