Em 1964, os conspiradores contra a democracia eram conhecidos no seu silêncio e seus objetivos eram claros. Nas ruas, o processo foi conduzido pelos militares, fazendo-se aquilo que interessava às elites e ao capital
Por Maria Fernanda Arruda – do Rio de Janeiro
Entre 1964 e 2016 o Brasil viveu muitas experiências, dos ‘anos de chumbo’ até a inauguração de uma “democracia” consentida. A ditadura ensinou muito, mas não o suficiente. Em 1964 havia um Congresso que foi se dobrando à pressão dos que pretendiam a destituição de João Goulart. Existiam partidos e políticos que vinham em grande parte dos tempos remotos do Estado Novo. Os mesmos sobreviveram para fazer 1985 e a Constituição Cidadã. As portas se abriram em seguida para a modernização trazida pelo neoliberalismo globalizante.

Setores neoconservadores ressuscitam discurso anticomunista. Tomam o golpe de 1964 não como episódio de vergonha para o país, mas como exemplo a ser seguido
Em 1964 os conspiradores contra a democracia eram conhecidos no seu silêncio e seus objetivos eram claros. Nas ruas, o processo foi conduzido pelos militares, fazendo-se aquilo que interessava às elites e ao capital.
Os fazedores do golpe precisaram das luzes de um velho jurista, Francisco Campos, para se “institucionalizarem”, mantendo um Estado como ponto-de-referência, sustentado por uma força imposta e que se intitulava “revolução”.
Democracia ameaçada
O que restou do Estado, das instituições e dos políticos em 2017? O que foi possível fazer foi feito. A que preço? O da autonomia do Banco Central.
Uma geração de políticos, gestada na Ditadura e amadurecida nos anos da “democracia consentida”, pretende sobreviver, obter anistia e prosseguir em sua vida bandoleira. O sistema financeiro continuaria a ser o sistema financeiro.
E o petróleo, entregue às irmãs mafiosas. A herança de Vargas seria terceirizada e aos empresários seria dada a ALCA. Um cenário de papelão substitui a vida pública e o debate político
Fascismo
Não há políticos: há marionetes manipulados por mãos visíveis, sócios de negócios que se fazem, pleiteando-se para isso o aval do Estado. O Estado não pode ser expressão da vontade do povo.
Os idos de Março trazem para nós o convite ao exercício das três virtudes teólogas: fé nas forças de um povo que deseja ser livremente humano; esperança nessas forças, as que não estão institucionalizadas e assim não residem em palácios; e a fraternidade, para que não se responda ao fascismo das velhas e novas elites com a violência intolerante, mas com a firmeza dos que desejam a Nação, não os negócios.
Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil.
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