Ir para o conteúdo

Correio do Brasil

Voltar a CdB
Tela cheia Sugerir um artigo

Cunha rejeita exame de aneurisma e manda recado cifrado para Temer

8 de Fevereiro de 2017, 14:58 , por Jornal Correio do Brasil - | No one following this article yet.
Visualizado 114 vezes

Dono de uma retórica complexa, Cunha teria mandado um recado para Temer, ao desmenti-lo e citar tantas vezes o nome do presidente de facto

 

Por Redação – de Brasília, Curitiba e São Paulo

 

O presidiário e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) recusou-se, na manhã desta quarta-feira, a realizar exame médico capaz de constatar se mentiu, ou não, ao juiz Sérgio Moro quando se disse portador de um aneurisma (anomalia em uma veia no cérebro). Chegou a citar a ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, que morreu devido ao rompimento de um vaso sanguíneo na cabeça, semana passada. E não apenas este trecho do depoimento de Cunha, em juízo, foi colocado em dúvida.

Cunha conseguiu colocar Mário Garnero (foto) na mesma reunião em que Temer disse que nunca esteve

Cunha conseguiu colocar Mário Garnero (foto) na mesma reunião em que Temer disse que nunca esteve

A participação do presidente de facto, Michel Temer, em uma suposta organização criminosa, investigada pela Operação Lava Jato, entre outras, também foi citada na audiência do réu, perante a Justiça Federal do Paraná. Temer teve seu nome citado por mais de uma vez nas declarações do peemedebista. Ao lado do empresário Mário Garnero, Temer teria participado de uma reunião em que estiveram presentes Cunha e o ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves, réu em uma ação que investiga desvios bilionários de recursos públicos, na Caixa Econômica Federal.

Temer sabia

No encontro, segundo Cunha, o então deputado Temer (PMDB-SP), presidente nacional da legenda, à época, falou sobre as nomeações para cargos na Petrobras. Em resposta ao inquérito policial, no entanto, Temer nega que estivesse naquela reunião. Além de desmentir o correligionário, Cunha declarou que havia uma agenda semanal de reuniões dele com Temer e outros líderes do PMDB para “debater e combinar toda situação política”.

— Ele (Temer) participou sim da reunião e foi ele que comunicou a todos nós o que tinha acontecido na reunião, porque não era só o cargo da Petrobrás, era outras várias discussões que aconteciam no PMDB. Tudo era reportado, sabíamos de tudo e de todos — afirmou, perante o juiz Moro.

Assista ao vídeo do depoimento:

Recado

Dono de uma retórica complexa, Cunha teria mandado um recado para Temer, ao desmenti-lo e citar tantas vezes o nome do presidente de facto, que chegou ao cargo após o golpe parlamentar liderado pelo atual interno do sistema penitenciário paranaense. Nas entrelinhas, segundo o senador peemedebista Roberto Requião (PR).

— O Eduardo Cunha deu um recado muito claro para o governo. Ou vocês conseguem me tirar da cadeia, viabilizam que eu possa responder os processos em liberdade, ou eu começo a entregar todo mundo. Ele deixou claro, que para ele, quem comandava as nomeações do PMDB na Petrobras era o Michel Temer — disse o parlamentar, nesta manhã.

Além de desmentir Michel Temer, Eduardo Cunha também chamou a atenção para a ligação do mandatário imposto no golpe de Estado, em curso, com o empresário Mário Garnero, “menino de ouro dos militares”, como era conhecido durante a ditadura de 1964. Em diversas oportunidades, Garnero promoveu eventos nos Estados Unidos com participação do então vice-presidente Michel Temer, que não economizou nas mordomias. O último evento realizado por Garnero que contou com a participação de Temer ocorreu em Nova York em julho do ano passado, quando já havia tomado o Palácio do Planalto.

‘Boca livre’

A indicação para um nome suspeito para ocupar uma diretoria estratégica na Petrobras, por parte de Mario Garnero, não seria um ponto fora da curva. Aproveitando sua proximidade com Temer, no ano passado, Garnero promoveu um encontro entre o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Marcos Pereira e empresários de diversos setores. Convidou-os para um almoço em seu escritório, na sede do Grupo Brasilinvest, em um endereço luxuoso da capital paulista.

Esse mesmo capital político levou o cônsul-geral do Brasil em Nova York (EUA), Seixas Corrêa, a solicitar US$ 45 mil (ou R$ 145 mil) para o custeio de limusines contratadas para a viagem de Temer, em setembro de 2011. O Itamaraty também pagou por cinco noites em uma suíte luxo para Temer e a mulher, Marcela, e outros dez apartamentos duplos e seis simples para a equipe de segurança. O gasto público referia-se à participação do então vice-presidente no “3º Fórum de Desenvolvimento Sustentável”, promovido pelo empresário Mario Garnero.

Segundo a agenda, porém, não havia compromissos oficiais no dia 24 daquele mês, um sábado. No dia seguinte, domingo, o compromisso de Temer foi ir a concerto da Orquestra Filarmônica Bachiana, sob a regência do maestro João Carlos Martins, no Lincoln Center. O citado fórum aconteceu na segunda-feira, ao qual Temer compareceu por um breve período, enquanto a mulher ia às compras em Nova York. Os casais Cunha e Garnero teriam jantado em um restaurante chique, na noite seguinte, antes do retorno ao Brasil, segundo relatos, na época.

