Os golpistas de 2016 vieram para ficar. Só quem viver verá e poderá contar a nova etapa do Estado de exceção no Brasil
Por Marcio Pochmann – de Brasília:
Após experimentar fase de inédito desenvolvimento com democracia, o país se defronta com a necessidade de realizar reformas, quase sempre postergadas, pois sem as quais, os pilares dos avanços até então alcançados são colocados em xeque.

Os golpistas de 2016 vieram para ficar. Só quem viver verá e poderá contar a nova etapa do Estado de exceção no Brasil
O impasse político exposto torna-se superado com a força da ruptura democrática. Capaz de viabilizar as reformas autoritárias. Em geral contra o povo, por meio da economia política da violência que inverte a fase anterior do inédito desenvolvimento nacional.
Neste sentido, o surto desenvolvimentista alcançado pelo regime democrático na década de 1950. Com a liderança de Getúlio Vargas (1951-1954) e Juscelino Kubistchek (1956-1961). E que contava com emergente protagonismo político das massas populares. Encontrou o impasse político seguinte frente à necessidade de reformas nas bases sustentadoras da bonança anterior.
O governo João Goulart (1961-1964) que apesar de enfraquecido com a renúncia do presidente Jânio Quadros (1961). Após ter perdido sua base de apoio político e social por causa da adoção de uma política econômica recessiva. Ousou mover-se pelas reformas de base para o Brasil da época.
Reformismo de Jango
O reformismo de Jango apostava no aprofundamento da democracia política (introdução do voto dos analfabetos que representavam a metade dos eleitores). E do desenvolvimento com inclusão social (reforma agrária, educacional, tributária e outras). O que possibilitaria diminuir consideravelmente a desigualdade no Brasil.
Mas a aprovação das reformas de base, contudo, tornaria mais difícil a vitória eleitoral da oposição conservadora. Bem como a reforma agrária enfrentaria o poder concentrado do latifúndio e sua enorme bancada no legislativo.
O golpe militar em 1964 pôs fim à experiência do desenvolvimentismo com democracia. A fragmentação política da época e o apoio de parte da sociedade. E de importantes personalidades religiosas (Paulo Evaristo Arns, Hélder Câmara entre outros), políticas (Ulisses Guimarães, Juscelino Kubistchek e outros).
E do jornalismo liberal terminou virando desilusão e arrependimento diante do reconhecimento de que não apenas os militares permaneceriam no poder como aplicariam a economia política da violência.
Ditadura militar
Sim, porque somente com a violência cedida pelo autoritarismo estamental proveniente do judiciário, da polícia e dos gestores públicos. Seria capaz de viabilizar a imposição da política econômica da ditadura militar (1964-1985).
Com isso, a retirada dos direitos sociais e a concentração do ônus das reformas liberais. E do sofrimento da exclusão e maior desigualdade social sobre os ombros da base da pirâmide social.
Com a ruptura democrática que impôs o fim ao segundo governo da presidenta Dilma (2011-2016). As medidas voltadas ao aprofundamento da democracia e do desenvolvimento com inclusão social não apenas foram vetadas. Como, em seu lugar, se impôs um conjunto de reformas neoliberais concomitante com o prolongamento da recessão da economia.
Mas a sua viabilização encontra importante reação. Cada vez mais respondida pela força da violência expressa pelo autoritarismo estamental do judiciário, da polícia e dos gestores públicos.
Desilusão
Novamente a desilusão e o arrependimento de parte dos que inicialmente apoiaram o golpe à democracia em 2016. Começam a aparecer frente ao avanço atual do Estado de exceção. O recente lançamento do ex-presidente FHC para o lugar de Temer a partir de 2017.
Parece equivaler ao movimento dos 8 notáveis do Congresso Nacional (A. Cardoso, D. Krieger, U. Guimarães, M. Rodrigues, P. Sarasate, B. Pinto, P. Aleixo e J. Agripino). Responsável por apresentar proposta de cassação política de 15 anos a equipe de Jango à junta militar de 1964. Que, como se sabe, preferiu a via mais autoritária dos Atos Institucionais para controlar – a ferro e fogo – o poder.
Os golpistas de 2016 vieram para ficar. A economia política da violência mostra cada vez mais a sua cara. Podendo tornar inviável a realização da esperada eleição presidencial de 2018. Só quem viver verá e poderá contar a nova etapa do Estado de exceção no Brasil.
Marcio Pochmann, é professor, economista, político e presidente da Fundação Perseu Abramo.
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