Lindbergh lamentou que, futuro ministro do Supremo, Moraes, durante sabatina na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, não tenha se declarado impedido para julgar as ações da Operação Lava Jato
Por Redação – de Brasília
A posse do advogado Alexandre de Moraes como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) representa uma derrota para as investigações em curso na Operação Lava Jato. A crítica à presença do ex-colaborador do presidente de facto, Michel Temer, na pasta da Justiça, é conhecida pela integralidade do Parlamento. Publicamente, todos defendem a ação da Polícia Federal (PF), incluindo aqueles atingidos, frontalmente. Ainda assim, a ampla maioria dos senadores aprovou a indicação de Moraes.
Nesta segunda-feira, em entrevista à Rádio Senado, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) verbalizou a crítica da oposição à escolha. Ele lamentou que, futuro ministro do Supremo, Moraes, durante sabatina na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, não tenha se declarado impedido para julgar as ações da Operação Lava Jato. Ele apontou a proximidade com o PMDB e PSDB, citados nas investigações. Na entrevista, o senador afirmou que a oposição vai mobilizar a sociedade contra as reformas propostas pelo presidente Michel Temer, em especial, as da Previdência e a da legislação trabalhista.
Ouça, adiante, a entrevista do senador Lindbergh Farias:
0224O07 – ENTREVISTA_LINDBERGH_STF
Corrupção
O PMDB, partido de Michel Temer, está com quatro operadores de propinas identificados pela Lava Jato. São eles Jorge e Bruno Luz, João Augusto Henriques e Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano. Os dois primeiros – pai e filho – foram presos na sexta-feira. Ambos são alvo da 38ª fase da operação.
Ao longo de três anos, a Lava Jato alcança o partido que controlava a Diretoria Internacional da Petrobras, no esquema de fatiamento de áreas estratégicas da estatal. À partir de 2007, a legenda também teve participação na área de Abastecimento, junto com o PP.
A legenda e seus principais dirigentes, segundo investigadores da PF, construiu uma complexa e sofisticada máquina de corrupção. O esquema foi instalado na Petrobras por políticos, agentes públicos e empresários. Os operadores da propina foram, nos três anos de apuração, os principais focos dos policiais federais.
É da Diretoria Internacional o estrondoso episódio da compra da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). Sob o negócio, paira a acusação de prejuízo de cerca de R$ 800 milhões, como a do Tribunal de Contas da União (TCU). A Lava Jato tem um inquérito aberto, em que já foram identificados pagamentos de propinas e irregularidades no negócios.
Além da aquisição de refinarias no exterior, a diretoria cota do PMDB cuidava das compras de plataformas de exploração de petróleo fora do Brasil, da aquisição de campos de exploração de petróleo e gás.
Temer e as delações
Fernando Baiano foi o primeiro operador do PMDB preso pela Lava Jato, a concordar com uma delação premiada. Ele foi detido em novembro de 2014, acusado de atuar em nome do ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró.
O lobista fechou em 2015 acordo com a Procuradoria Geral da República (PGR) e conseguiu o direito de cumprir prisão domiciliar – a partir de novembro de 2015 – por suas revelações. Ele citou propinas para o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), para o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB-MA), nos negócios de Pasadena, entre outros.
Ex-Internacional entre 2003 e 2008, Cerveró também fez sua delação premiada, após o operador do PMDB confessar seu envolvimento no esquema e a arrecadação de valores para os políticos do partido – que lhe davam sustentação no cargo.
Agente da corrupção
João Henriques é um ex-executivo da Petrobras, que depois de deixar o cargo passou a atuar como lobista. Além de abrir portas na estatal para empresários, operacionalizava a corrupção de agentes públicos e políticos, para garantir benefícios nas disputas de mercado por contratos.
Henriques foi preso em setembro de 2015, mesmo mês em que Fernando Baiano fechou sua delação premiada com a força-tarefa. Segundo a Lava Jato, ele tinha relação direta com o ex-diretor de Internacional Jorge Zelada. Este está preso desde julho de 2015 e que sucedeu Cerveró no cargo.
Foi das investigações que tinham como alvo os dois operadores ligados ao PMDB que a Lava Jato chegou à Blackout. A 38ª fase levou para a cadeia o mais antigo operadores de propinas da Petrobras. Ele foi citado em delações premiadas como elo da corrupção com medalhões do partido. O lobista está preso desde sábado, 25, no Brasil.
Com ameaças veladas de Eduardo Cunha de virar delator e agora a prisão de mais um operador de propinas do PMDB, as chances de um deles buscar a força-tarefa para fazer revelações aumenta, na avaliação de investigadores.
Resposta
Segundo a assessoria do PMDB, em nota:
“O presidente do PMDB, senador Romero Jucá, afirma que os envolvidos nesta operação “não tem relação com o partido e nunca foram autorizados a falar em nome do PMDB”.
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