Por Celso Lungaretti, de São Paulo

A Marina Silva dificilmente diz coisas importantes, mas desta vez deu uma bola dentro:
“…se de fato os recursos da Petrobras foram usados pela campanha da presidente e do vice-presidente, o correto é que ambos os indicados possam ter o processo anulado“.
Então, crime eleitoral seria uma forma mais branda de o País livrar-se de uma presidente de crassa incompetência, que agarra-se compulsivamente ao cargo mas não tem a mínima ideia do que fazer com ele nem oferece esperança alguma ao povo sofredor, daí estar nos arrastando para a mais terrível depressão econômica em todos os tempos.
Outra significativa vantagem: o descrédito de nosso sistema político aos olhos da cidadania é tamanho que, mais do que nunca, urge dar ao povo a certeza de que a remoção de Dilma atendeu aos interesses maiores dos brasileiros, sem que ninguém possa alegar de que se tratou apenas de uma armação em benefício do PMDB e do PSDB.
Pela via do TSE, uma nova eleição presidencial será realizada num prazo de 90 dias. Uma possibilidade que não deveria assustar o PT, pois poderia escalar seu melhor quadro para a disputa. E o Brasil ficaria sabendo se o prestígio de Lula sobreviveu aos escândalos de corrupção e ao catastrófico desempenho de sua pupila na Presidência.
Mas, parecem ser coisa nossa tanto a relutância em promover as mudanças mais necessárias e prementes –quase sempre postergadas até o elástico estar prestes a arrebentar– quanto a opção pelos pactos de elite nos grandes momentos, reduzindo o povo à condição de eterno coadjuvante.
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Em 2014, o marqueteiro João Santana pareceu um Goebbels redivivo. |
Teríamos uma emancipação de verdade com os inconfidentes, mas acabamos ficando com uma independência pra inglês ver. Sairíamos da ditadura militar pela porta da frente com a aprovação da emenda das diretas-já, mas tivemos de nos resignar com o conluio que garantiu, num colégio eleitoral nauseabundo, a eleição de um presidente inofensivo e de um vice que, até a véspera, era capacho dos militares.
Faremos, pelo menos uma vez, a coisa certa, dando ao povo a chance de corrigir a besteira que cometeu em 2014, quando acreditou cegamente na máquina de propaganda dos discípulos de Goebbels?
Celso Lungaretti, jornalista e escritor, foi resistente à ditadura militar ainda secundarista e participou da Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e processado, escreveu o livro Náufrago da Utopia. Tem um ativo blog com esse mesmo título.Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.