Por Redação, com ABr – do Rio de Janeiro:
Central Única das Favelas (Cufa), no Rio de Janeiro, e pelo Instituto Data Favela, divulgou pesquisa nesta terça-feira revelando que 42% dos mais de 12 milhões de moradores de favelas do país pretendem iniciar o próprio negócio, contra 26% dos demais brasileiros. Elaborada entre os dias 17 e 25 de setembro com 2 mil pessoas nas favelas de todos os estados brasileiros, a consulta indica que 92% dos internautas das favelas utilizam a ferramenta do Facebook.
Fundador do Instituto Data Favela, Renato Meirelles ressaltou que 61% dos moradores das favelas entram na internet, contra 54% do restante da população do Brasil. “A favela é mais conectada”. Como a rede social nas favelas é bem anterior ao surgimento da internet, Meirelles afirmou que “há uma sociabilidade maior do que no asfalto.
Segundo ele, a internet e as redes sociais são uma ferramenta para “potencializar essa relação com as favelas”. De acordo com a pesquisa, os jovens são os mais conectados: 87% das pessoas entre 14 e 18 anos acessam a internet uma vez por semana ou mais.
O uso da internet como ferramenta é importante para os empreendedores das favelas, porque possibilita expandir o negócio para fora das comunidades. Conforme os dados, os negócios que os moradores de favelas têm mais vontade de iniciar são dos segmentos de alimentação, com ênfase para buffets, e de beleza. “Graças às redes sociais, eles conseguem ter clientes de fora das favelas. Isso é importante porque, por mais que as favelas movimentem atualmente R$ 74 bilhões, eles conseguem ter um dinheiro de fora”.
Renato Meirelles lembrou que, durante muitos anos, o único dinheiro de fora da favela era do tráfico de drogas.
– Hoje, as pessoas de fora vão às favelas para contratar buffet de moradores, conhecer restaurantes, salões de beleza ou pet shops. Isso muda a matriz econômica da comunidade e possibilita que a favela passe a contar sua história. É o lado fantástico da Internet –acrescentou.
Capacitação
Durante o evento, a Cufa e o Facebook anunciaram parceria para capacitação dos pequenos e médios empreendedores das favelas. Um dos fundadores da Cufa, Celso Athayde, informou que o projeto será iniciado na capital fluminense, mas deverá se expandir para todo o estado e para o Brasil.
– Na verdade, o empreendedorismo é uma característica muito forte nas favelas. Quando surge a internet nas favelas, as pessoas passam a fazer isso com muito mais força. Elas passam a negociar melhor, a ter mais clientes fora da favela. Passam a transportar coisas – disse Athayde.
De acordo com Athayde, as favelas sempre tiveram uma grande rede social. Segundo ele, a internet acabou potencializando e consolidando essa tendência. Ao constatar o uso do Facebook pela grande maioria dos moradores das favelas, a Cufa percebeu a necessidade de capacitar melhor os pequenos empreendedores locais que usam esse instrumento.
– Essa é uma busca permanente da Cufa. Já temos parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e com a Fundação Dom Cabral. Decidimos estabelecer a parceria com o Facebook, porque isso daria escala ao que já vinha sendo feito. Daremos cursos de capacitação de empreendedorismo com a Universidade Estácio de Sá, que fornecerá a certificação necessária.
Inicialmente, a iniciativa atenderá dez favelas do município do Rio de Janeiro. “Será um grande piloto. A partir daí, expandiremos para todo o Rio de Janeiro e todo o país. É um projeto nacional, começando pelo Rio de Janeiro.”
Conforme Celso Athayde, será montado no viaduto de Madureira, zona norte do município, onde funciona a sede da Cufa, um grande laboratório para receber pessoas das comunidades, atender pequenos empreendedores e pessoas com problemas de deslocamento livre em razão das diferentes facções existentes nas favelas. Também será montado um laboratório itinerante, denominado “Facekombi”, onde os moradores poderão fazer os cursos nas próprias comunidades.
– Levamos todos os equipamentos. Nos juntamos aos empreendedores e mostramos que eles podem usar essa ferramenta, inclusive para ganhar dinheiro – concluiu Athayde.