Por Redação, com DW – de Berlim:
Desde o início da crise migratória, o governo da Alemanha admitiu não saber o número exato de refugiados acolhidos pelo país . As autoridades não dispõem de “um panorama geral sobre o número de requerentes de asilo em centros de acolhimento”, disse Ole Schröder, Secretério de Estado Parlamentar do Ministério do Interior, segundo a edição desta quinta-feira do jornal Süddeutsche Zeitung.
A informação foi obtida após um questionamento formal enviado pela deputada do Partido Verde Renate Künast ao Ministério do Interior. Künast afirmou ao periódico ser “vergonhoso” que o governo alemão não saiba o número atual de migrantes acolhidos nas instalações de recepção provisória de refugiados no país. “Como é possível que uma política para refugiados funcione, se não há sequer um registro estatístico que funcione”, reclamou a parlamentar oposicionista.
O Ministério do Interior alemão também reconheceu não saber quantas pessoas foram distribuídas entre os municípios alemães. Künast criticou as novas medidas de restrição de asilo determinadas por Berlim e afirmou que o governo deveria se concentrar em “fazer seu trabalho de casa”, ao invés de criar novas regras para restringir o direito dos imigrantes.
O ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, tem sido alvo de críticas nos últimos dias, inclusive dentro do próprio governo, devido a novas regras para requerentes de asilo, sobretudo as que afetam refugiados sírios.
Num debate parlamentar na quarta-feira, ele defendeu sua decisão de voltar a aplicar a chamada”regra de Dublin” para os requerentes de asilo sírios. “Nosso objetivo é retomar os procedimentos ordenados de entrada”, afirmou De Maizière no plenário.
Segundo a decisão, os requerentes de asilo sírios podem ser devolvidos ao Estado pelo qual entraram na UE. Por causa do aumento acentuado no número de refugiados, esse procedimento foi suspenso temporariamente em agosto, em relação aos sírios, e retomado em outubro, ressaltou o ministro.
Os sociais-democratas, que integram a coalizão governamental, reagiram com surpresa, alegando que a decisão foi tomada repentinamente, sem ter recebido aprovação prévia da chancelaria federal e dos parceiros de coalizão.
Despesa com refugiados
O acolhimento de refugiados deverá custar à Alemanha entre 5,9 bilhões e 8,3 bilhões de euros em 2015, afirma um relatório divulgado na quarta-feira por um conselho de economistas alemães que assessora o governo, conhecido como Os Cinco Sábios. Apesar do valor elevado, a despesa não compromete as finanças públicas, garantem.
– Diante da boa situação do orçamento público, esses custos são suportáveis – afirma o grupo de economistas. O relatório também calculou que a despesa alemã com refugiados para 2016 deverá ficar entre 9 bilhões e 14,3 bilhões de euros, dependendo do cenário.
De acordo com o economista Lars Feld, que participou do estudo, na perspectiva atual não serão necessários aumentos de impostos. E, mesmo com as despesas extras devido ao grande número de refugiados, o governo deverá fechar 2016 sem fazer novas dívidas.
O fluxo de refugiados deverá ter um efeito pequeno na conjuntura, inferior a 0,1 ponto percentual, por meio do aumento do consumo e da procura por moradia. Mas, para isso, os especialistas afirmam que as barreiras para que os refugiados trabalhem devem ser reduzidas. Entre as propostas está a aplicação de uma exceção da lei do salário mínimo aos refugiados.
Para alguns grupos, a exceção possibilita ao empregador pagar menos do que os 8,5 euros por hora estipulados pela legislação por um período de seis meses. Os economistas defendem ainda que o período seja elevado para um ano para todos os grupos, incluindo os refugiados.
Além disso, os especialistas afirmam que a imigração terá um impacto também na situação habitacional. A procura por moradias aumentará e, por isso, mais capital privado deveria ser investido nesse setor.
O relatório também prevê um crescimento de 1,7% da economia alemã em 2015 e de 1,6% no ano seguinte. “O bom desenvolvimento econômico deve continuar nos próximos anos”, afirmou o líder do grupo, Christoph Schmidt. Para a zona do euro, os economistas preveem um crescimento de 1,6% em 2015 e de 1,5% em 2016.
Somente neste ano, a maior economia da Europa espera receber entre 800 mil e 1 milhão de requerentes de asilo, o dobro do que em qualquer ano anterior e muito mais do que qualquer outro país da União Europeia.