Aliado do presidiário Eduardo Cunha, Serraglio foi anunciado no início da noite passada, mas a decisão de Temer gerou uma forte reação na bancada do PMDB
Por Redação – de Brasíllia
A queda do chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, na noite passada, apenas algumas horas depois de o presidente de facto, Michel Temer, enfrentar uma ameaça de rebelião na bancada do PMDB na Câmara, em protesto contra a escolha do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça, torna ainda mais volátil a situação política no país. Investidores e formadores de opinião acompanham com cautela a cena policial que se desenvolve cada vez mais próxima do Palácio do Planalto.
Aliado do presidiário Eduardo Cunha, Serraglio foi anunciado no início da noite passada, mas a decisão de Temer gerou uma forte reação na bancada peemedebista. Apesar de o partido cobrar mais espaço no governo, o nome do deputado criou mais problemas que soluções.
— Serraglio não é um nome da bancada. Se tentou construir uma unidade em nome do Serraglio, mas depois se fez a escolha sem o aval da bancada, e o presidente acenou com a liderança do governo para o PP. A bancada está muito insatisfeita — disse à agencia inglesa de notícias Reuters um parlamentar do partido. Ele preferiu não se identificar.
Assim que vieram a público as informações de que Serraglio seria o escolhido, as reações peemedebistas começaram. Vice-presidente da Câmara, o deputado Fábio Ramalho (MG), declarou que iria “romper com o governo”.
— Tomei a decisão por causa da questão mineira. Minas tem sido preterido e tem sido muito correto com esse governo. Um Estado que não participa das decisões do governo, não pode também estar participando das votações do governo — afirmou o deputado.
Crise na bancada
Ramalho chegou a conversar com Temer por telefone, mas não mudou de posição. Disse que vai fazer uma “oposição consciente”, mas já avisou que a reforma da Previdência, tema central do governo, não irá passar “do jeito que está”.
Um parlamentar próximo a Ramalho disse que o deputado estava “jogando para a plateia”.
— Ele quis marcar posição — disse a fonte.
Nas conversas durante o dia, Temer se comprometeu a fazer uma reunião com a bancada de Minas depois do Carnaval. A intenção do presidente era mesmo anunciar Serraglio antes do feriado, depois de conseguir contornar a crise na bancada.
Apesar da avaliação de alguns de que é um problema restrito aos peemedebistas mineiros, outros parlamentares aproveitaram o momento de rebelião mineira para levantar outras insatisfações, como o questionamento do espaço do PMDB no governo.
Liderança na Câmara
O fato de Temer ter decidido indicar Aguinaldo Ribeiro (PP) para a liderança do governo na Câmara, no lugar de André Moura (PSC-SE), irritou deputados.
— Vai fortalecer demais o PP, que já tem três ministérios. Está crescendo e crescendo em cima do PMDB. Na véspera de um ano eleitoral, quando os deputados são candidatos — reclamou o parlamentar peemedebista
Na véspera, Temer se reuniu com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, para “recuperar a relação” com Maia, de acordo com uma das fontes, e tentar resolver o xadrez de cargos no Congresso.
Maia, que havia se posicionado contra a criação de um líder da maioria, como pretendia o governo para ter mais cargos a distribuir e acalmar a base aliada, acabou acatando a ideia no encontro com Temer.
A vaga poderia ir para André Moura, que ficaria sem a liderança do governo. Mas, segundo o parlamentar peemedebista, o partido queria aproveitar essa brecha e despachar Aguinaldo Ribeiro para o cargo e ficar com a liderança do governo para poder entregá-la a Lelo Coimbra.
Isolado no Palácio
O Planalto, no entanto, pretende colocar Lelo na liderança da maioria, o que não acalmaria a bancada, segundo fonte.
— O PMDB está há muito tempo longe do núcleo político do governo. Já perdeu a Secretaria de Governo”, disse a fonte. “Isso não acalma nada” —avaliou.
O presidente viaja nesta sexta-feira para a Bahia, onde passa o Carnaval com a família na base naval de Aratu. Ao retornar, enfrentará a nomeação do ajudante nas Relações Exteriores, cargo vago com o pedido de demissão de José Serra. Trata-se de outra defecção marcante para Temer, que se isola cada vez mais no Palácio do Planalto.
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