Após a morte do menino, vítima de uma bala perdida, levou moradores da comunidade a protestar na Avenida Radial Oeste, que chegou a ser fechada na altura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
Por Redação, com ABr – do Rio de Janeiro
Um disparo de arma de fogo matou o menino Ruan Gomes, de 2 anos, na madrugada de hoje (12). Segundo a família, ele foi ferido enquanto dormia com a mãe e a irmã, na casa onde moram, na Favela Metrô Mangueira, Zona Norte do Rio de Janeiro. A mãe, Gabriella Gomes, de 20 anos, afirma que um tiroteio ocorria no Morro da Mangueira por volta das 4h30, quando Ruan foi baleado.

Gabriella conta que acordou com o barulho dos disparos e sentiu um líquido quente na cama, que pensou ser o seu próprio sangue. Quando levantou às pressas para tentar afastar os filhos da janela, ela percebeu que Ruan tinha sido atingido.
— Ele estava sangrando muito. Eu corri para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Saens Peña — relata.
Com a ajuda de um taxista, Gabriella Gomes, de 20 anos, conseguiu chegar à UPA, na Tijuca, de onde a criança foi transferida para o Hospital Souza Aguiar, no centro.
— Ele já chegou lá com os batimentos muito fracos — disse.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, Ruan deu entrada no hospital em estado muito grave e morreu. O caso está sendo investigado pela Divisão de Homicídios da capital, na qual Gabriella prestou depoimento na manhã deste sábado. O corpo de Ruan foi levado ao Instituto Médico-Legal para necropsia, de onde será liberado para o enterro, que a família afirma não ter condições de custear.
— Vou ter que fazer uma vaquinha para enterrar o meu filho — lamenta Gabriella.
Segundo a Polícia Civil, um inquérito foi instaurado para investigar o caso, e agentes foram ao local buscar testemunhas e informações. A Polícia Militar, por meio da Coordenadoria de Polícia Pacificadora, informa que policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Mangueira foram alvo de bandidos enquanto faziam a segurança de pessoas que deixavam um evento na localidade conhecida como Buraco Quente. Os disparos teriam sido na Rua Visconde de Niterói, separada da comunidade Metrô-Mangueira pelos trilhos do trem e do metrô.
Bala e sofrimento
A morte do menino levou moradores da comunidade a protestar na Avenida Radial Oeste, que chegou a ser fechada na altura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. O local já foi palco de protestos em outros momentos porque a Favela Metrô-Mangueira está sendo removida pela prefeitura, que planeja construir um polo automotivo, aproveitando a grande quantidade de oficinas que já existem ali. A favela fica no entorno do Estádio do Maracanã e começou a ser removida em 2011. Moradores chegaram a ser cadastrados e a receber imóveis do Minha Casa, Minha Vida em outros locais, mas as casas voltaram a ser ocupadas por famílias sem moradia.
Em agosto deste ano, a 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu suspender as demolições de casas com crianças e adolescentes. A decisão, no entanto, veio tarde para Gabriella. No início do ano, enquanto visitava o pai em um hospital, ela afirma que agentes públicos demoliram sua casa sem que pudesse reaver os pertences.
– Perdi minha casa com tudo dentro – lamenta.
Mãe de uma amiga de infância de Gabriella, Leyse Nascimento Lisboa, de 43 anos, consolava a jovem na porta do Instituto Médico-Legal e contou parte da história:
— Quando ela chegou, tinham quebrado tudo. Ela foi morar em um quartinho sem nada, só com as crianças, que eram a única coisa que ela tinha. Cada uma foi arrumando uma coisa e uma menina que tinha ido embora deixou a casa para ela morar.
Desempregada desde que nasceu a filha mais velha, Letícia Gomes, de 4 anos, Gabriella recebe uma ajuda mensal de R$ 100 do pai da menina e não tem contato com o de Ruan. Para criar os filhos, ela conta com a ajuda do pai e faz trabalhos informais, ajudada por Leyse.
— Eu tenho uma barraca de cachorro quente e ela me ajuda sexta, sábado e domingo — conta Leyse.
A mãe lembra de quando Gabriella trabalhava grávida de Ruan e também depois que ele nasceu.
— Ela colocava ele dentro do carrinho de bebê e tomava conta enquanto vendia cachorro quente — conclui.