Cuba está em alta. Depois da presença do presidente iraniano, Hassan Rohani, no início desta semana em Havana, será a vez dos primeiros-ministros do Japão e da China visitarem a Cuba
Por Redação, com DW – de Havana
Chefes de governo chinês e japonês visitam Havana para tratar de economia e comércio. Eles querem conquistar posição na ilha, antes que o bloqueio norte-americano seja suspenso. Caso ocorra, Cuba será o destino de empresas dos EUA que buscam o mercado cubano.
Cuba está em alta. Depois da presença do presidente iraniano, Hassan Rohani, no início desta semana em Havana, será a vez dos primeiros-ministros do Japão e da China visitarem a ilha caribenha. É sinal claro do interesse crescente das grandes potências asiáticas por Cuba.
Nesta sexta-feira, Shinzo Abe inicia a primeira visita de um chefe de governo japonês a Cuba. Abre, assim, um novo capítulo nas relações bilaterais, existentes desde 1929. Em maio do ano passado, o ministro do Exterior do Japão, Fumio Kishida, já havia visitado a ilha. Pouco depois de EUA e Cuba daram início à política de aproximação.
Cuba em disputa
Em junho deste ano, o vice-presidente cubano, Miguel Diaz-Canel, esteve em Tóquio. Como em muitos outros países, o realinhamento das relações entre EUA e Cuba, além da nova dinâmica que se instalou por meio da abertura econômica introduzida pelo presidente Raúl Castro, suscitou também no Japão o interesse pela ilha caribenha. Até agora, as relações estavam focadas, sobretudo, na cooperação para o desenvolvimento.
Enquanto a política de distensão avança mais lentamente que muitos esperavam — o bloqueio norte-americano ainda está em vigor, e o resultado das eleições presidenciais em novembro nos EUA ainda é incerto— um forte parceiro econômico como o Japão viria na hora certa para uma economia cubana. A ilha caribenha entrou em dificuldades com a redução do fornecimento de petróleo por parte da aliada Venezuela.
Pontualmente para a visita de Abe, chegou-se a um acordo para a reestruturação da dívida de Cuba junto ao Japão no valor de € 1,5 bilhão. O acordo faz parte das negociações de reescalonamento da dívida com o Clube de Paris. Abre-se, assim, caminho para empréstimos e investimentos japoneses.
Além disso, no contexto da visita, Abe entregou equipamentos médicos aos cubanos, como informou o jornal japonês Nikkei. Intitulada oficialmente como ajuda de desenvolvimento, a entrega é acompanhada da esperança de futuros negócios com tecnologia médico-hospitalar.
Deverá ser instalado um centro de treinamento para médicos cubanos, em que eles serão treinados na tecnologia japonesa. Junto ao turismo e a projetos de infraestrutura, a tecnologia médica é uma das áreas que deverão ser de particular interesse para empresas japonesas.
Mercado com potencial
Em julho, a empresa Mitsubishi abriu um escritório em Havana.
— Tentamos encontrar novas oportunidades de negócios para realizar projetos de infraestrutura, como também novas oportunidades comerciais — afirma o vice-diretor de Estratégias Globais da Mitsubishi, Mitsuyuki Takada.
A chamada Zona Especial (ZE) de Desenvolvimento de Mariel torna-se interessante devido à sua localização estratégica no centro do Caribe. Fica entre os EUA e o Canal do Panamá. A ZE foi instituída há dois anos e meio na cidade portuária, onde são concedidos benefícios fiscais e outras vantagens a investidores estrangeiros.
— Do ponto de vista logístico, o mercado caribenho tem um grande potencial de crescimento — diz Takada.
Apesar das investidas diplomáticas, as relações entre Cuba e o Japão estão longe de ser tão boas quanto as entre Havana e Pequim.
Reformas à vista
Mesmo que esteja bem atrás da Venezuela, a China é o segundo maior parceiro comercial de Cuba. Serve, de certa forma, como um modelo para as reformas econômicas na ilha. Ideologicamente, os dois países estão próximos.
Depois de Abe, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, está sendo esperado nos próximos dias em Cuba. A viagem já foi confirmada, embora ainda não haja uma data certa. Durante a visita do presidente Xi Jinping a Cuba em julho de 2014, foram fechados cerca de 30 acordos. Isso eleva o nível das relações bilaterais, que neste ano completam 56 anos.
Foram acertadas cooperações nas áreas de saúde, biotecnologia, educação, agricultura, energias renováveis e turismo. Também a expansão da infraestrutura de internet está sendo colocada em prática com tecnologia chinesa.
Desde dezembro de 2015, há um voo direto entre Pequim e Havana. O comércio entre os dois países totalizou, no ano passado, quase US$ 1,6 bilhão —um aumento de 50% em relação a 2014. No entanto, existem somente algumas poucas joint-ventures cubano-chinesas. Os investimentos diretos chineses, avaliados em US$ 460 milhões (principalmente no setor de turismo), são relativamente baixos.
A tendência, porém, é crescente. China apoia Cuba principalmente através de empréstimos. Em fevereiro, foram acertadas duas linhas de crédito — elas permitem que Havana compre tratores chineses, que são utilizados na colheita do arroz, além de 240 vagões de trem para o transporte de passageiros. Com dinheiro chinês, o porto de segunda maior cidade da ilha, Santiago de Cuba, está sendo ampliado.
Fala-se em US$ 100 milhões. Nas negociações de Keqiang em Havana, acordos econômicos e de cooperação deverão estar em primeiro plano. Assim como o Japão, a China quer conquistar uma posição na ilha, antes que o bloqueio norte-americano seja suspenso. Tal medida permitirá que as empresas dos EUA se instalem no mercado cubano.
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