Teimoso como uma Lula, o mula (ôps, troquei as bolas…) continua insistindo em não admitir os erros crassos que cometeu ou endossou, como:
— ter voltado as costas aos manifestantes de junho/2013 e do #NãoVaiTerCopa enquanto eram massacrados pelas polícias de alguns governadores e tratados com rigor extremo pelo Judiciário dos mesmos estados, o que facilitou a investida da extrema-direita para, assumindo o controle das ruas, desempenhar papel importante na acumulação de forças visando ao impeachment da Dilma;
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Os protestos de 2013 nasceram no campo da esquerda, mas o PT lhes voltou as costas |
— a recusa do PT em fazer autocrítica por, no exercício do poder, haver-se igualado aos partidos convencionais, fisiológicos e corruptos, deixando de ser visto como uma alternativa a eles;
— haver, com a catastrófica política econômica do primeiro governo da gerentona trapalhona, conduzido o Brasil a uma recessão que pavimentou o caminho para a retomada direitista;
— ter entregue a vitória na eleição de 2018, numa bandeja, ao Bozo, pois detonou a possibilidade de união das forças de esquerda contra o inimigo comum ao puxar o tapete de Ciro Gomes e jogou tempo precioso no lixo com a ridícula candidatura fantasma do Lula, cuja rejeição pela Justiça Eleitoral eram favas contadas, só servindo para criar confusão e protelação no nosso campo.
VACILADAS E TIROS NO PÉ – Eis, comentadas por mim, as incontinências verbais nas quais Lula incorreu na entrevista a El País. Elas só serviram para o mundo ficar sabendo que, se o Bozo é um desastre absoluto como presidente, a perspectiva de volta do Lula ao poder leva jeito de tornar-se um desastre relativo:
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Candidatura fantasma: tempo precioso jogado no lixo |
“Quando eu governei, tentaram me convencer de que fosse a um terceiro mandato, e eu disse não, porque sou favorável ao rodízio de poder.
Disse em uma entrevista que todo político começa a acreditar que é imprescindível e insubstituível e começa a virar um pequeno ditador“.
[Papo furado: Lula percebeu que o mandato seguinte seria uma roubada, com uma tempestade econômica se formando e os grandes empresários exigindo a imposição das reformas neoliberais. Então preferiu preservar-se, deixando a adoção das medidas impopulares a cargo da sua pupila e esperando voltar na boa em 2018, após a limpeza de área.]
“Eu era contra a candidatura de Daniel Ortega mais uma vez. A Frente Sandinista tem muita gente para se candidatar. Também fui contra Evo Morales ser candidato –ele já havia feito dois mandatos extraordinários. E o mesmo com Chávez.
Posso ser contra, mas não posso interferir nas decisões de um povo. Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder, e Daniel Ortega não? Por que Margaret Thatcher pode ficar 12 anos no poder, e Chávez não? Por que Felipe González pôde ficar 14 anos no poder?”
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Descontentamento só se deve à instigação imperialista e à ingratidão dos cubanos? |
[Os devotos da democracia burguesa quebrarão as pernas do Lula apontando, entre outros aspectos, o despropósito de ele comparar primeiros-ministros dos parlamentos europeus com presidentes latino-americanos reeleitos em pleitos de cartas marcadas, com gritantes evidências de abuso do poder.
Já para mim, o maior problema é tais regimes autoritários não terem absolutamente nada a ver com os ideais marxistas ou anarquistas.
(Pois estes preveem a diluição do poder entre os trabalhadores, de forma que as decisões sobre seus destinos cada vez mais lhes pertençam, e não sua concentração nas mãos de odiosas nomenklaturas que garantem para si próprias privilégios inacessíveis à maioria da população, eternizando, sob outra forma, a desigualdade e a exploração do homem pelo homem.]
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Soberba do PT é um enorme trunfo para seus inimigos |
“Essas coisas não acontecem só em Cuba, mas no mundo inteiro. A polícia bate em muita gente, é violenta“.
[De novo a relativização daquilo que o PT antes condenava furiosamente nos governos e partidos adversários!
Justificar a proibição de manifestações de protesto e a repressão aos que pensam diferente chega a ser até compreensível no caso de um indivíduo formado na ambiência do coronelismo nordestino e repaginado pelo sindicalismo de resultados aprendido em São Paulo, que jamais conheceu, compreendeu ou optou pela visão revolucionária.
Mas, é simplesmente incompatível com o papel de estrela de um partido que pretende representar uma alternativa ao neofascismo. Para Lula, ditadura ruim é só a dos adversários.
Nem sequer se dá conta de como tal posicionamento conflita com o dos idealistas que querem construir um novo modelo de sociedade, com justiça social e liberdade plena
Nem, tampouco, de quanto ele o aproxima dos detentores do poder, cuja relutância em recuar de suas asneiras é tamanha que destruíram a si próprios, irremediavelmente, na sua guerra insana contra a vacinação.]
Por Celso Lungaretti, jornalista, escritor, ativista preso durante a Ditadura militar, editor do blog Náufrago da Utopia.
Direto da Redação é um fórum de debates publicado no Correio do Brasil pelo jornalista Rui Martins.