O Copom, que agora prevê uma ‘desinflação’ no país, manteve a Selic em 14,25% ao ano — mesmo patamar há mais de um ano — e abandonou a expressão de que não havia espaço para corte de juros, usada nos últimos meses, levando boa parte do mercado a apostar em possível redução na taxa mais cedo que o anteriormente esperado
Por Redação – de Brasília
O Banco Central se diz satisfeito com o progresso nas perspectivas de “desinflação da economia brasileira nos horizontes relevantes para a política monetária”, em ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada nesta terça-feira, mas repetiu que o corte na taxa básica de juros dependerá de fatores que permitam maior confiança no alcance das metas para a inflação, em particular o alvo de 4,5% em 2017.
“Não há fator que seja determinante por si só para as decisões de política monetária. Em outras palavras, nenhum dos fatores constitui condição necessária ou suficiente para uma flexibilização das condições monetárias”, acrescentou a ata.
Na semana passada, o BC manteve a Selic em 14,25% ao ano — mesmo patamar há mais de um ano — e abandonou a expressão de que não havia espaço para corte de juros, usada nos últimos meses, levando boa parte do mercado a apostar em possível redução na taxa mais cedo que o anteriormente esperado, em outubro. Até então, as perspectivas gerais eram de que o movimento de corte viria somente em novembro, último encontro do Copom do ano.
Ao mesmo tempo em que mostrou satisfação sobre as perspectivas de inflação, todos os membros do Copom também demonstraram “preocupação com as expectativas de inflação para 2017” vistas na pesquisa Focus e pelo cenário de mercado, ambas acima do centro da meta de 4,5% pelo IPCA.
Para diminuir os juros, o BC repetiu que deve antes ver avanços em relação à persistência dos efeitos do choque de alimentos na inflação. Também ponderou que componentes do IPCA mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica devem indicar desinflação em velocidade adequada, e que a incerteza sobre os ajustes necessários na economia precisa diminuir, mencionando diretamente as medidas fiscais.
Depois de já ter chamado atenção na semana passada para o fato de índices de preços no atacado indicarem possível arrefecimento do choque de preços de alimentos, com eventual efeito favorável sobre o IPCA, o BC apontou na ata que “é possível que ocorra uma reversão desses preços ao consumidor, diminuindo riscos de efeitos secundários desse choque sobre outros preços na economia”.
Para o Copom, a redução da taxa básica de juros, a Selic, dependerá de fatores que permitam maior confiança no alcance da meta de inflação, principalmente em 2017. A meta de inflação é de 4,5% este ano e em 2017. Essa meta tem, ainda, um limite máximo de 6,5% neste ano, e 6% em 2017. Cabe ao BC perseguir o centro da meta (4,5%) e o principal instrumento usado para influenciar a atividade econômica e, consequentemente, a inflação, é a taxa básica de juros, a Selic. Na última reunião do Copom, a Selic foi mantida em 14,25% ao ano pela nona vez seguida.
Quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumenta a Selic, a finalidade é conter a demanda aquecida e isso gera reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Já quando o Copom reduz os juros básicos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, mas a medida alivia o controle sobre a inflação. Quando mantém os juros, o comitê indica que ajustes anteriores foram suficientes para alcançar os objetivos.
No documento divulgado hoje, o comitê condiciona a redução da Selic a alguns fatores. Um deles é que a persistência dos efeitos de alta dos preços de alimentos seja limitada.
O BC também espera que os componentes do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mais sensíveis à política monetária (decisões sobre a Selic) e à atividade econômica, indiquem desinflação “em velocidade adequada” e que ocorra redução da incerteza sobre a aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia, incluindo as medidas de ajuste fiscal e seus impactos sobre a inflação.
O comitê ressalta que avaliará a evolução da combinação desses fatores para tomar as decisões sobre a Selic.
‘Desinflação’ projetada
As projeções do mercado e do BC para a inflação, neste ano, foram revisadas de aproximadamente 6,75% para em torno de 7,3%. “Não obstante essa elevação, o cenário básico do comitê continua a contemplar a desinflação na economia brasileira nos próximos anos”, diz o documento do Copom.
Para 2017, a desinflação até a meta de 4,5% ocorre somente no cenário feito pelo BC. No cenário de mercado, a projeção está em torno de 5,1%. “Não obstante a desinflação neste cenário ocorrer em velocidade aquém da perseguida pelo comitê, esta projeção recuou 0,2 ponto percentual em relação ao valor projetado na reunião do Copom de julho”, acrescentou o comitê.
As projeções do BC, no chamado cenário de referência, supõem, entre outras hipóteses, taxas de juros e câmbio inalteradas em 14,25% ao ano e R$ 3,2, respectivamente, durante todo o horizonte da estimativa.
No cenário de mercado, são utilizadas projeções para taxa de juros e câmbio na pesquisa Focus, feita pelo BC junto a instituições financeiras. Neste caso, foram consideradas taxa de câmbio em R$ 3,29 e R$ 3,45, ao final de 2016 e 2017, respectivamente, e taxa de juros de 13,75% ao ano e 11,25% ao ano, no final dos mesmos períodos.
Preços administrados
A projeção do Banco Central para o conjunto de preços administrados por contrato e monitorados é de 6,3% em 2016, 0,3 ponto percentual abaixo da estimativa divulgada em julho. Para 2017, a projeção é 5,8%, 0,5 ponto percentual acima da estimativa anterior. “A revisão para 2017 deve-se primordialmente às projeções para aumento de tarifas de energia elétrica (7,7%) e ônibus urbano (6,8%)”, acrescenta o comitê.
Os membros do comitê, formado pela diretoria do BC, concordaram que houve melhora no cenário econômico do país e indicadores recentes mostram evidências um pouco mais claras da estabilização da economia. “Além disso, há sinais de possível retomada gradual da atividade econômica. Essa perspectiva é corroborada pela melhora de indicadores prospectivos da atividade econômica, de dados da produção industrial e de investimento”, destacou o comitê.
O post Ata do Copom aponta progresso na perspectiva de ‘desinflação’ para 2017 apareceu primeiro em Jornal Correio do Brasil.