Por Mário Augusto Jakobskind, do Rio de Janeiro:
Que lamentável a informação vinda de Brasília segundo a qual o delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz, foi exonerado da função que exercia naquele órgão. Protógenes agora é ex-delegado.
Mas no futuro, os brasileiros possivelmente vão querer saber qual teria sido o verdadeiro motivo da demissão do delegado que colocou na cadeia o banqueiro Daniel Dantas. Que exorbitou do poder, como alegam os seus detratores que o expulsaram da Polícia Federal, ou apenas por ter cumprido o seu dever?
E quando a história for verdadeiramente contada, o Ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal também será lembrado como o responsável por dois habeas corpus concedidos ao acusado por uma série de picaretagens. Caso Mendes não tivesse entrado no circuito, não seria nenhuma surpresa se Dantas continuasse cumprindo pena de prisão.
Por apenas cumprir o dever, Protógenes já foi acusado de “mau caráter” e “maluco”. E não por acaso que essas adjetivações aumentaram a partir do momento em que o agora ex-delegado prendeu Daniel Dantas.
O banqueiro que não seguiu preso por ação de Gilmar Mendes é acusado há tempos de estar por trás de altas negociatas, não só durante o governo de Fernando Henrique Cardoso como de outros presidentes.
O que aconteceu com Protógenes é uma história triste e o episódio será sempre lembrado como mais uma injustiça contra alguém que simplesmente cumpriu o dever honestamente, ou seja, exercendo a função de delegado da Polícia Federal. E qual será a lembrança que deixará o banqueiro Daniel Dantas? Aliás, onde anda o dito cujo que saiu do noticiário?
A expulsão de Protógenes Queiroz foi pouco divulgada pela mídia hegemônica, que sempre concedeu amplos espaços ao banqueiro Daniel Dantas e procurou evitar maiores divulgações envolvendo as graves acusações. contra ele.
O episódio remete também a um fato divulgado pela ABERT (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), com base em pesquisa feita pela SECOM (Secretaria de Comunicação da Presidência da República).
Divulgou a ABERT que 79% dos telespectadores ligam a televisão para conseguir informação, donde podemos concluir que os brasileiros que se valem desse espaço midiático não estão devidamente informados. Ou melhor, recebem informações que boa parte das vezes segue a orientação dos proprietários de veículos de comunicação que não pregam prego sem estopa, obedecendo ao deus mercado.
De um modo geral, a informação apresentada pelos telejornalões não raramente é manipulada, às vezes de forma sofisticada ou até grosseiramente.
Éxemplos são concretos, além do silêncio relacionado a Daniel Dantas. Na área de política internacional, por exemplo, os recentes acontecimentos na Síria foram e estão sendo divulgados pelos telejornalões com o claro objetivo de demonizar o dirigente da Rússia, Vladimir Putin.
Alguns colunistas de sempre, entre os quais Arnaldo Jabor, nos vários espaços globais, não se conformam com o fato de a Força Aérea russa agir concretamente contra terroristas que assolam o território sírio.
Por sinal, a ação russa de alguma forma deixou os Estados Unidos em maus lençóis. Na retórica, o Presidente Barak Obama e seus seguidores diziam que combatiam o chamado Estado Islâmico (EI). Mas ao mesmo tempo em que os estadunidenses e seus sócios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) diziam que “combatiam os terroristas”, o EI ganhava mais e mais posições em território sírio e de quebra no Iraque, cujo governo consultou Moscou no sentido de agir com a Força Aérea no combate ao terrorismo, fato que não foi noticiado pela mídia hegemônica.
Ao mesmo tempo em que a OTAN divulgava seus bombardeios, o EI ocupava áreas petrolíferas no Iraque. Daí vem a pergunta que não quer calar: para quem o EI vende petróleo? Por que os EUA e a OTAN nunca revelaram quem são os contemplados?
Como se explica o fato de estar se utilizando de armamento moderno proveniente de fabricantes do Ocidente?
Muitas outras dúvidas, totalmente omitidas pelos jornalões e telejornalões ainda estão à espera de esclarecimentos. Como se explica, por exemplo, o fato denunciado por jornalistas do canal Hispan TV segundo a qual a Força Aérea de Israel salvou integrantes do Estado Islâmico que estavam encurralados pelo Exército sírio nas Colinas de Golan? Com os bombardeios israelenses, o EI conseguiu se desvencilhar do cerco. Mas isso não é divulgado nos telejornalões, onde prevalece apenas a versão estadunidense contra a Rússia.
Tais fatos passam longe dos telejornalões, que também manipulam, ultimamente de forma grosseira, informações na área política e econômica. Pelo noticiário diário, o Brasil já caiu no abismo e não tem como se recuperar, omitindo-se o fato de a crise econômica afetar, muitas vezes em grau maior que aqui no Brasil, outros países nos mais diversos quadrantes do planeta.
E assim caminha a mídia hegemônica, que depois de possibilitar amplos espaços, praticamente sem contestações, ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, passa a noticiar com destaque que o governo e o acusado de se valer com a esposa e filha de contas bancárias na Suíça para gastar com as propinas oriundas da Petrobras estão tentando negociar um acordo que resultaria em limpar a barra do acusado. As provas contra eles foram fornecidas pela Justiça suíça.
Ou seja, 79% dos brasileiros que ligam a televisão para se informar recebem noticias enviesadas, que na prática, no caso atual, objetivam visivelmente a continuidade das tentativas de impeachment contra a Presidenta Dilma Rousseff.
Por estas e outras, para que os brasileiros se considerarem realmente informados seria necessário que os canais de televisão oferecessem aos telespectadores outro tipo de noticiário. Ou pelo menos deixar de lado uma vez por todas do esquema do pensamento único.
Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil). Consultor de História do IDEA Programa de TV trasnmitido pelo Canal Universitário de Niterói, Sede UFF – Universidade Federal Fluminense Seus livros mais recentes: Líbia – Barrados na Fronteira; Cuba, Apesar do Bloqueio e Parla , lançado no Rio de Janeiro.
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