Sem falar sobre a divulgação de vídeo pornográfico, Bolsonaro diz que pretende cumprir sua missão como presidente.
Por Redação – do Rio de Janeiro
Ao enfrentar a pior crise em seu recém-instalado governo, o presidente Jair Bolsonaro aprofundou, nesta quinta-feira, o fosso que o separa até de seus mais empedernidos eleitores. Nesta manhã, durante cerimônia para comemorar o aniversário do Corpo de Fuzileiros Navais, no Centro do Rio, o radical de extrema direita ressaltou que a democracia e a liberdade dependem apenas do desejo das Forças Armadas, e não dos eleitores, como manda a Constituição do país.
Bolsonaro discursou para o público militar e não explicou a razão porque divulgou vídeo pornográficoEm seu discurso, Bolsonaro diz que pretende cumprir sua missão como presidente “ao lado das pessoas de bem do nosso Brasil; daqueles que amam a pátria, daqueles que respeitam a família; daqueles que querem aproximação com países que têm ideologia semelhante à nossa, daqueles que amam a democracia e a liberdade. E isso, democracia e liberdade só existe quando a sua respectiva Força Armada assim o quer”.
‘Golden shower’
Acompanhado de dois ministros militares, o general Fernando e Silva (Defesa) e general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Bolsonaro não disse porque publicou um vídeo pornográfico, nas redes sociais. O primeiro escalão tem ao todo oito ministro de origem militar e o desconforto nas Forças Armadas aumentou, desde a publicação do episódio em que, para completar, Bolsonaro pergunta “o que é a prática sexual “golden shower”.
Em seu discurso, Bolsonaro também disse que os militares serão atingidos pela reforma da Previdência. Mas fez a ressalva de que serão respeitadas as especificidades de cada Força. Não deu detalhes sobre a mudança nas aposentadorias dos militares, dizendo apenas que ela vai exigir sacrifícios e, ao final do evento, evitou a imprensa.
— O que eu quero dos senhores é sacrifício também, entraremos sim numa nova Previdência que atingirá os militares, mas não deixaremos de lado e não esqueceremos as especificidades de cada Força — disse ele.
O governo já encaminhou ao Congresso a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma da Previdência, e prometeu enviar o projeto de lei referente aos militares até o dia 20 de março.
Parlamentares, no entanto, mostraram resistência em fazer avançar a tramitação da reforma geral enquanto não for enviado pelo governo o projeto que envolve as Forças Armadas.
Muita luta
O evento com militares no Rio foi a primeira agenda oficial de Bolsonaro após a polêmica causada durante o Carnaval por um vídeo controverso publicado pelo presidente no Twitter para criticar as festividades.
— O que eu quero é colocar o Brasil em lugar de destaque que merece no mundo — acrescentou, após ser ridicularizado nos maiores jornais do mundo, por divulgar pornografia.
A reação foi imediata. Políticos da oposição reagiram fortemente ao seu discurso. A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), respondeu a ele dizendo que “a democracia foi conquistada pela luta do povo brasileiro” e que haverá “muita luta para defendê-la, apesar de vc e seus aliados”. O ex-presidenciável Fernando Haddad também ironizou Bolsonaro. E o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), escreveu que ele cometeu “crime de responsabilidade”.
Responsabilidade
De acordo com a dirigente do PT, Bolsonaro “não tem limites na agressividade!”. “A Democracia foi conquistada pela sociedade brasileira. Não é objeto de tutela ou permissão. Terá muita luta pra defendê-la, apesar de vc e seus aliados”, disse a parlamentar no Twitter.
Haddad também criticou a declaração. “Num longo discurso de quatro minutos, Bolsonaro diz a militares que democracia só existe se as Forças Armadas quiserem. Infelizmente, o presidente não atendeu a imprensa para explicar o raciocínio”, disse na mesma rede social.
Valente também repudiou o discurso de Bolsonaro.
“Ele ataca a Constituição que diz ‘Todo poder emana do povo’. Mais uma vez comete crime de responsabilidade e atenta contra a dignidade do cargo. Pior, constrange os militares a assumirem o autoritarismo”, afirmou o congressista no Twitter.