Experiência

Mário Garnero tem uma longa e turbulenta carreira nos negócios. Em 1985, envolveu-se no processo que levou à falência o banco Brasilinvest. Processado e banido do mercado financeiro sob a acusação de estelionato, formação de quadrilha e operação fraudulenta pelo desvio de US$ 95 milhões dos clientes de seu banco para contas fantasmas, o empresário transformou-se em sinônimo de crime de colarinho-branco. Condenado a cinco anos de prisão pela Justiça Federal de São Paulo, em 1988, porém, não cumpriu um dia sequer no presídio. Recorreu, em liberdade, e em 1999, em uma das tantas decisões polêmicas do Supremo Tribunal Federal (STF), teve seu processo arquivado.

Os ministros do STF debateram, por cerca de três horas, o processo de Garnero. Dois ministros — Nelson Jobim e Ilmar Galvão — votaram pela declaração da prescrição do crime. A maioria, porém, preferiu limitar a decisão à anulação da denúncia criminal. Dois anos antes do julgamento do STF, em 97, Garnero patrocinou uma viagem a Mônaco de várias autoridades, inclusive três ministros do STF. No ano passado, ele promoveu seminário em Buenos Aires, com a participação de três outros ministros da Corte.

Naquele mesmo ano, Jobim, um dos convivas em Mônaco, pediu vistas ao processo. Na época, ele negou interesse na causa e disse que desconhecia o patrocínio da viagem ao principado. Ainda em 97, Garneiro registrou em cartório uma declaração pública sobre o caso Brasilinvest, em que afirma que foi vítima de uma “reportagem leviana e irresponsável”. Tal declaração embasou os votos no Plenário do STF, que o livraram da cadeia.

Bom anfitrião

Garnero é tido, no meio empresarial, como um anfitrião de primeiríssima. Acolheu por diversas vezes, em sua mansão na capital paulista, ou em almoços requintados, os representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), a nata do capitalismo mundial. Tornou-se, de fato, um dos brasileiros mais bem relacionados do Ocidente. “Mas jamais conseguiu transformar o relacionamento em negócios legítimos. Não tinha a visão do verdadeiro empreendedor. Terminou cercado por parceiros de negócio algo nebulosos”, comenta o jornalista Paulo Henrique Amorim (PHA), apresentador de um jornal na Rede Record de Televisão.

“Acabou se convertendo na bomba relógio que João Batista Figueiredo deixou para Tancredo Neves. Figueiredo impediu Delfim Netto de ajudar Garnero, vaticinando: o Brasilinvest será a Capemi do Tancredo. A razão maior era a presença, no Conselho de Administração, de Aécio Cunha, pai de Aécio e genro de Tancredo. E também de personagens de peso na vida nacional da época, como o presidente da Volkswagen, Wolfgang Sauer. Helio Smidt, da Varig  e o publicitário Mauro Salles”, acrescenta PHA.

E segue:

“Colhi depoimento de Sauer sobre o episódio. E testemunhei o alemão de ferro chorar na minha frente pela traição do amigo Garnero. Percebendo a armadilha, Tancredo incumbiu seu Ministro da Fazenda, Francisco Dornelles, de não facilitar em nada a vida da Brasilinvest. Da derrocada de Garnero, valeu-se Roberto Marinho para tomar-lhe o controle da NEC Telecomunicações.

“Depois disso, continuou a vida tornando-se uma espécie de João Dória Junior internacional. Aos encontros anuais da Brasilinvest comparecia a fina flor do capitalismo – e modelos belíssimas. Aliás, a capacidade de selecionar mulheres era uma das especialidades de Garnero. Ele conseguiu um encontro de Gina Lolobrigida para seu sogro.

“No início do governo Lula, Garnero valeu-se da familiaridade dos tempos de ABC para se aproximar de José Dirceu. Era ainda o poderoso Ministro da Casa Civil. A aproximação lhe rendeu prestígio e bons negócios.

“Graças a ela, conseguiu levar o Instituto do Coração para Brasília. Em um episódio controvertido que estourou tempos depois, com boa dose de escândalo. Aliás, até hoje respondo a um processo maluco do Mário Gorla, o sócio de Garnero no empreendimento. Esteve também por trás dos problemas do Instituto do Coração em São  Paulo.

Vida vazia

“Quando os chineses começaram a desembarcar no Brasil, fui procurado por analistas da embaixada da China. Estavam interessados em informações sobre o país. E me contaram que estavam conversando com um BNDES privado. Indaguei que história era essa. Era o Brasilinvest – na ocasião um mero banco desativado. O imóvel era localizado em uma das torres do conjunto Brasilinvest na Avenida Faria Lima. Não sabiam que Garnero já se desfizera totalmente do patrimônio representado pelas torres. E tinha um banco de fachada.

“Garnero ajudou na aproximação de Dirceu com parte dos empresários norte-americanos. Na véspera do estouro do “mensalão” Dirceu já tinha uma viagem agendada para Nova York organizada por ele.

“Sem conseguir se enganchar no governo Lula, Garnero acabou se dedicando ao setor imobiliário. Os filhos não seguiram sua carreira, internacionalmente brilhante, apesar dos tropeços. Ficaram mais conhecidos pelas conquistas e pela vida vazia. Já o neto consegue seu segundo instante de celebridade. O primeiro foi em um vídeo polêmico, simulando um agarra com o ex-jogador Ronaldo. O segundo, insultando o compositor e escritor Chico Buarque de Hollanda. Aproveitou para fazer uma cena, em frente a um restaurante no Leblon, na Zona Sul do Rio”, conclui.

O post Cunha rejeita exame de aneurisma e manda recado cifrado para Temer apareceu primeiro em Jornal Correio do Brasil.


Fonte: http://www.correiodobrasil.com.br/cunha-rejeita-exame-aneurisma-manda-recado-cifrado-temer/

Rede Correio do Brasil

Mais Notícias